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CONTAS VIGIADAS
Ex-banqueiro diz receber R$ 200 mil
Edemar afirma que vive de renda de aluguéis e da ajuda de amigos
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Dono de uma das maiores coleções de obras de arte do país, o ex-controlador do Banco Santos,
Edemar Cid Ferreira, vive hoje do
aluguel de imóveis e da ajuda que
recebe de cinco amigos.
São R$ 200 mil mensais de renda -metade vem das locações e
metade dos amigos-, segundo
declarou em seu depoimento ao
juiz da 6ª vara criminal da Justiça
Federal em São Paulo, na segunda-feira. "Houve uma economia
brutal na minha casa", afirmou.
Ao longo das quatro horas de
depoimento que encheram 92 páginas de transcrição às quais a Folha teve acesso, Cid Ferreira estabelece os pilares da sua defesa:
1) o Banco Santos se destacava
no mercado, ao crescer 20% ao
ano, e isso "incomodava muito o
Banco Central";
2) a partir de 2002, o BC passa a
conspirar contra o Santos e decide
impedir a instituição de abrir
agências ou novas carteiras e até
de publicar balanços sem autorização da autoridade monetária; 3)
eventuais irregularidades não são
de seu conhecimento, pois não
operava o dia-a-dia do banco.
"Eu tenho três inimigos, um é o
Banco Central, o segundo é o Flávio Calazans, e o terceiro, o Ricardo Russo, que não quer assumir o
Bank of Europe" afirmou.
O BC teria afetado Edemar já
em 2002, ao mudar as regras de financiamento ao mercado. "Em
meados de 2002, o BC decide não
mais financiar o mercado. Ele fala: "Não, agora quem financia o
mercado são os próprios bancos'", diz o ex-banqueiro.
Segundo ele, o Banco Santos
carregava de R$ 3 bilhões a R$ 5
bilhões em títulos do Tesouro e,
no fim do dia, em algumas ocasiões, precisava recorrer ao overnight para fechar o caixa. Com a
mudança das normas, "os grandes bancos que tinham dinheiro
para financiar esse volume passaram a exigir um desconto de 5%
sobre o valor dos títulos", disse.
Cid Ferreira também acusou o
BC de ter feito "uma grande maquiagem" no balanço do Banco
Santos, após a intervenção. O interventor teria ficado sete meses
para elaborar o balanço.
"Ele [o interventor] nos chamou e disse: "Olha, senhores, eu
vou apresentar aqui alguns números, eu não vou apresentar o
balanço do banco, eu vou apresentar alguns pontos sobre créditos e reciprocidades, que é o meu
entendimento, e os senhores não
podem discuti-lo comigo. Esses
números são verdade'", disse. O
BC apontou um rombo de R$ 2,8
bilhões no Santos.
Inimigos
O segundo inimigo, Flávio Calazans, é o consultor que diz ter ajudado Cid Ferreira a montar uma
rede de cinco empresas financeiras e de comércio exterior alguns
meses antes da intervenção do BC
no Banco Santos. Por esse canal,
escoaram, ilegalmente, mais de
R$ 480 milhões para o exterior.
O terceiro, Ricardo Russo, é um
ex-funcionário de Cid Ferreira
que dirigia o Bank of Europe, com
sede em Antígua. O BOE ajudou
uma das empresas do banqueiro,
a Alsace Lorraine, a captar US$
224,6 milhões para o Santos. "Ficamos reféns do Ricardo Russo e
do Bank of Europe. E ele se torna
dono do banco [BOE]. Dá ordem
em todo mundo", disse.
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