São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2006

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Crise dificultará aprovação de reformas

Mesmo que reeleito, Lula terá menos força política para lidar com Congresso num segundo mandato, dizem analistas

Novo quadro partidário devido à cláusula de barreira e boas relações com parte dos tucanos, porém, podem ajudar na governabilidade

LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

VALDO CRUZ DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA A piora na situação política não será suficiente para detonar uma crise econômica no ano que vem, mas vai comprometer a capacidade de o governo aprovar as reformas das quais o país precisa para ter crescimento maior. Esse cenário, partilhado hoje por autoridades do governo e por economistas do mercado financeiro, significa que o Brasil continuará numa trajetória de crescimento inferior aos dos demais países emergentes.
A premissa para esse diagnóstico é que o escândalo envolvendo a compra de dossiê contra tucanos pode até não comprometer a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas, se reeleito, ele terá muito menos força política para negociar com o Congresso.
Para o governo, a principal fonte de turbulência será a investigação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sobre a participação da campanha de Lula no caso do dossiê. Se for considerado culpado, o presidente pode ter seu diploma cassado e ser obrigado a deixar o cargo.
Entre as autoridades, há esperanças de que projetos importantes sejam aprovados. Contam com modificações no quadro partidário como resultado da aplicação da cláusula de barreira. A nova regra determina que os partidos tenham ao menos 5% dos votos nacionais para ter direito a tempo na TV e recursos do fundo partidário. Senão, o funcionamento do partido fica inviabilizado, o que deve levar à fusão de siglas menores em 2007 e a chance de fortalecer a base do governo.
A outra aposta é o apoio dos tucanos ligados ao governador de Minas Gerais, Aécio Neves, e do próprio José Serra, com grandes chances de se eleger governador paulista. Como as chances de Lula, se reeleito, fazer seu sucessor são consideradas pequenas, os estrategistas do governo crêem que a oposição terá interesse em aprovar projetos que também beneficiem o presidente seguinte.

Sem reformas
Não há dúvidas entre os analistas de que o próximo presidente, seja Lula ou qualquer outro, manterá intactos os pilares da política econômica, como o superávit primário, o câmbio flutuante e a inflação sob controle. O que anda em baixa entre os analistas é a possibilidade de reformas na Previdência e nas leis tributárias.
As primeiras batalhas do governo na área econômica após a eleição serão a prorrogação da CPMF, que termina no fim de 2007, e da DRU (Desvinculação de Receitas da União), mecanismo que permite ao governo usar livremente 20% da receita. As medidas devem ser aprovadas, mas desidratadas em relação ao que o governo queria.
"Um eventual segundo mandato será muito mais difícil do que seria até estourar esse escândalo. A aprovação da DRU e da CPMF já vai exaurir a parca energia de um segundo mandato. Vão ser quatro anos modorrentos", acredita Caio Megale, da Mauá Investimentos.
Há também a possibilidade de o governo continuar fazendo mudanças pontuais por meio de medidas provisórias. É o que já vem sendo feito nos pacotes anunciados pelo ministro Guido Mantega (Fazenda) para reduzir os juros nos empréstimos e estimular a economia.
O problema é que essas mudanças não são suficientes para elevar o potencial de crescimento. Para economistas, é preciso reduzir o déficit da Previdência para poder abrir mão de receitas e diminuir a carga tributária. Só assim a economia terá como crescer mais.
"A falta de reformas não é um gatilho para piorar a situação econômica, mas faz com que o crescimento continue baixo. É mais do mesmo", avalia Zeina Latif, economista-chefe do banco ABN Amro.


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