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Contas externas têm 1º déficit em 18 meses
Importações crescentes deixam Brasil com saldo negativo de US$ 717 mi nas transações com outros países no mês de julho
Também pesou o aumento da remessa de lucros e dividendos pelas empresas, que avançou 143% em relação a julho de 2006
FERNANDO NAKAGAWA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As importações crescentes
começam a fazer efeito nas
contas externas. Em julho, o
saldo de todos os pagamentos e
recebimentos do Brasil com o
exterior ficou negativo em US$
717 milhões. Essa foi a primeira
vez desde janeiro de 2006 que o
volume de dólares que saiu do
país é maior que o registrado na
entrada. Maiores gastos em dólares de empresas e pessoas físicas explicam o resultado.
O principal vilão das contas
externas foi a balança comercial. Em julho, as importações
aumentaram 35% na comparação com igual período de 2006.
Isso aumentou a despesa das
empresas, que tiveram de mandar mais dólares ao exterior. "O
saldo da balança comercial caiu
bastante, e a tendência é que as
importações sigam em alta porque a demanda interna está
aquecida", afirma o economista-chefe do Deutsche Bank, José Carlos de Faria.
Além do impacto dos importados, também pesou o aumento da remessa de lucros e dividendos ao exterior. Em julho,
multinacionais instaladas no
Brasil remeteram US$ 2,1 bilhões às sedes. O valor é 20%
maior que o registrado em junho e 143% superior a julho do
ano passado.
O professor da Faculdade de
Economia e Administração da
USP, Fábio Kanczuk, explica
esse movimento por três fatores: 1) aumento do total de investimentos estrangeiros no
Brasil; 2) maior lucro desses
empreendimentos; 3) o dólar
baixo em julho favoreceu o envio de ganhos às sedes. "Tudo
isso ajuda as empresas. Já que,
com o dólar baixo, o lucro em
reais representa maior valor
em dólares. As empresas aproveitaram mais esse ambiente
em julho", diz Kanczuk.
Com os dois fatores, o saldo
das chamadas transações correntes ficou negativo em US$
717 milhões, o primeiro déficit
desde janeiro do ano passado e
o pior resultado desde abril de
2004. O resultado surpreendeu
o BC, que esperava superávit de
até US$ 100 milhões. Mesmo
assim, as contas continuam
com superávit no ano. Em sete
meses, as contas registram saldo de US$ 3,6 bilhões.
No mês passado, o resultado
do balanço de pagamento teve
um superávit de US$ 7,652 bilhões. O saldo foi gerado pela
contribuição positiva de US$
7,024 bilhões na conta financeira. Nos serviços, houve um
saldo negativo de US$ 4,456 bilhões, e as transferências unilaterais para o Brasil somaram
US$ 392 milhões.
Saldos menores
Com a expectativa de que as
importações sigam em alta,
analistas apostam em queda do
saldo em conta corrente nos
próximos meses. O próprio BC
acredita no cenário. O chefe do
Departamento Econômico do
BC, Altamir Lopes, diz que o resultado de agosto deve vir próximo da estabilidade. "Devemos ter superávits menores,
mas o resultado tende, ainda, a
ser positivo", afirma.
A projeção do BC é compartilhada pelo mercado financeiro.
O diretor da Modal Asset Management, Alexandre Póvoa,
diz que a balança comercial de
agosto tem apresentado números aquém do esperado, o que
deve pressionar o resultado das
contas externas para baixo.
"Olhando para a frente, esse cenário se repete. O saldo comercial deve reduzir o resultado
das transações correntes. Mas,
mesmo assim, o quadro ainda
não nos preocupa", avalia.
Fábio Kanczuk, professor da
USP, observa ainda que países
em desenvolvimento costumam ter déficit em conta corrente. "Mercados como o Brasil
são importadores de capital
[dinheiro estrangeiro]. Por isso, costumam ter transação
corrente negativa. Isso deve
acontecer no médio prazo", diz.
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