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Greenspan admite ter errado "parcialmente"
Ex-chefe do Fed, antes visto como "oráculo" do mercado, é inquirido duramente sobre sua atuação no BC dos EUA
Greenpsan depõe durante 4 horas e diz que errou ao crer que as próprias instituições teriam receio de operações que pudessem quebrá-las
FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
Antes tratado com deferência e respeito, o "maestro" Alan
Greenspan ontem enfrentou
perguntas duras dos congressistas americanos ao ser questionado se não houve negligência das autoridades em relação
à atual crise financeira global.
Foram cerca de quatro horas
de questionamento sobre a capacidade do mercado funcionar com poucas regras e ter capacidade de reagir sozinho a
crises. Acuado, o ex-presidente
do Fed (o BC dos EUA) de 1987
a 2006, admitiu ter errado, mas
apenas "parcialmente".
Greenspan, 82, foi nas últimas décadas o maior defensor
do livre mercado e da auto-regulamentação das instituições
financeiras, com o mínimo de
intervenção do Estado.
Depois de ler um texto preparado previamente, Greenspan passou a ser diretamente
inquirido pelos congressistas.
O deputado democrata Henry
Waxman, da Califórnia, que
preside da comissão na qual se
deu o depoimento, argumentou que Greenspan "tinha autoridade para interromper as
práticas de empréstimos irresponsáveis que alimentaram o
mercado de empréstimos imobiliários subprime [de baixa
qualidade], mas "rejeitou os
apelos para que interviesse".
Conhecido como "oráculo"
por muitos anos no mercado,
Greenspan passou a manhã toda acuado. Waxman fez a pergunta que nunca ninguém tinha feito de forma tão explícita,
e em público: "O sr. errou?".
Constrangido, o economista
respondeu: "Parcialmente".
Ao elaborar sobre o sistema
de livre mercado, disse: "Eu encontrei uma falha". Esse defeito, argumentou, foi ter acreditado durante quatro décadas
que as próprias instituições que
fazem empréstimos fosse capacitadas para proteger o interesse dos seus controladores. Ou
seja, que um banco não vai começar a emprestar dinheiro de
maneira irresponsável porque
sabe que vai à falência.
"Aqueles de nós, eu inclusive,
que esperávamos que o interesse próprio das instituições de
empréstimo protegesse os
acionistas estão em estado de
descrença e choque", afirmou.
Waxman não se contentou e
fez o que pôde para expressar
sua insatisfação. "O sr. foi aconselhado [a impor limites ao
mercado] por tanta gente (...) e
agora a economia inteira está
pagando o preço. O mantra era
que a regulamentação do governo era errada. Que o mercado era infalível", disse.
Ao admitir que errara apenas
"parcialmente, Greenspan se
referiu a algum tipo de regulamentação para o mercado de
derivativos. Não está agora defendendo uma regra geral para
todas essas operações, mas só
às conhecidas como "credit default swaps", os derivativos de
crédito. O restante continuaria
livre de regras, inclusive contratos sobre a variação cambial
-os que mais afetaram empresas no Brasil.
O desafio agora, declarou
Greenspan, será os congressistas e as autoridades reguladoras enfrentarem a questão
"muito grande para quebrar".
Trata-se da tese de que certas
instituições financeiras são tão
agigantadas que o custo de uma
falência seria sempre maior do
que um socorro do governo
-por causa do risco sistêmico.
Para Greenspan, é necessário
que sejam definidas algumas
"punições" para os grandes
bancos que se arrisquem a ponto de ficarem em situação de
pré-falência para que não tenham sempre uma vantagem
injusta sobre rivais menores.
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