São Paulo, sexta-feira, 24 de setembro de 2004

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Copom corrige erro, diz Fiesp; para analistas, alta de juros será lenta

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao decidir que não vai mais perseguir o centro da meta de inflação de 4,5% para 2005, o Copom (Comitê de Política Monetária) "corrigiu um erro de origem, mas mesmo assim vai provocar uma contração na economia", na opinião de Horacio Lafer Piva, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Para atingir o novo alvo, de 5,1% de inflação, ele diz que o Copom vai ter de aumentar mais os juros. "Como os preços administrados devem subir 6,9%, o Banco Central tentará frear os preços livres endurecendo a política de juros para conter a demanda", diz.
Que os juros estão em processo de alta o Copom já deixou claro na sua última reunião. O que a ata dessa reunião, divulgada ontem, veio esclarecer é quais serão o ritmo e o teto desse processo.
Alguns economistas já trabalham com um cenário de juros entre 17% e 17,5% para os próximos meses. "A ata do Copom deixa claro que, se ele fosse perseguir a meta de 4,5% de inflação no ano que vem, teria de subir mais, e mais rapidamente, a taxa básica de juro, a Selic", observa Jorge Simino, sócio da MS Consult.
Ao alargar a meta, o BC sinaliza que poderá fazer um ajuste mais moderado nos juros e num prazo maior, de três a seis meses, segundo o economista. Ele descarta aumentos superiores a 0,5 ponto percentual para a Selic nas próximas reuniões do Copom.
Na opinião de Simino, o movimento feito pelo BC dá parâmetros ao mercado e não fere a credibilidade da autoridade monetária. "O problema não é a decisão atual e, sim, a meta de inflação muito ambiciosa estabelecida no ano passado e reafirmada em junho deste ano", diz ele.
Piva também considera correta a decisão do Banco Central. "Ninguém acreditava na meta de 4,5%; uns fingiam que enganavam, outros que acreditavam", comenta.

Risco
Para Juan Jensen, economista da consultoria Tendências, "a decisão do Copom é positiva no sentido da flexibilização do sistema [de metas de inflação]". No entanto, ele considera que o momento escolhido para isso não foi o mais adequado. "O BC poderia ter esperado para tomar essa decisão no final do ano, pois não há uma inflação de demanda, e em algum momento as expectativas vão refluir", diz ele.
Segundo Jensen, ao deslocar o centro da meta de inflação para 5,1%, o BC não fará recuar a expectativa de inflação do mercado. Segundo o último boletim Focus, do BC, que retrata a opinião de cem analistas de mercado, as projeções para o IPCA em 2005 evoluíram de 5,50%, em 27 de agosto, para 5,70% no dia 10 de setembro e para 5,80% no dia 17 passado.
O que poderá fazer reverter a expectativa de inflação, segundo Jensen, é o câmbio - com o real valorizado, a pressão sobre a inflação é negativa- e a decisão do governo de aumentar a meta do superávit primário. "O aumento do superávit atua sobre a pressão de demanda", diz ele.
O dinheiro a mais que o governo arrecadou neste ano com impostos, que está indo em parte para gastos correntes e alimentando a demanda, irá para pagar juros da dívida pública. E isso aliviaria pressões inflacionárias.
Ao rever o centro da meta, entretanto, o Banco Central correu o risco de abrir margem para que se especule sobre alguma leniência da autoridade monetária com a inflação. "O BC assumiu um risco altíssimo e desnecessário num momento de deterioração da expectativa de inflação", diz Alexandre Póvoa, economista da Modal Asset Management.


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