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Rodada Doha assombra negociadores com retrocesso
Brasil, China e Argentina temem agora retirada de concessões já oferecidas
Quadro atual pode levar não apenas à não conclusão da rodada em 2010 como a um recuo nas negociações, diz embaixador do Brasil na OMC
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
Em seu último suspiro, a Rodada Doha agora assombra
seus negociadores com uma
possibilidade além do impasse:
a de que haja recuo no que os
países já ofereceram como concessão em busca de um acordo
de liberalização comercial.
A China e a Argentina ontem
se somaram ao Brasil ao ventilar um temor de retrocesso já
latente pelos corredores da
OMC (Organização Mundial de
Comércio) em Genebra na última semana, quando se reuniu o
Conselho Geral.
Não concluir o acordo até
2010 é o mal menor para as três
delegações, que agora focam
em "garantir" que nada mais
seja tirado do debate.
O Brasil foi definido como o
mais pessimista por quem estava presente às reuniões.
"Infelizmente, a situação
atual, na qual o quadro político
de um único membro impede o
andamento [das negociações],
pode levar não apenas à não
conclusão da rodada em 2010
como a um retrocesso de anos
nas negociações comerciais",
dizia à Folha já na quarta o embaixador do Brasil na OMC,
Roberto Azevedo.
A alusão óbvia é aos EUA, onde um governo com espaço de
manobra milimétrico ante um
Congresso em que pesa o forte
lobby agrícola não parece disposto a gastar seu minguante
capital político em Genebra.
Na sexta, Azevedo repetiu a
frase em plenária. Os chineses
ecoaram que, sem progresso, "é
bom começar a pensar em segurar o que está na mesa".
O tom dissonante, embora
ainda pessimista, veio do diretor-geral da OMC, Pascal
Lamy, em discurso pela manhã. "Não houve recuo nas ambições, mas ao mesmo tempo
não vimos progresso tangível
nas negociações", disse, para
repetir seu novo mantra. "A velocidade atual com que avançamos é lenta demais para atingirmos todas as modalidades
no início do próximo ano."
Desânimo geral
A lista de descontentes é
crescente. Relatos distintos ouvidos pela reportagem dão conta de discussões intermináveis
onde não se tomam decisões.
Os suíços viram os debates da
semana como "um processo extremamente infeliz", e o negociador turco, Bozkurt Aran, definiu o encontro atual como "o
menos promissor" desde sua
chegada a Genebra no meio do
ano passado, conforme descreveu um dos presentes.
Os humores azedaram porque, em alguns casos, sobretudo nas questões agrícolas, os
participantes estão tirando da
mesa ofertas feitas na expectativa de ver a rodada avançar.
No que pode virar um círculo
vicioso, concessões dos países
em desenvolvimento em abrir
mais seus mercados foram consideradas insatisfatórias pelos
mais ricos, que barganham
maior penetração para aceitarem reduzir subsídios.
Esse é o principal debate a
ampliar o fosso aberto na mesa
de negociações. Assim, tornam-se frequentes encontros
bilaterais e plurilaterais, alguns
com chance de virar acordo.
O Brasil já anunciou que promoverá uma reunião com os
principais países emergentes
na véspera da reunião ministerial da OMC, que começa dia 30
de novembro.
E diferentemente de ocasiões passadas, americanos e
europeus não serão convidados
nem para observar, o que explicita o fosso. "O objetivo é fazermos uma avaliação de onde estamos na Rodada Doha e quais
os principais passos a tomar",
afirmou Azevedo.
A OMC, porém, não é entusiasta desses numerosos encontros plurilaterais nem dos
bilaterais, alegando que eles
são ruins para quem está de fora e roubam o foco de Doha.
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