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Democratas e republicanos atacam plano
Em audiência tensa no Senado, Bernanke defende compra valorizada de títulos podres e diz que, sem pacote, virá recessão
Apesar de primeira reação contrária no Congresso, nenhum parlamentar ameaça bloquear votação, o que deve agilizar aprovação
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Numa audiência tensa, que
durou quase cinco horas e foi
interrompida por gritos de manifestantes, o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, e
o secretário do Tesouro, Henry
Paulson, defenderam no Congresso o pacote de US$ 700 bilhões contra a crise financeira.
Ambos pediram aprovação
rápida do pacote, para evitar falências em massa. As incertezas
quanto ao pacote seguiram ontem ampliando as perdas nos
mercados, com o Dow Jones
recuando 1,47%, e a Bovespa,
3,78%.
"Devemos fazer isso para impedir uma série sucessiva de falências de instituições financeiras e o congelamento dos
mercados de crédito, que
ameaçam o bem-estar financeiro das famílias americanas, a
viabilidade de pequenas e grandes empresas e a própria saúde
da economia", afirmou o secretário do Tesouro.
"Se os mercados não estiverem funcionando, empregos
serão perdidos, a taxa de desemprego subirá, mais casas
entrarão em inadimplência, o
PIB vai se contrair e a economia simplesmente não será capaz de se recuperar", ameaçou
Bernanke, em depoimento ao
Comitê de Bancos do Senado.
Bernanke acenou com a
compra de títulos das empresas
em dificuldade por valores acima dos de mercado hoje, como
maneira efetiva de conter a crise. Fazer isso ajudaria a economia a "descongelar", afirmou,
no que definiu "não como um
gasto de US$ 700 bilhões, mas
uma compra de ativos". É a primeira vez que tanto Bernanke
quanto Paulson acenam com
quanto pagariam pelos papéis.
A compra de ativos podres
para venda posterior, com o
mercado já acalmado, é a base
do plano. Bem executada, disse
Bernanke, pode vir a render
"um bom dinheiro para os contribuintes". Além disso, defendeu, "não podemos impor medidas punitivas às empresas
que escolherem vendê-los -isso eliminaria ou reduziria fortemente a participação delas e
faria o programa fracassar".
Paulson pediu agilidade na
votação. "Sinto uma urgência
grande e acredito que [a aprovação] tenha de sair nesta semana ou antes de vocês saírem", afirmou, referindo-se ao
recesso eleitoral do Congresso
na sexta-feira, mas que pode
ser adiado, se for necessário.
As falas foram seguidas de
uma sessão de perguntas e respostas por vezes ásperas, e o clima era de urgência histórica.
"Essa pode ser a audiência mais
importante de nosso comitê
nos 22 anos em que sou membro", disse Richard Shelby. A
defesa do governo, no entanto,
restringia-se aos próprios depoentes, Bernanke e Paulson.
Apesar de ser do mesmo partido do governo, Shelby foi um
dos que lideraram a saraivada
de ataques. "Precisamos de alternativas, não podemos resolver essa crise gastando uma
quantidade enorme de dinheiro em papéis ruins", disse. "Esse resgate massivo não é uma
solução", concordou seu colega
Jim Bunning. "É socialismo financeiro e é antiamericano."
Outros compararam a pressa
exigida e a falta de detalhes do
plano apresentado à aprovação
do Ato Patriota, logo após os
ataques de 11 de Setembro de
2001, que ampliou de maneira
sem precedentes os poderes do
Executivo. "O que eles nos
mandaram não é aceitável",
disse o democrata Christopher
Dodd. "Depois de ler a proposta, só posso concluir que não só
nossa economia está em risco
mas também a Constituição."
Dodd disse ainda que a crise
era "totalmente previsível" e
que estava "zangado" com a
possibilidade de os "autores
dessa calamidade", os banqueiros de Wall Street, saírem bem
da crise com dinheiro dos contribuintes. Paulson também se
disse "zangado", mas afirmou
que estava fazendo o melhor
para os contribuintes.
Senadores perguntavam se o
total pedido, que eleva o endividamento americano para US$
11,3 trilhões -ou US$ 2.300 por
habitante do país-, não poderia ser liberado em parcelas.
Não, isso inviabilizaria o plano,
respondeu Paulson. O governo
bate pé numa medida "limpa",
que dê amplos poderes para
que o Tesouro decida como
usar os US$ 700 bilhões.
A oposição pede maior vigilância no uso do dinheiro, que o
governo receba ações das empresas socorridas em troca, que
executivos de empresas em dificuldades sejam punidos e que
os mutuários sejam ajudados.
Na Câmara dos Deputados, o
projeto também foi criticado
por democratas e mesmo republicanos, apesar da visita que o
vice-presidente dos EUA, Dick
Cheney, fez aos líderes de seu
partido na Casa.
Aos poucos, no entanto, Congresso e Casa Branca parecem
caminhar em direção à aprovação de um pacote. Um indicador é o fato de, apesar de todas
as críticas, nenhum senador ter
ameaçado bloquear a votação
usando o regimento.
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