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OPINIÃO
Câmbio chinês ameaça economia mundial
PAUL KRUGMAN
DO "NEW YORK TIMES"
AS AUTORIDADES de
política monetária importantes em geral falam em código. Assim, quando
Ben Bernanke, o presidente do
Federal Reserve (BC dos EUA),
falou recentemente sobre a
Ásia, desequilíbrios internacionais e a crise financeira, ele não
fez críticas específicas à absurda política cambial chinesa.
Mas nem precisava: todo
mundo compreendeu o subtexto. O mau comportamento da
China é uma ameaça para o restante da economia mundial. A
questão agora é o que o mundo
-e especialmente os EUA-
pretende fazer a respeito.
Alguns dados: o valor da
moeda chinesa, diferentemente do que ocorre com, digamos,
a libra esterlina, não é determinado por oferta e procura. Em
lugar disso, as autoridades chinesas o impõem como meta,
por meio da venda ou da compra de sua moeda no mercado
internacional de câmbio.
Não há nada de necessariamente errado com essa política,
especialmente em um país ainda pobre cujo sistema financeiro poderia ser desestabilizado
por fluxos voláteis de "hot money". O sistema serviu bem à
China durante a crise financeira asiática do fim dos anos 90. A
questão, porém, é determinar
se o valor do yuan é razoável.
Até cerca de 2001, seria possível argumentar que sim. A posição geral da China no comércio externo não estava muito
distante do equilíbrio. Dali por
diante, no entanto, a política de
manter uma paridade fixa entre o dólar e o yuan passou a parecer cada vez mais bizarra.
Acima de tudo, o dólar caiu de
valor, especialmente diante do
euro, e, por isso, ao manter fixa
a taxa de câmbio entre yuan e
dólar, as autoridades monetárias chinesas estavam, na prática, desvalorizando sua moeda
ante todas as demais. Enquanto isso, a produtividade nos setores chineses de exportação
disparava; combinado à efetiva
desvalorização da moeda, isso
tornou os bens chineses baratos nos mercados mundiais.
O resultado foi um imenso
superavit comercial chinês. Se
a lei de oferta e procura tivesse
sido autorizada a funcionar, o
valor da moeda chinesa teria
subido. Mas as autoridades chinesas não permitiram uma alta.
Mantiveram o yuan em baixa
cotação por meio da venda de
vastos volumes da moeda e adquiriram em troca um enorme
acúmulo de reservas cambiais.
Muitos economistas, entre
os quais me incluo, acreditam
que a onda de compra de ativos
pela China ajudou a inflar a bolha da habitação e a preparar o
terreno para a crise financeira
mundial. Mas a insistência chinesa em manter a paridade fixa
entre dólar e yuan pode causar
ainda mais estragos agora.
Dólar fraco
Ainda que existam muitas
previsões pessimistas sobre a
queda do dólar, ela é tanto natural quanto desejável. Os EUA
precisam de um dólar mais fraco para ajudar a reduzir seu deficit e estão obtendo esse dólar
mais fraco, à medida que os investidores, depois de correr para os ativos americanos em
busca de suposta segurança no
pico da crise, passam a pôr seu
dinheiro em outros mercados.
Mas a China continua mantendo sua moeda atrelada ao
dólar, o que significa que um
país com imenso superavit comercial e economia em rápida
recuperação, ou seja, um país
cuja moeda deveria estar subindo de valor, na prática promove grande desvalorização.
E isso é uma atitude especialmente negativa em um momento no qual a economia
mundial continua deprimida.
Ao manter uma política de
moeda fraca, a China suga parte
dessa demanda inadequada,
em detrimento de outros países, e isso prejudica o crescimento em quase toda parte.
O que deveríamos fazer?
As autoridades norte-americanas vêm demonstrando extrema cautela quanto a confrontar o problema chinês, a ponto de, na semana passada, o
Departamento do Tesouro, a
despeito de expressar "preocupações", ter atestado que a China não está -repito: não está-
manipulando sua moeda. Eles
devem estar brincando, certo?
E o fato é que esse tipo de
cautela faz pouco sentido em
um momento como o atual. Suponham que os chineses façam
o que Wall Street e Washington
parecem temer e comecem a
vender parte de suas reservas
em dólar. Sob as condições
atuais, isso ajudaria a economia
dos EUA, ao tornar suas exportações mais competitivas.
Com a economia mundial em
estado ainda precário, políticas
prejudiciais aos parceiros não
deveriam ser toleradas, da parte dos grandes agentes econômicos. É preciso fazer alguma
coisa quanto à moeda chinesa.
PAUL KRUGMAN , economista, é colunista do
"New York Times" e professor na Universidade
Princeton (EUA).
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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