São Paulo, domingo, 24 de novembro de 2002

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CONJUNTURA

Apesar do aumento dos juros, diretor do banco não vê explosão da demanda, "pois não há excesso de compras"

FGTS ajuda a recuperar a economia, diz BC

Lula Marques-20.nov.02/ Folha Imagem
Armínio Fraga e Ilan Goldfajn, presidente e diretor do BC


LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A indústria começa a se recuperar, sobretudo os setores de bens de consumo não-duráveis, em grande parte devido ao dinheiro injetado na economia por conta da correção do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), segundo o diretor de Política Econômica do Banco Central, Ilan Goldfajn.
Goldfajn ressaltou, no entanto, que não "há nenhum "boom" [no lado da demanda]", que "não estamos num mundo de excesso de compras".
O diretor do BC não quis fazer associações entre a demanda e a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária), tomada na semana passada, de elevar os juros básicos da economia de 21% ao ano para 22%.
Até o dia 15 deste mês, de acordo com a CEF (Caixa Econômica Federal), o governo havia pago R$ 6,6 bilhões a trabalhadores com direito à reposição das perdas provocadas pelos planos econômicos Verão e Collor 1.
Segundo Goldfajn, parcela significativa da correção do FGTS foi sacada por pessoas de renda mais baixa, que costumam gastar quando têm dinheiro nas mãos.
"Já estamos vendo isso, eles [as pessoas de renda mais baixa] estão consumindo mais. Estamos vendo que a venda de bens de consumo não-duráveis [como alimentos e produtos de baixo valor unitário] têm crescido. Os estoques têm caído, o que tem levado a indústria a consumir [encomendar] mais", disse o diretor do BC à Folha.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o emprego na indústria teve pequena recuperação em setembro, depois de três meses consecutivos de queda. Houve um aumento de 1,3% no número de postos de trabalho em relação a agosto.
O nível de emprego acompanha a produção. A indústria contrata mais para atender maior procura por seus produtos.

Juros e Copom
Goldfajn argumentou que os motivos que levaram o BC a apertar ainda mais a política monetária serão conhecidos na quarta-feira, com a divulgação da ata da reunião do Copom.
Mas, se a demanda ainda está fraca, por que então o BC aumentou os juros? A análise de Goldfajn sobre o nível da atividade econômica reforça a tese, defendida por muitos economistas, de que a decisão do Copom não foi para tentar frear a elevação de preços, mas sim para reduzir as expectativas inflacionárias.
Neste mês, pela primeira vez desde que o sistema de metas para a inflação foi implantado, em meados de 1999, as projeções do mercado financeiro para o aumento de preços no ano subsequente são maiores do que as para o ano corrente.
No levantamento feito pelo BC com bancos divulgado na segunda semana deste mês, a média das expectativas para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em 2002 ficou em 8,76%. Para 2003, foi de 9%.
Na opinião do diretor do banco Itaú Sérgio Werlang, que ocupou o mesmo cargo que Goldfajn no BC, o aumento de juros foi claramente para conter as expectativas inflacionárias.
"Eles [a diretoria colegiada do BC, que forma o Copom] estavam olhando para as expectativas [de inflação], que subiram muito. Claramente o que está acontecendo é que há incerteza sobre quem será o próximo presidente do BC e qual a meta [de inflação] a ser seguida", disse.
Segundo Werlang, "as expectativas de inflação não estão tão ancoradas como estavam antes ao sistema de metas". Ou seja, por não se saber quem comandará o BC nem de que forma se dará o combate à inflação, as instituições financeiras passaram a duvidar da eficácia do sistema de metas.
Para reduzir a desconfiança em relação ao cumprimento da meta em 2003, o BC teria, então, elevado os juros.
Quando a crença de que a inflação subirá começa a se propagar, os agentes da economia antecipam reajustes de preços. Ou seja, o medo de inflação se transforma em elevação de preços.
A ação do BC de aumentar os juros pode ser vista como medida preventiva para evitar que as expectativas de inflação mais alta se alastrem pela economia.


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