São Paulo, quarta-feira, 24 de outubro de 2007

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Caso Cisco freia vendas em pólo de empresas de Ilhéus

Fábricas que não estão entre as investigadas dizem que clientes ameaçam cortar pedidos

PF investiga 4 empresas da região, suspeitas de usar benefício fiscal em suposto esquema de fraudes em favor da multinacional

Lúcio Távora/"A Tarde"
Linha de montagem no pólo de informática de Ilhéus, na Bahia


LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ILHÉUS

A Operação Persona, da Polícia Federal, não atingiu apenas as empresas acusadas de subfaturamento de produtos de informática e telecomunicações. Em Ilhéus (462 km ao sul de Salvador), onde está o maior pólo de informática da Bahia, com 57 empresas, pelo menos oito fornecedores não aceitaram as solicitações para aumentar o limite de crédito das indústrias, e alguns clientes ameaçam cancelar as compras efetuadas antes da ação da PF.
"Ninguém quer ligar os seus nomes às empresas que estão sob suspeita de irregularidades", disse Paulo Carvalho, diretor industrial da Bitway. De acordo com Carvalho, apesar de apenas quatro empresas serem alvo das investigações em Ilhéus, a imagem do pólo "é a pior possível". "Os clientes e fornecedores imaginam que todas as empresas estão envolvidas, o que não é verdade."
Na semana passada, agentes da Polícia Federal descobriram um esquema ilegal de compras e vendas que envolvia a líder mundial no setor de tecnologia da informação, a Cisco System.
Em Ilhéus, os agentes da PF apontaram irregularidades em quatro empresas -Waytec, Prime, Livon e Brastec. Segundo a PF, essas empresas seriam o "canal de importação" no Brasil da Mude, que se apresentava como revendedora dos produtos da Cisco no Brasil.
A Folha visitou as fábricas das quatro empresas. Em todas elas, recebeu a informação de que nenhum diretor poderia falar com a reportagem. A Waytec, por meio de sua assessoria em São Paulo, disse que está "colaborando com as investigações".
Diretor da Syntax, Roberto Aguiari disse que uma instituição bancária insinuou que pode cortar o crédito da empresa por causa da ação da PF. "Todos os empresários do pólo de Ilhéus compram em grandes quantidades, e os fornecedores agora têm medo de vender porque acham que podem não receber", afirmou.
"Há uma desconfiança muito grande dos clientes depois da operação da Polícia Federal", disse Alexandre Viana, diretor de fábrica da Daten.
"Se o cenário não mudar rapidamente, vamos para outro Estado porque ninguém vai ficar em Ilhéus para fechar as portas", afirmou Paulo Carvalho. A maior preocupação de Carvalho são as vendas que acontecem neste último trimestre, época de maior faturamento das empresas.
"Mais de 50% das nossas vendas acontecem nos três últimos meses do ano", disse Roberto Aguiari.
"Clientes que já tinham fechado grandes compras agora querem mais informações e ameaçam adquirir os produtos de empresas instaladas em outros pólos de informática."
O diretor-executivo da Notecel, Rinaldo Barroso, disse que, após a ação da PF, fiscais da Receita e do governo baiano estão "vasculhando" os livros contábeis das empresas. "Até mesmo as que foram alvos de investigações há pouco tempo estão sendo vistoriadas novamente."
Paulo Carvalho disse que as prisões e apreensões de documentos pela PF podem dificultar outra reivindicação das empresas -o aumento do limite para a importação de produtos.


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