São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 2005

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Crise tem lado positivo, diz Meirelles

PEDRO DIAS LEITE
DE NOVA YORK

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse ontem a investidores e a jornalistas em Nova York que a atual crise política brasileira tem um "lado positivo", porque demonstra que "a economia está menos vulnerável do que era no passado".
Pela manhã, aos investidores, Meirelles destacou o "lado positivo" da crise, uma vez que, em sua avaliação, o fato de a grave turbulência política não ter afetado seriamente os mercados revela que os fundamentos da política econômica estão "sólidos".
À tarde, durante conversa com os repórteres, Meirelles afirmou que "a crise certamente tem pontos negativos, no entanto tem uma vantagem, na medida em que poucas coisas da vida têm só desvantagem".
O presidente do Banco Central participou de um café da manhã com cerca de cem investidores brasileiros e estrangeiros com negócios no Brasil, no início de um tour de alguns dias nos EUA para reforçar a sensação de que a economia brasileira segue imune à crise. O evento foi organizado pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos.

"Invulnerável"
Meirelles bateu várias vezes na tecla de que todos os mercados do mundo estão sujeitos a oscilações, mas o que importa mesmo é o tamanho dessas mudanças, diante da gravidade dos fatos. E, no caso do Brasil, o desempenho é muito bom, segundo o presidente do Banco Central.
"Não há economia que seja invulnerável, não há mercados que não reajam a eventos, o que muda é a magnitude da volatilidade, da reação. E nesse aspecto o Brasil mostra que está evoluindo bastante", disse.
"Não há dúvidas de que existem desvantagens, sob todos os aspectos: políticos, institucionais e econômicos. Mas o que estou dizendo é algo específico. Isso está mostrando que o Brasil saiu da fase de entrar em crise econômica, em crise de balanço de pagamentos, por conta de crises em outros segmentos, o Brasil já mudou de patamar", completou.

Blindagem ou 'peneira"
Meirelles citou ao menos três vezes aos investidores o discurso do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, no domingo, como uma espécie de atestado de que tudo seguirá igual. "A declaração do Palocci é um claro indicador do compromisso do governo com a atual política econômica."
A fala do presidente do Banco Central parece ter encontrado amparo nos investidores que o escutavam ontem, ao menos parcialmente.
O principal objetivo foi convencê-los de que a melhora dos fundamentos econômicos impede que a crise política contamine os mercados financeiros e a economia. "Enquanto a liquidez global e o apetite por risco dos investidores continuarem grandes e o risco de mudança de políticas econômicas for pequeno, a economia brasileira estará, de fato, blindada contra a crise política", avaliou Ricardo Amorim, economista do banco alemão WestLB e um dos que ouviram o discurso de Meirelles. "Mas, se um desses fatores mudar, a blindagem pode acabar parecendo uma peneira", concluiu Amorim à Folha.
Apesar de a crise motivar boa parte de sua exposição, o presidente do BC tentou dissociar política e economia. "Não estou aqui para falar de eventos políticos no Brasil", disse Meirelles.
À tarde, atribuiu à boa fiscalização do BC os avanços até agora nas investigações dos escândalos políticos, quando questionado se haveria mudança nas regras "O Banco Central mantém uma fiscalização rigorosa, e muito do que está sendo revelado é fruto dessas normas", afirmou..


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