São Paulo, sexta-feira, 24 de agosto de 2007

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Contas externas têm 1º déficit em 18 meses

Importações crescentes deixam Brasil com saldo negativo de US$ 717 mi nas transações com outros países no mês de julho

Também pesou o aumento da remessa de lucros e dividendos pelas empresas, que avançou 143% em relação a julho de 2006

FERNANDO NAKAGAWA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As importações crescentes começam a fazer efeito nas contas externas. Em julho, o saldo de todos os pagamentos e recebimentos do Brasil com o exterior ficou negativo em US$ 717 milhões. Essa foi a primeira vez desde janeiro de 2006 que o volume de dólares que saiu do país é maior que o registrado na entrada. Maiores gastos em dólares de empresas e pessoas físicas explicam o resultado.
O principal vilão das contas externas foi a balança comercial. Em julho, as importações aumentaram 35% na comparação com igual período de 2006. Isso aumentou a despesa das empresas, que tiveram de mandar mais dólares ao exterior. "O saldo da balança comercial caiu bastante, e a tendência é que as importações sigam em alta porque a demanda interna está aquecida", afirma o economista-chefe do Deutsche Bank, José Carlos de Faria.
Além do impacto dos importados, também pesou o aumento da remessa de lucros e dividendos ao exterior. Em julho, multinacionais instaladas no Brasil remeteram US$ 2,1 bilhões às sedes. O valor é 20% maior que o registrado em junho e 143% superior a julho do ano passado.
O professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, Fábio Kanczuk, explica esse movimento por três fatores: 1) aumento do total de investimentos estrangeiros no Brasil; 2) maior lucro desses empreendimentos; 3) o dólar baixo em julho favoreceu o envio de ganhos às sedes. "Tudo isso ajuda as empresas. Já que, com o dólar baixo, o lucro em reais representa maior valor em dólares. As empresas aproveitaram mais esse ambiente em julho", diz Kanczuk.
Com os dois fatores, o saldo das chamadas transações correntes ficou negativo em US$ 717 milhões, o primeiro déficit desde janeiro do ano passado e o pior resultado desde abril de 2004. O resultado surpreendeu o BC, que esperava superávit de até US$ 100 milhões. Mesmo assim, as contas continuam com superávit no ano. Em sete meses, as contas registram saldo de US$ 3,6 bilhões.
No mês passado, o resultado do balanço de pagamento teve um superávit de US$ 7,652 bilhões. O saldo foi gerado pela contribuição positiva de US$ 7,024 bilhões na conta financeira. Nos serviços, houve um saldo negativo de US$ 4,456 bilhões, e as transferências unilaterais para o Brasil somaram US$ 392 milhões.

Saldos menores
Com a expectativa de que as importações sigam em alta, analistas apostam em queda do saldo em conta corrente nos próximos meses. O próprio BC acredita no cenário. O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que o resultado de agosto deve vir próximo da estabilidade. "Devemos ter superávits menores, mas o resultado tende, ainda, a ser positivo", afirma.
A projeção do BC é compartilhada pelo mercado financeiro. O diretor da Modal Asset Management, Alexandre Póvoa, diz que a balança comercial de agosto tem apresentado números aquém do esperado, o que deve pressionar o resultado das contas externas para baixo. "Olhando para a frente, esse cenário se repete. O saldo comercial deve reduzir o resultado das transações correntes. Mas, mesmo assim, o quadro ainda não nos preocupa", avalia.
Fábio Kanczuk, professor da USP, observa ainda que países em desenvolvimento costumam ter déficit em conta corrente. "Mercados como o Brasil são importadores de capital [dinheiro estrangeiro]. Por isso, costumam ter transação corrente negativa. Isso deve acontecer no médio prazo", diz.


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