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FMI apoia taxação de estrangeiro no país
Diretor diz que é preciso usar instrumentos de proteção contra excesso de entrada de recursos e ataca política cambial da China
FMI recomenda ainda que o Brasil comece a retirar os
estímulos fiscais dados no
auge da crise global, a fim de
evitar o superaquecimento
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
Em um primeiro momento
relutante ao avaliar a decisão
do governo brasileiro de taxar
os investimentos estrangeiros
em renda fixa e na Bolsa de Valores, ontem o FMI (Fundo
Monetário Internacional) deu
o seu respaldo à medida.
"Estamos diante de um problema pragmático, não de um
problema ideológico. Vivemos
em um mundo que não é o
ideal. Então, quando os outros
não agem de acordo com as regras, tampouco eu posso me
comportar de maneira ortodoxa. Tenho que usar instrumentos heterodoxos, defender-me
de alguma forma. E é assim",
disse, em São Paulo, Nicolás
Eyzaguirre, diretor do Departamento para o Hemisfério
Ocidental do Fundo.
Quando fala em nações que
não obedecem às normas, ele se
refere à China, que tem política
de controle da taxa cambial que
impede a flutuação do yuan.
Eyzaguirre emprega a primeira pessoa para colocar qual
é, na sua visão, a maneira mais
apropriada de agir neste momento porque ele próprio já teve que enfrentar o "monstro
dos fluxos excessivos de capital" quando era ministro da Fazenda do Chile, de 2000 a 2006.
"Então, a minha preocupação
de amigo é que o Brasil se assegure de lançar mão de ferramentas as mais eficientes possíveis, que abarquem toda forma de entrada de recursos no
país", afirmou, explicando que
até operações de comércio exterior muitas vezes podem ser
utilizadas para disfarçar ingressos. Os chamados investimentos diretos -aqueles feitos
em estruturas produtivas- não
devem estar sujeitos a tal controle, ressalvou o economista.
Por conta dos desequilíbrios
que este início de pós-crise
apresenta, o Brasil precisa administrar a situação vantajosa
em que se encontra, diz Eyzaguirre. Como os outros emergentes que fizeram de uma política anticíclica a sua principal
estratégia para combater os
efeitos da crise, o país tem que
começar a retirar os estímulos
fiscais concedidos. Aí se encaixam os descontos de IPI para
automóveis, eletrodomésticos
e material de construção.
Se isso não for feito, alerta o
Fundo, o esforço do governo vai
se somar aos esperados aumentos do consumo e dos investimentos dos empresários locais,
levando a um superaquecimento da atividade.
Retirar os incentivos, portanto, também ajudaria indiretamente a impedir valorizações
excessivas do real porque adiaria o momento de o BC voltar a
elevar a taxa básica de juros.
Enquanto isso, as nações
mais industrializadas enfrentarão retomada "lenta e penosa"
e não devem pensar em suspender logo os pacotes de socorro à economia que criaram,
disse Eyzaguirre. A América
Central, que depende do turismo dos americanos e das remessas feitas a partir dos EUA
por seus cidadãos que lá residem, sofrerá por consequência.
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