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Crise tem lado positivo, diz Meirelles
PEDRO DIAS LEITE
DE NOVA YORK
O presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, disse ontem a
investidores e a jornalistas em
Nova York que a atual crise política brasileira tem um "lado positivo", porque demonstra que "a
economia está menos vulnerável
do que era no passado".
Pela manhã, aos investidores,
Meirelles destacou o "lado positivo" da crise, uma vez que, em sua
avaliação, o fato de a grave turbulência política não ter afetado seriamente os mercados revela que
os fundamentos da política econômica estão "sólidos".
À tarde, durante conversa com
os repórteres, Meirelles afirmou
que "a crise certamente tem pontos negativos, no entanto tem
uma vantagem, na medida em
que poucas coisas da vida têm só
desvantagem".
O presidente do Banco Central
participou de um café da manhã
com cerca de cem investidores
brasileiros e estrangeiros com negócios no Brasil, no início de um
tour de alguns dias nos EUA para
reforçar a sensação de que a economia brasileira segue imune à
crise. O evento foi organizado pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos.
"Invulnerável"
Meirelles bateu várias vezes na
tecla de que todos os mercados do
mundo estão sujeitos a oscilações,
mas o que importa mesmo é o tamanho dessas mudanças, diante
da gravidade dos fatos. E, no caso
do Brasil, o desempenho é muito
bom, segundo o presidente do
Banco Central.
"Não há economia que seja invulnerável, não há mercados que
não reajam a eventos, o que muda
é a magnitude da volatilidade, da
reação. E nesse aspecto o Brasil
mostra que está evoluindo bastante", disse.
"Não há dúvidas de que existem
desvantagens, sob todos os aspectos: políticos, institucionais e econômicos. Mas o que estou dizendo é algo específico. Isso está
mostrando que o Brasil saiu da fase de entrar em crise econômica,
em crise de balanço de pagamentos, por conta de crises em outros
segmentos, o Brasil já mudou de
patamar", completou.
Blindagem ou 'peneira"
Meirelles citou ao menos três
vezes aos investidores o discurso
do ministro da Fazenda, Antonio
Palocci Filho, no domingo, como
uma espécie de atestado de que
tudo seguirá igual. "A declaração
do Palocci é um claro indicador
do compromisso do governo com
a atual política econômica."
A fala do presidente do Banco
Central parece ter encontrado
amparo nos investidores que o escutavam ontem, ao menos parcialmente.
O principal objetivo foi convencê-los de que a melhora dos fundamentos econômicos impede
que a crise política contamine os
mercados financeiros e a economia. "Enquanto a liquidez global
e o apetite por risco dos investidores continuarem grandes e o risco
de mudança de políticas econômicas for pequeno, a economia
brasileira estará, de fato, blindada
contra a crise política", avaliou
Ricardo Amorim, economista do
banco alemão WestLB e um dos
que ouviram o discurso de Meirelles. "Mas, se um desses fatores
mudar, a blindagem pode acabar
parecendo uma peneira", concluiu Amorim à Folha.
Apesar de a crise motivar boa
parte de sua exposição, o presidente do BC tentou dissociar política e economia. "Não estou aqui
para falar de eventos políticos no
Brasil", disse Meirelles.
À tarde, atribuiu à boa fiscalização do BC os avanços até agora
nas investigações dos escândalos
políticos, quando questionado se
haveria mudança nas regras "O
Banco Central mantém uma fiscalização rigorosa, e muito do que
está sendo revelado é fruto dessas
normas", afirmou..
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