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EM TRANSE
Mercado faz poucos negócios devido à incerteza na transição política; vencimento de dívida pública ajuda a derrubar real
Lula e dívida pública levam dólar a recorde
O dólar chegou ontem à maior cotação do Plano Real. O cenário eleitoral
e as incertezas da conjuntura internacional -retração de investimentos,
queda nas Bolsas e alta do petróleo- fazem aumentar a procura pela moeda
dos EUA
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ANA PAULA RAGAZZI
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A duas semanas das eleição presidencial, o dólar bateu novo recorde do Plano Real. A moeda norte-americana subiu 4,85%.
Para comprar um dólar, eram necessários R$ 3,57 no final do dia.
O recorde anterior eram os R$
3,47 de 31 de julho passado.
O risco Brasil subiu 9,7%, para
2.175 pontos.
A pesquisa Datafolha, divulgada no final de semana, foi o principal motivo para a alta de ontem.
O resultado mostrou que são
grandes as chances de o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, vencer a disputa já no primeiro turno. Esse cenário desagrada
aos investidores, o que fez crescer
a procura por dólares. O candidato do mercado é o candidato do
governo, José Serra (PSDB), associado à manutenção da atual política econômica.
As incertezas são muitas. Não se
sabe se haverá segundo turno e,
em caso da confirmação da vitória de Lula, qual serão os rumos
da economia. Além disso, há a deterioração da economia americana, abalada por lucros baixos e escândalos, e o temor de uma guerra entre os EUA e o Iraque. Tais
fatores aumentam a aversão do
investidor ao risco e diminuem o
fluxo de dólares para o país.
"Indefinição é o que menos
agrada ao mercado", afirma Álvaro Bandeira, da corretora Ágora
Sênior. "Quando o investidor não
consegue enxergar o futuro, forma-se um ambiente propício a
qualquer tipo de boato."
Nesse cenário, ninguém quer se
desfazer de dólares. Com isso,
qualquer operação concluída
pressiona o câmbio. "No começo
da tarde, o telefone já nem tocava
mais. Foi um dia muito ruim para
fechar negócios, que ficaram concentrados nas mãos de tesourarias", diz Miriam Tavares, diretora de câmbio da corretora AGK.
Segundo operadores, os negócios ontem movimentaram apenas pouco mais de US$ 600 milhões, metade do normal.
O Banco Central não conseguiu
deter a queda do real. Vendeu dólares no mercado à vista e realizou
leilão de linha de exportação, de
US$ 48 milhões.
O dólar subiu também devido
ao vencimento de US$ 1,5 bilhão
de dívida cambial, amanhã. Na
semana passada, o BC optou por
não fazer a rolagem desses papéis.
Como a liquidação é feita pelo
Ptax (preço médio do dólar, medido diariamente pelo BC) de hoje, quanto mais alto estiver o câmbio maior será o ganho do detentor dos títulos. Segundo operadores, os bancos estariam tentando
pressionar a cotação. O dólar pode ter mais um dia de alta hoje,
por esse motivo.
Para hoje também é esperada a
divulgação de nova pesquisa eleitoral do Ibope. Se a sondagem
confirmar os números do Datafolha,o nervosismo deverá crescer.
Se o mercado der como certa
uma vitória de Lula, analistas avaliam que o petista deverá agir rápido para acalmar a situação:
"Lula precisaria anunciar a sua
equipe econômica logo, para dar
um parâmetro ao mercado", diz
Clive Botelho, do banco Santos.
Em especial porque em outubro
há forte concentração de vencimentos de dívidas dos setores público e privado -aproximadamente US$ 6 bilhões em dívida do
governo atrelada ao dólar e cerca
de US$ 1,3 bilhão em débitos de
empresas.
"Não adianta, em um mercado
como o atual, o BC sair queimando mais reservas para tentar segurar o câmbio. O mercado está sem
vendedor. Ninguém quer se desfazer de dólares neste momento, o
que faz a cotação subir com tanta
facilidade", diz Luis Henrique Didier, presidente da Abracam (Associação Brasileira das Corretoras de Câmbio).
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