São Paulo, terça-feira, 24 de agosto de 2004

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Empresas aumentam captações com juro menor e recuperação econômica

CÍNTIA CARDOSO
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com os juros em níveis menores do que os praticados há um ano e com a economia mostrando sinais de aquecimento, o mercado de debêntures tem atraído um número maior de empresas.
Neste ano, até a semana passada, o volume captado por esse tipo de operação já é quase igual ao resultado obtido em todo o ano passado. As emissões totais de debêntures estão em R$ 5,13 bilhões neste ano. Ao longo de 2003, somaram R$ 5,28 bilhões.
As debêntures são títulos de dívida que as empresas lançam para captar recursos no mercado interno. Para o investidor, elas representam uma aplicação de renda fixa, por prazo predeterminado.
Para Vivian Figueiredo, economista do SND (Sistema Nacional de Debêntures), há a chance de outros R$ 3 bilhões serem emitidos no próximo trimestre.
No entanto, até o momento, as operações feitas neste ano têm sido destinadas principalmente à rolagem de dívidas. Segundo dados da CVM (Comissões de Valores Mobiliários), 73,42% das empresas que emitiram debêntures neste ano usaram os recursos para alongar o perfil das dívidas. Só 5,04% das emissoras aplicaram esses recursos em investimentos.
Para Figueiredo, essa proporção indica que, apesar de sinais de retomada da economia brasileira, as empresas ainda não têm feito investimentos com vigor. Mas a economista ressalta um aspecto positivo na onda de emissões. "Comparando com os anos de 2002 e 2003, há uma diversificação maior dos setores que têm captado com debêntures", disse.

Captações externas
Já em relação às captações de recursos no exterior, a perspectiva é a de que haja um aumento no número de operações fechadas daqui para o fim do ano. Até o momento, segundo dados compilados pela Global Invest, o setor privado brasileiro captou US$ 5,7 bilhões. A estimativa da consultoria é que, no acumulado de 2004, esse volume chegue a US$ 11 bilhões, abaixo dos US$ 16,05 bilhões registrados no ano passado.
A sensação, dizem analistas, é a de que o pior momento do ano passou. A questão da alta dos juros norte-americanos parece menos nebulosa -dificilmente haverá uma elevação abrupta dos juros no curto prazo. Isso ajudou a tornar o mercado internacional menos avesso a títulos de países emergentes, como o Brasil.
De acordo com Walter Molano, da BCP Securities, esse novo cenário pode trazer boas notícias para a economia brasileira. "Devido à forte melhoria dos fundamentos macroeconômicos, a elevação [da nota de crédito concedidas pelas agências de risco para o Brasil] já está atrasada", escreveu em relatório para investidores. O "upgrade" do Brasil, diz, é uma questão de tempo.
O fato de o risco-país brasileiro ter recuado recentemente para os patamares registrados em março -próximo dos 500 pontos- deve levar o setor privado a procurar com maior interesse o exterior. Em uma captação externa, quanto menor estiver o risco-país, maiores as facilidades e menores os custos para se captar.
Apesar de os juros básicos (taxa Selic, que serve de referência para as demais operações) terem deixado de cair, permanecendo desde o segundo trimestre em 16% ao ano, a taxa é dez pontos percentuais inferior à praticada há pouco mais de um ano.
Há ainda outros R$ 2,07 bilhões em emissão de debêntures em análise na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), sendo R$ 600 milhões da Sabesp.
Normalmente, os pedidos de emissão de debêntures levam algumas semanas para sair.
"Com a redução interna dos juros, fica mais fácil para as empresas fazerem captações via debêntures do que por meio de captação externa", disse Paulo Gomes, da Global Invest.



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