|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Com crise, país terá menos capital externo em 2009
Estimativa é que fluxo de empréstimos e investimentos caia
13% e fique em US$ 11,9 bi; para o BC, situação é financiável
Investimentos externos em
ações e em títulos de renda
fixa devem ter maior queda;
na semana passada, mercado
financeiro perdeu US$ 2,6 bi
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com o agravamento da crise
financeira norte-americana, o
Brasil deve contar com US$ 11,9
bilhões a menos no ano que
vem para financiar suas contas
externas, segundo estimativa
feita pelo Banco Central.
O valor se refere à queda nos
fluxos de empréstimos e investimentos estrangeiros para o
país em 2009, na comparação
com o resultado esperado para
este ano.
Ao todo, o fluxo de capital deve passar de US$ 90,2 bilhões
para US$ 78,3 bilhões, com
queda de 13%. O maior recuo é
esperado nos investimentos
externos no mercado brasileiro
de ações e títulos de renda fixa.
Entre janeiro e agosto, essas
aplicações responderam pela
entrada de US$ 16,7 bilhões no
país, devendo chegar a US$ 22
bilhões até o final do ano, de
acordo com o Banco Central.
Para 2009, porém, a expectativa é de ingresso de US$ 15 bilhões, com redução de 32% em
relação ao saldo projetado para
2008.
"Temos uma situação de balanço de pagamentos perfeitamente financiável em 2009,
mas com uma certa retração
nos fluxos [de capital estrangeiro], evidentemente refletindo a crise. Não podia ser diferente", diz o chefe do Departamento Econômico do Banco
Central, Altamir Lopes.
Os números mostram que,
até agora, o maior impacto da
crise no Brasil foi sentido no
mercado financeiro. Entre os
dias 12 e 19 deste mês, período
marcado por eventos como a
quebra do banco de investimentos Lehman Brothers e do
socorro oficial à seguradora
AIG nos Estados Unidos, o
mercado brasileiro perdeu US$
2,6 bilhões.
Investimentos diretos
Já os investimentos estrangeiros diretos, diz Lopes, estão
sendo menos afetados pelas recentes turbulências. No mês
passado, o fluxo de capital para
o Brasil foi de US$ 4,6 bilhões, e
dados parciais fechados ontem
apontam para a entrada de
mais US$ 5,3 bilhões neste mês.
Ainda assim, o Banco Central
estima que o ingresso desse tipo de investimento no país deva baixar dos US$ 35 bilhões esperados neste ano para US$ 33
bilhões no ano que vem. Até ontem, o saldo acumulado em
2008 estava em US$ 29,8 bilhões.
Por último, o Banco Central
também espera queda no volume de empréstimos externos
de longo prazo (superior a um
ano) direcionados ao Brasil.
Neste ano, essas captações devem ficar em US$ 33,2 bilhões,
caindo para US$ 30,3 bilhões
no ano que vem.
De acordo com Lopes, esse
valor deve ser suficiente para
que o setor privado refinancie
100% das parcelas de suas dívidas com vencimento em 2009.
Entre janeiro e agosto, a taxa de
rolagem ficou em 163%, ou seja,
os empréstimos contraídos foram mais do que suficientes para honrar os compromissos que
venceram. Neste mês, até ontem, essa taxa estava em 119%.
Para o economista Antônio
Corrêa de Lacerda, professor
da PUC-SP, o problema da redução na entrada de recursos
externos no Brasil é que ele
acontece num momento em
que o país volta a ter déficit nas
suas contas externas, o que não
acontecia desde 2002.
Ainda assim, ressalta o economista, as elevadas reservas
em moeda estrangeira do governo (US$ 206 bilhões) podem ajudar o país a atravessar
esse período de turbulências
com um pouco mais de tranqüilidade.
"O fluxo de capitais deve diminuir, mas não a ponto de inviabilizar o financiamento das
contas externas", diz Lacerda.
Texto Anterior: BNDES está "equipado" contra escassez de crédito, afirma Luciano Coutinho Próximo Texto: Turbulência pode dificultar aperto fiscal, diz Goldfajn Índice
|