São Paulo, sexta-feira, 24 de setembro de 2004

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RECEITA ORTODOXA

Para o Copom, influência de reajustes de 2004 justifica elevação de 4,5% para 5,1% no objetivo para o próximo ano

BC mira meta de inflação maior em 2005

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central elevou a meta de inflação a ser alcançada no ano que vem. Se antes se buscava manter a alta dos preços em 4,5%, agora o objetivo passou para 5,1%. A modificação poderia abrir mais espaço para uma redução dos juros, embora tenha sido anunciada ontem, uma semana depois de o BC ter aumentado a taxa para, justamente, garantir o cumprimento das metas.
"O fato de que diversos índices de inflação superarão em 2004 a meta central de 5,5% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional para o IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo] terá implicações [...] sobre a inflação de 2005", diz a ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), que, na semana passada, elevou a taxa Selic de 16% ao ano para 16,25%.
Para o BC, portanto, a influência que a alta da inflação deste ano terá sobre os preços em 2005 justifica a alteração da meta. Para este ano, analistas de mercado estimam que o IPCA vá subir 7,37% -a meta é 5,5%, admitindo-se um desvio de 2,5 pontos.
As metas de inflação são fixadas periodicamente pelo Conselho Monetário Nacional e devem ser seguidas pelo BC. No ano passado, o BC já havia adotado, com a concordância do Ministério da Fazenda, uma meta "ajustada" de 8,5%, ainda que a oficial tivesse sido estabelecida em 4%.
Para 2005, o objetivo é manter a alta do IPCA entre 2% e 7% -a meta central continua em 4,5%. O que o BC pretende fazer é adotar uma meta central informal de 5,1%, mas ainda buscando respeitar o intervalo fixado pelo CMN.
Entre os fatores que pressionam a inflação, foram citados pelo BC a alta do preço do petróleo no mercado internacional e os reajustes de preços feitos pela indústria, o que pode se traduzir, com o tempo, em aumentos de preços aos consumidores.
Segundo a ata do Copom, esse cenário traz riscos à estabilidade da inflação, ainda mais "em um ambiente capaz de acomodar recomposições de margem de lucro, inclusive as requeridas por reajustes salariais que tendam a elevar o rendimento real".
Em outras palavras, com a economia crescendo, as empresas podem ser levadas a repassar para seus preços os gastos que estão tendo com os aumentos de salário que estão concedendo a seus funcionários. Ainda assim, para o Banco Central, o aumento da renda da população é apontado como "crucial também para que o processo de retomada prossiga de forma cada vez mais disseminada e balanceada entre os diferentes setores da economia".

Pessimismo
À primeira vista, a mudança na meta pode ser vista como uma tentativa do Banco Central de amenizar o pessimismo que se instalou quando, na semana passada, anunciou não só o aumento de juros como também informou que a elevação era apenas o início de "um processo de ajuste moderado" na taxa.
Com o objetivo de atenuar as pressões sobre a taxa de juros, o governo decidiu, anteontem, elevar de 4,25% para 4,5% a meta de superávit primário (economia de receita para o pagamento de juros da dívida) deste ano.
Juros mais altos desestimulam consumo e investimentos, funcionando como uma espécie de freio na economia. Nesse cenário, as empresas têm dificuldade em reajustar seus preços, ou seja, a inflação tende a ser contida.
Assim, uma meta de inflação mais elevada permitiria, em tese, que os juros permanecessem num nível mais baixo. Na ata da reunião que decidiu pelo aumento dos juros, porém, o BC tenta sinalizar que esse raciocínio não deve ser levado ao pé da letra. "O Copom precisará ser ainda menos tolerante em relação a choques que ameacem tornar a inflação maior do que o seu objetivo de 5,1% em 2005", diz o texto.


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