São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 2008

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Com crise, país terá menos capital externo em 2009

Estimativa é que fluxo de empréstimos e investimentos caia 13% e fique em US$ 11,9 bi; para o BC, situação é financiável

Investimentos externos em ações e em títulos de renda fixa devem ter maior queda; na semana passada, mercado financeiro perdeu US$ 2,6 bi

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com o agravamento da crise financeira norte-americana, o Brasil deve contar com US$ 11,9 bilhões a menos no ano que vem para financiar suas contas externas, segundo estimativa feita pelo Banco Central.
O valor se refere à queda nos fluxos de empréstimos e investimentos estrangeiros para o país em 2009, na comparação com o resultado esperado para este ano.
Ao todo, o fluxo de capital deve passar de US$ 90,2 bilhões para US$ 78,3 bilhões, com queda de 13%. O maior recuo é esperado nos investimentos externos no mercado brasileiro de ações e títulos de renda fixa.
Entre janeiro e agosto, essas aplicações responderam pela entrada de US$ 16,7 bilhões no país, devendo chegar a US$ 22 bilhões até o final do ano, de acordo com o Banco Central.
Para 2009, porém, a expectativa é de ingresso de US$ 15 bilhões, com redução de 32% em relação ao saldo projetado para 2008.
"Temos uma situação de balanço de pagamentos perfeitamente financiável em 2009, mas com uma certa retração nos fluxos [de capital estrangeiro], evidentemente refletindo a crise. Não podia ser diferente", diz o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes.
Os números mostram que, até agora, o maior impacto da crise no Brasil foi sentido no mercado financeiro. Entre os dias 12 e 19 deste mês, período marcado por eventos como a quebra do banco de investimentos Lehman Brothers e do socorro oficial à seguradora AIG nos Estados Unidos, o mercado brasileiro perdeu US$ 2,6 bilhões.

Investimentos diretos
Já os investimentos estrangeiros diretos, diz Lopes, estão sendo menos afetados pelas recentes turbulências. No mês passado, o fluxo de capital para o Brasil foi de US$ 4,6 bilhões, e dados parciais fechados ontem apontam para a entrada de mais US$ 5,3 bilhões neste mês.
Ainda assim, o Banco Central estima que o ingresso desse tipo de investimento no país deva baixar dos US$ 35 bilhões esperados neste ano para US$ 33 bilhões no ano que vem. Até ontem, o saldo acumulado em 2008 estava em US$ 29,8 bilhões.
Por último, o Banco Central também espera queda no volume de empréstimos externos de longo prazo (superior a um ano) direcionados ao Brasil. Neste ano, essas captações devem ficar em US$ 33,2 bilhões, caindo para US$ 30,3 bilhões no ano que vem.
De acordo com Lopes, esse valor deve ser suficiente para que o setor privado refinancie 100% das parcelas de suas dívidas com vencimento em 2009. Entre janeiro e agosto, a taxa de rolagem ficou em 163%, ou seja, os empréstimos contraídos foram mais do que suficientes para honrar os compromissos que venceram. Neste mês, até ontem, essa taxa estava em 119%.
Para o economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP, o problema da redução na entrada de recursos externos no Brasil é que ele acontece num momento em que o país volta a ter déficit nas suas contas externas, o que não acontecia desde 2002.
Ainda assim, ressalta o economista, as elevadas reservas em moeda estrangeira do governo (US$ 206 bilhões) podem ajudar o país a atravessar esse período de turbulências com um pouco mais de tranqüilidade.
"O fluxo de capitais deve diminuir, mas não a ponto de inviabilizar o financiamento das contas externas", diz Lacerda.


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