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Crise dificultará aprovação de reformas
Mesmo que reeleito, Lula terá menos força política para lidar com Congresso num segundo mandato, dizem analistas
Novo quadro partidário devido à cláusula de barreira e boas relações com parte dos tucanos, porém, podem ajudar na governabilidade
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A piora na situação política
não será suficiente para detonar uma crise econômica no
ano que vem, mas vai comprometer a capacidade de o governo aprovar as reformas das
quais o país precisa para ter
crescimento maior. Esse cenário, partilhado hoje por autoridades do governo e por economistas do mercado financeiro,
significa que o Brasil continuará numa trajetória de crescimento inferior aos dos demais
países emergentes.
A premissa para esse diagnóstico é que o escândalo envolvendo a compra de dossiê
contra tucanos pode até não
comprometer a reeleição do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, mas, se reeleito, ele terá
muito menos força política para negociar com o Congresso.
Para o governo, a principal
fonte de turbulência será a investigação do TSE (Tribunal
Superior Eleitoral) sobre a participação da campanha de Lula
no caso do dossiê. Se for considerado culpado, o presidente
pode ter seu diploma cassado e
ser obrigado a deixar o cargo.
Entre as autoridades, há esperanças de que projetos importantes sejam aprovados.
Contam com modificações no
quadro partidário como resultado da aplicação da cláusula de
barreira. A nova regra determina que os partidos tenham ao
menos 5% dos votos nacionais
para ter direito a tempo na TV e
recursos do fundo partidário.
Senão, o funcionamento do
partido fica inviabilizado, o que
deve levar à fusão de siglas menores em 2007 e a chance de
fortalecer a base do governo.
A outra aposta é o apoio dos
tucanos ligados ao governador
de Minas Gerais, Aécio Neves, e
do próprio José Serra, com
grandes chances de se eleger
governador paulista. Como as
chances de Lula, se reeleito, fazer seu sucessor são consideradas pequenas, os estrategistas
do governo crêem que a oposição terá interesse em aprovar
projetos que também beneficiem o presidente seguinte.
Sem reformas
Não há dúvidas entre os analistas de que o próximo presidente, seja Lula ou qualquer
outro, manterá intactos os pilares da política econômica, como o superávit primário, o
câmbio flutuante e a inflação
sob controle. O que anda em
baixa entre os analistas é a possibilidade de reformas na Previdência e nas leis tributárias.
As primeiras batalhas do governo na área econômica após a
eleição serão a prorrogação da
CPMF, que termina no fim de
2007, e da DRU (Desvinculação
de Receitas da União), mecanismo que permite ao governo
usar livremente 20% da receita.
As medidas devem ser aprovadas, mas desidratadas em relação ao que o governo queria.
"Um eventual segundo mandato será muito mais difícil do
que seria até estourar esse escândalo. A aprovação da DRU e
da CPMF já vai exaurir a parca
energia de um segundo mandato. Vão ser quatro anos modorrentos", acredita Caio Megale,
da Mauá Investimentos.
Há também a possibilidade
de o governo continuar fazendo
mudanças pontuais por meio
de medidas provisórias. É o que
já vem sendo feito nos pacotes
anunciados pelo ministro Guido Mantega (Fazenda) para reduzir os juros nos empréstimos
e estimular a economia.
O problema é que essas mudanças não são suficientes para
elevar o potencial de crescimento. Para economistas, é
preciso reduzir o déficit da Previdência para poder abrir mão
de receitas e diminuir a carga
tributária. Só assim a economia
terá como crescer mais.
"A falta de reformas não é um
gatilho para piorar a situação
econômica, mas faz com que o
crescimento continue baixo. É
mais do mesmo", avalia Zeina
Latif, economista-chefe do
banco ABN Amro.
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