São Paulo, sexta-feira, 24 de agosto de 2007

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Economistas vêem BC mais cauteloso

Turbulência deve pesar mais que alta do dólar, diz Loyo; Werneck acha possível parada na queda da taxa de juros

Mendonça de Barros diz que maior risco ao governo Lula é a complacência beneficiada pela abundância de dólares

MARIA CRISTINA FRIAS
TONI SCIARRETTA
ENVIADOS ESPECIAIS A CAMPOS DO JORDÃO

A alta do dólar em relação ao real não preocupa, mas a volatilidade pode aumentar a cautela do Banco Central, segundo o ex-diretor da instituição Eduardo Loyo, economista-chefe para América Latina do Banco UBS Pactual. "O momento atual pode definir o tamanho da cautela que o BC terá de ter. Mas [a cautela] não resulta do movimento já observado na taxa de câmbio", disse.
"É preciso não exagerar o impacto [do câmbio], independentemente do efeito sobre a inflação. Não vejo no câmbio um fator preocupante. Vejo um aumento da cautela mais ligado à volatilidade pontual", disse.
Palestrantes presentes no 3º Congresso Internacional de Derivativos e Mercado Financeiro minimizaram o efeito da crise financeira no país.
"Não acredito que essa crise externa leve o mundo a algum tipo de colapso. O Brasil será muito pouco afetado. Fosse um outro período, entraria em recessão, e o BC aumentaria os juros", disse Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro do governo FHC, ex-diretor do BC e colunista da Folha.
Para Loyo, não se pode dizer que o país esteja totalmente imune à crise. Ele lembra que os reflexos da turbulência sobre o Brasil dependem dos preços das commodities, mas a melhora nos fundamentos diminui a perda de confiança.
Para o economista Rogério Werneck (PUC-RJ), o BC será levado a repensar o ciclo de queda da Selic. "Ainda não é preocupante, mas não me surpreenderia se o BC interrompesse a queda de juros", disse.
Para Mendonça de Barros, o maior risco para o governo Lula é a complacência. "As coisas estão indo bem, mas há forças que não são perenes." O ex-ministro tucano disse que a principal diferença entre o governo FHC e a gestão Lula é que, no primeiro, havia escassez de dólar, e, no segundo, abundância.
A presença de Mendonça de Barros e do ex-presidente do BC Gustavo Franco, membros do governo FHC, num mesmo painel reforçou o ar de fórum de oposição do evento neste ano. O único membro do governo atual convidado foi o presidente do BC, Henrique Meirelles, que participou da abertura do evento, anteontem. Nas outras edições, havia ao menos dois representantes da gestão federal. E não faltaram críticas ao governo.
"Teria de ter um ministro da Fazenda com maior influência política. Não sei se temos um ministro com esse perfil", disse Werneck. Ao mencionar a reforma tributária, Franco disse que espera que ela não seja feita pelo governo atual. "O próximo fará muito melhor."


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