São Paulo, sábado, 24 de outubro de 2009

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Rodada Doha assombra negociadores com retrocesso

Brasil, China e Argentina temem agora retirada de concessões já oferecidas

Quadro atual pode levar não apenas à não conclusão da rodada em 2010 como a um recuo nas negociações, diz embaixador do Brasil na OMC


LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

Em seu último suspiro, a Rodada Doha agora assombra seus negociadores com uma possibilidade além do impasse: a de que haja recuo no que os países já ofereceram como concessão em busca de um acordo de liberalização comercial.
A China e a Argentina ontem se somaram ao Brasil ao ventilar um temor de retrocesso já latente pelos corredores da OMC (Organização Mundial de Comércio) em Genebra na última semana, quando se reuniu o Conselho Geral.
Não concluir o acordo até 2010 é o mal menor para as três delegações, que agora focam em "garantir" que nada mais seja tirado do debate.
O Brasil foi definido como o mais pessimista por quem estava presente às reuniões.
"Infelizmente, a situação atual, na qual o quadro político de um único membro impede o andamento [das negociações], pode levar não apenas à não conclusão da rodada em 2010 como a um retrocesso de anos nas negociações comerciais", dizia à Folha já na quarta o embaixador do Brasil na OMC, Roberto Azevedo.
A alusão óbvia é aos EUA, onde um governo com espaço de manobra milimétrico ante um Congresso em que pesa o forte lobby agrícola não parece disposto a gastar seu minguante capital político em Genebra.
Na sexta, Azevedo repetiu a frase em plenária. Os chineses ecoaram que, sem progresso, "é bom começar a pensar em segurar o que está na mesa".
O tom dissonante, embora ainda pessimista, veio do diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, em discurso pela manhã. "Não houve recuo nas ambições, mas ao mesmo tempo não vimos progresso tangível nas negociações", disse, para repetir seu novo mantra. "A velocidade atual com que avançamos é lenta demais para atingirmos todas as modalidades no início do próximo ano."

Desânimo geral
A lista de descontentes é crescente. Relatos distintos ouvidos pela reportagem dão conta de discussões intermináveis onde não se tomam decisões.
Os suíços viram os debates da semana como "um processo extremamente infeliz", e o negociador turco, Bozkurt Aran, definiu o encontro atual como "o menos promissor" desde sua chegada a Genebra no meio do ano passado, conforme descreveu um dos presentes.
Os humores azedaram porque, em alguns casos, sobretudo nas questões agrícolas, os participantes estão tirando da mesa ofertas feitas na expectativa de ver a rodada avançar.
No que pode virar um círculo vicioso, concessões dos países em desenvolvimento em abrir mais seus mercados foram consideradas insatisfatórias pelos mais ricos, que barganham maior penetração para aceitarem reduzir subsídios.
Esse é o principal debate a ampliar o fosso aberto na mesa de negociações. Assim, tornam-se frequentes encontros bilaterais e plurilaterais, alguns com chance de virar acordo.
O Brasil já anunciou que promoverá uma reunião com os principais países emergentes na véspera da reunião ministerial da OMC, que começa dia 30 de novembro.
E diferentemente de ocasiões passadas, americanos e europeus não serão convidados nem para observar, o que explicita o fosso. "O objetivo é fazermos uma avaliação de onde estamos na Rodada Doha e quais os principais passos a tomar", afirmou Azevedo.
A OMC, porém, não é entusiasta desses numerosos encontros plurilaterais nem dos bilaterais, alegando que eles são ruins para quem está de fora e roubam o foco de Doha.


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