São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2008

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Dólar vai a R$ 2,52, e BC eleva intervenção

BC anuncia disposição de injetar até US$ 50 bi no mercado cambial e moeda americana recua 3,15%, para R$ 2,30

Além de oferecer papéis que rendem a variação cambial e os juros, banco vende dólares no mercado à vista com taxas de até R$ 2,28

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Após o dólar chegar a R$ 2,52 ontem, o Banco Central anunciou que está disposto a injetar até US$ 50 bilhões no mercado para conter a alta da moeda norte-americana, que vem desestabilizando empresas e a economia como um todo.
Analistas criticavam o BC por não atuar mais firmemente no câmbio apesar das reservas recordes de US$ 200 bilhões. Após o anúncio de ontem, a moeda americana recuou e fechou o dia a R$ 2,305, com baixa de 3,15%. Mas apenas em outubro o dólar já subiu 21%. No ano, a alta chega a quase 30%, uma das maiores no mundo.
A intervenção anunciada será por meio de contratos de "swap" cambial, papéis que equivalem a uma venda futura de dólares e que ajudam a reduzir a pressão sobre o dólar.
Pouco depois da abertura dos negócios, quando a cotação do dólar se aproximava de R$ 2,55, o BC informou, por meio de um comunicado, que a medida faz parte de sua "estratégia de mitigação do impacto da crise financeira internacional sobre a economia brasileira".
A medida foi recebida como um "arsenal bélico" para derrubar a cotação do dólar, hoje pressionado pela desmontagem da exposição cambial de empresas exportadoras, como Sadia e Aracruz, que apostaram na valorização do real, e pela crise global, que gera uma "corrida para segurança" que faz a moeda dos EUA subir com força em todo o mundo.
Além de duas intervenções com títulos cambiais, o BC vendeu dólares à vista duas vezes pela manhã. Quando o mercado testava o patamar de R$ 2,50, o BC entrou vendendo a moeda a R$ 2,31. Logo depois, vendeu dólares a R$ 2,282.
"O BC mostrou a estratégia e o tamanho da munição. Havia uma dúvida se a munição estava acabando, e ele respondeu que não. US$ 50 bilhões é um volume excessivo, que pode comprimir a taxa para baixo", disse Sidnei Nehme, diretor da corretora de câmbio NGO.
"Com US$ 50 bilhões derruba até o Pão de Açúcar. É uma operação emergencial que oferece uma linha de crédito, mas não é oferta líquida de câmbio. Não tem influência na formação na taxa. Tanto é que só quando o BC ofereceu linha à vista que derrubou a taxa", disse Nathan Blanche, sócio da Tendências Consultoria.
Quando vende um contrato de "swap" cambial, o BC se compromete a pagar aos bancos toda a variação apresentada pela cotação do dólar em um determinado período. Em troca, recebe uma taxa de juros predeterminada. Embora todos os pagamentos sejam em reais, a transação equivale a uma venda de dólares.
O BC tem injetado contratos de "swap" no mercado desde o dia 6. De lá para cá, as vendas somaram US$ 16,2 bilhões, já considerando US$ 2,2 bilhões fechadas ontem.
O comunicado de ontem não indica nenhuma mudança na forma (só na intensidade) de atuação do BC para tentar conter o dólar nem significa que a ação ficará limitada aos US$ 50 bilhões em contratos de "swap". A intenção foi mostrar que está disposto a agir caso considere que o câmbio esteja excessivamente distorcido pela especulação ou baixa liquidez.
Além do "swap", o BC deve continuar atuando por meio da venda de dólares no mercado, o que pode ser feito de diversas maneiras. Na segunda-feira passada, por exemplo, US$ 1,6 bilhão foi emprestado a bancos sob o compromisso de que os recursos sejam repassados para exportadores na forma de linhas de financiamentos.
Além disso, neste mês, até a semana passada, US$ 3,2 bilhões tinham sido vendidos diretamente no mercado de câmbio doméstico, com o objetivo de atender a parte da demanda dos investidores. Outros US$ 3,7 bilhões foram injetados por leilões casados de compra e venda de dólares. Nessas ofertas, o BC vende dólares para os bancos, que se comprometem a revender o mesmo volume de recursos de volta para o BC depois de um certo tempo.


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