UOL


São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRABALHO

Intimidação foi feita pelo presidente mundial da montadora; contrário ao programa Autovisão, sindicato reage

Volks ameaça demitir grevistas no Brasil

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente mundial da Volkswagen, Bernd Pischetsrieder, disse anteontem em Wolfsburg, na Alemanha, onde fica a sede da companhia, que vai demitir todos os funcionários que fizerem greve no Brasil. Os sindicatos brasileiros reagiram à declaração, e a direção da montadora no Brasil não se pronunciou.
"Qualquer um que entrar em greve será demitido", afirmou o presidente da maior fabricante de automóveis da Europa, em entrevista coletiva na Alemanha.
Na semana passada, funcionários da Volks de São Bernardo do Campo (ABC paulista) e de Taubaté (SP) rejeitaram o plano da montadora de transferir 3.933 excedentes a partir de 1º de outubro. Também recusaram a proposta da empresa de abrir programas de demissão voluntária nas duas fábricas para reduzir o quadro de empregados. Na ocasião, os metalúrgicos de Taubaté decretaram "estado de greve". No ABC, decidiram preparar manifestações.
O impasse começou em julho, quando a montadora anunciou a transferência de 1.923 excedentes do ABC e 2.010 de Taubaté como parte de um plano de reestruturação. A empresa sofre pressão da matriz alemã para reduzir custos, com a extinção de 3.933 empregos, e recuperar competitividade.
A Volks informou que investiria R$ 300 milhões no Brasil para treinar e capacitar os excedentes, que seriam realocados no projeto Autovisão -programa inspirado em modelo desenvolvido na Alemanha e que seria criado para incentivar novos negócios.
As negociações entre empresa e trabalhadores, entretanto, se encerraram há duas semanas, quando a montadora fez sua proposta final -um pacote de incentivos para os que aderirem ao voluntariado. No ABC, foram oferecidos 15 salários, além de 40% da remuneração por ano trabalhado. Em Taubaté, o pacote incluía bolsa de estudo, equivalente a 80% do salário, durante 12 meses.
Para os sindicatos, entretanto, essa transferência significa, na prática, o rompimento de acordos que garantem estabilidade aos trabalhadores -em Taubaté até 2004 e no ABC até 2006.
Ontem, o porta-voz da Volks na Alemanha, Dirk Grosse-Leege, disse que, "se alguém com tal contrato entrar em greve, o estará fazendo ilegalmente". Agências de notícia chegaram a informar equivocadamente que os acordos de estabilidade proíbem os trabalhadores de fazer greve.
"Esse sindicato jamais assinaria um acordo que proíbe greve. A afirmação é um grave engano e, além de desastrosa, mostra que a matriz desconhece o teor dos acordos firmados pela fábrica", disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo.
Os sindicatos e comissões de fábrica brasileiros também informaram que a declaração do presidente mundial da Volks não lhes intimida. "Não nos curvaremos a esse tipo de ameaça", disse Feijóo.
O sindicalista afirmou que "os trabalhadores da Volks só farão greve se a montadora não tiver maturidade para negociar de fato e se a fábrica insistir na atitude unilateral de impor suas decisões na base da força".
O vice-presidente do Comitê Mundial dos Trabalhadores da Volkswagen, Wagner Santana, afirmou que fez contato com o sindicato dos trabalhadores da Alemanha. "Eles se mostraram surpresos e vão pedir esclarecimentos à matriz. O fato é que, se a Volks pensa que vai aterrorizar os trabalhadores, está enganada. Essa atitude provoca mais união e nos deixa prontos para a guerra."
Em Taubaté, os trabalhadores permanecem em estado de greve. "Se a montadora tentar impor o seu projeto de forma arbitrária, não vamos ficar quietos", disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté, Antonio Eduardo de Oliveira.
O mercado brasileiro de carros está na sua pior situação em dez anos, informa a Volks. A empresa tem capacidade para produzir até 740 mil veículos por ano, mas produz apenas 470 mil e culpa o fraco desempenho econômico da América Latina pela situação.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: Frases
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.