São Paulo, domingo, 24 de outubro de 2004

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Parceria com ingleses foi o pontapé inicial

DA REPORTAGEM LOCAL

Convencido por um amigo a explorar os free shops no Brasil, o empresário Jonas Barcellos Corrêa Filho, 68, conta que domina o negócio porque montou uma estrutura em parceria com a multinacional inglesa Allders.
Diz que detém o know-how porque, apesar de perder dinheiro no negócio, não desistiu. No Egito, perdeu US$ 7 milhões após levar um "tombo" dos árabes.
A Brasif, que nasceu em Minas Gerais em 1965 como uma distribuidora de aço da Belgo Mineira, atua hoje em diferentes setores -empreendimentos imobiliários, aluguel de máquinas pesadas, criação e desenvolvimento genético de gado Nelore.
Corrêa Filho foi sócio de Flávio Pentagna Guimarães, dono do banco BMG, de Minas. Um dos seus mais recentes negócios é a Brex America, em sociedade com o ex-secretário da Camex Roberto Giannetti da Fonseca (dono da Silex Trading) e o empresário Werner Batista. Com escritórios em Miami e Boston, a empresa distribui produtos brasileiros em supermercados americanos.
A seguir, trechos da entrevista de Corrêa Filho. (FF e CR)
 

Folha - Como o sr. conseguiu o monopólio do negócio no Brasil?
Jonas Barcellos Corrêa Filho -
Quando entramos na concorrência em São Paulo, ninguém queria saber disso. Agora todo mundo quer. É muito difícil a concorrência. Montamos uma estrutura no exterior há muitos anos, com a ajuda da empresa que tinha experiência e dominava na Inglaterra o negócio dos duty-frees, a Allders. No início, os ingleses queriam "engolir" a gente, mas acertamos o negócio com 60% nosso e 40% deles. Perdemos dinheiro. O Brasil entrou em crise, e a Allders nos deu crédito no mundo. Criamos um relacionamento extraordinário com os fornecedores, com um volume de compras de peso. Conseguimos dar continuidade aos negócios e comprar a participação da Allders.

Folha - Qual o faturamento dos duty-frees no Brasil?
Corrêa Filho -
Prefiro não dizer. Nossa previsão de faturamento do grupo todo para este ano, incluindo todos os negócios, é da ordem de US$ 280 milhões. No mundo, o faturamento das empresas operadoras de duty-frees é de US$ 20 bilhões por ano, dos quais US$ 9 bilhões vêm de lojas instaladas nos embarques e desembarques de aeroportos. O restante, de free shops instalados em navios, trens e lojas de fronteira.

Folha - A Receita faz uma fiscalização rigorosa?
Corrêa Filho -
Vocês não têm idéia de como somos fiscalizados. E exijo isso também do nosso pessoal. Quando reclamam da fiscalização, falo para eles: "Nós temos de ser mais chatos do que eles, pois isso é segurança para mim e para todo mundo". Quando um contêiner de mercadorias chega, eles conferem item por item e acompanham a transferência das mercadorias até as lojas.

Folha - Como o sr. consegue se manter durante tanto tempo sozinho no negócio?
Corrêa Filho -
Participamos de concorrência pública feita pela Receita Federal e pela Infraero. Quando há reformas e mudanças nos aeroportos, há prorrogação dos contratos para amortizar os investimentos. Em São Paulo, nosso contrato vai até 2014. Foi feito um acordo com a AGU [Advocacia Geral da União] depois que entramos na Justiça, quando foi construído o segundo terminal de Guarulhos. No acordo, foi reconhecido o nosso direito de desdobrar a atividade para esse segundo terminal.

Folha - O sr. explora esse negócio fora do país?
Corrêa Filho -
Entramos no Cairo [Egito] há cerca de 20 anos. Ficamos lá durante dois anos. Mas tomamos um "tombo" dos árabes e perdemos US$ 7 milhões.

Folha - O que ocorreu?
Corrêa Filho -
Os árabes nos enrolaram. Pagávamos um percentual sobre o número de passageiros. Mas, após vários investimentos, nos transferiram de terminal. Em vez de chegarem vôos internacionais, como estava previsto inicialmente, houve mudanças. Transferiram os árabes e vôos domésticos para o nosso terminal. Havia mais árabes do que turistas. Ninguém comprava, e o número de passageiros aumentou. O percentual pago também.

Folha - O sr. planeja disputar outras concorrências?
Corrêa Filho -
Estou interessado em Miami [EUA], onde já temos um escritório e depósito. Vai ser aberta [a concorrência] no início de o ano que vem. Mas o edital ainda não saiu.


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