São Paulo, sexta-feira, 24 de agosto de 2007

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CPMF é o pior tributo já inventado, diz ex do FMI

Anne Krueger critica mal uso do dinheiro arrecadado

DO ENVIADO A CAMPOS DO JORDÃO

A ex-mulher forte do FMI Anne Krueger classificou a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), que o governo quer prorrogar por mais quatro anos, como um dos "piores tributos" já inventados.
Chamou de "inacreditável" o depósito compulsório de 45% sobre os depósitos à vista. Afirmou que "alguma coisa vai mal" na economia brasileira, que tem carga tributária de quase 35% do PIB, mas não consegue fazer com que o nível do crédito cresça em relação ao PIB -hoje, o crédito está em 36%.
"Há países que não têm recursos para investir. Não é o caso do Brasil. O governo arrecada tributos que representam uma elevada porcentagem do PIB, mas há algo de errado, pois não se sabe para onde vai esse dinheiro. O ideal seria que o governo fizesse um uso melhor dos recursos públicos", disse.
Para Krueger, o crédito é um indicador importante que precisa ser melhorado no sistema financeiro brasileiro. "Os bancos trabalham com um "spread" [diferença entre juros captados e repassados ao consumidor] imenso. Há uma série de indicadores e práticas do mercado que precisam ser melhoradas", disse, em encontro sobre mercado financeiro em Campos do Jordão, interior de SP.
Mais do que a crise nos mercados, o primeiro debate entre os economistas brasileiros no congresso da BM&F centrou sua discussão na alta carga tributária como impedimento de médio e longo prazos para o desenvolvimento do país.
O ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros disse que o governo Lula perde uma oportunidade única de baixar a carga tributária sem um alto custo para a sociedade e a economia. "Só haverá reforma tributária se diminuírem os gastos federais. Não adianta falar em reforma tributária com a criação, por exemplo, do IVA [Imposto sobre o Valor Agregado] porque ele teria de ter alíquota de 50%, e ninguém vai querer cobrar 50% a mais do consumidor", disse.
Barros afirmou que essa omissão terá seu preço em um futuro não muito distante, quando o país não tiver as mesmas condições favoráveis para manter um crescimento de 4% a 5% ao ano.
Já o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco fez uma longa exposição sobre o passado de inflação da economia brasileira e centrou sua apresentação nas travas para o desenvolvimento econômico. Ele defendeu uma maior inserção do país no comércio internacional, com ganhos de eficiência e produtividade.
(TONI SCIARRETTA)


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