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TRABALHO
Intimidação foi feita pelo presidente mundial da montadora; contrário ao programa Autovisão, sindicato reage
Volks ameaça demitir grevistas no Brasil
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente mundial da Volkswagen, Bernd Pischetsrieder, disse anteontem em Wolfsburg, na
Alemanha, onde fica a sede da
companhia, que vai demitir todos
os funcionários que fizerem greve
no Brasil. Os sindicatos brasileiros reagiram à declaração, e a direção da montadora no Brasil não
se pronunciou.
"Qualquer um que entrar em
greve será demitido", afirmou o
presidente da maior fabricante de
automóveis da Europa, em entrevista coletiva na Alemanha.
Na semana passada, funcionários da Volks de São Bernardo do
Campo (ABC paulista) e de Taubaté (SP) rejeitaram o plano da
montadora de transferir 3.933 excedentes a partir de 1º de outubro.
Também recusaram a proposta
da empresa de abrir programas
de demissão voluntária nas duas
fábricas para reduzir o quadro de
empregados. Na ocasião, os metalúrgicos de Taubaté decretaram
"estado de greve". No ABC, decidiram preparar manifestações.
O impasse começou em julho,
quando a montadora anunciou a
transferência de 1.923 excedentes
do ABC e 2.010 de Taubaté como
parte de um plano de reestruturação. A empresa sofre pressão da
matriz alemã para reduzir custos,
com a extinção de 3.933 empregos, e recuperar competitividade.
A Volks informou que investiria
R$ 300 milhões no Brasil para
treinar e capacitar os excedentes,
que seriam realocados no projeto
Autovisão -programa inspirado
em modelo desenvolvido na Alemanha e que seria criado para incentivar novos negócios.
As negociações entre empresa e
trabalhadores, entretanto, se encerraram há duas semanas, quando a montadora fez sua proposta
final -um pacote de incentivos
para os que aderirem ao voluntariado. No ABC, foram oferecidos
15 salários, além de 40% da remuneração por ano trabalhado. Em
Taubaté, o pacote incluía bolsa de
estudo, equivalente a 80% do salário, durante 12 meses.
Para os sindicatos, entretanto,
essa transferência significa, na
prática, o rompimento de acordos
que garantem estabilidade aos
trabalhadores -em Taubaté até
2004 e no ABC até 2006.
Ontem, o porta-voz da Volks na
Alemanha, Dirk Grosse-Leege,
disse que, "se alguém com tal contrato entrar em greve, o estará fazendo ilegalmente". Agências de
notícia chegaram a informar
equivocadamente que os acordos
de estabilidade proíbem os trabalhadores de fazer greve.
"Esse sindicato jamais assinaria
um acordo que proíbe greve. A
afirmação é um grave engano e,
além de desastrosa, mostra que a
matriz desconhece o teor dos
acordos firmados pela fábrica",
disse o presidente do Sindicato
dos Metalúrgicos do ABC, José
Lopez Feijóo.
Os sindicatos e comissões de fábrica brasileiros também informaram que a declaração do presidente mundial da Volks não lhes
intimida. "Não nos curvaremos a
esse tipo de ameaça", disse Feijóo.
O sindicalista afirmou que "os
trabalhadores da Volks só farão
greve se a montadora não tiver
maturidade para negociar de fato
e se a fábrica insistir na atitude
unilateral de impor suas decisões
na base da força".
O vice-presidente do Comitê
Mundial dos Trabalhadores da
Volkswagen, Wagner Santana,
afirmou que fez contato com o
sindicato dos trabalhadores da
Alemanha. "Eles se mostraram
surpresos e vão pedir esclarecimentos à matriz. O fato é que, se a
Volks pensa que vai aterrorizar os
trabalhadores, está enganada. Essa atitude provoca mais união e
nos deixa prontos para a guerra."
Em Taubaté, os trabalhadores
permanecem em estado de greve.
"Se a montadora tentar impor o
seu projeto de forma arbitrária,
não vamos ficar quietos", disse o
presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté, Antonio
Eduardo de Oliveira.
O mercado brasileiro de carros
está na sua pior situação em dez
anos, informa a Volks. A empresa
tem capacidade para produzir até
740 mil veículos por ano, mas
produz apenas 470 mil e culpa o
fraco desempenho econômico da
América Latina pela situação.
Com agências internacionais
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