São Paulo, domingo, 24 de novembro de 2002

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MUDANÇA DE HÁBITO

Consumidor já corta itens de primeira necessidade, como alimentos

Preço aumenta e comida diminui

JOSÉ SERGIO OSSE
DA REPORTAGEM LOCAL

Consumidores já deixam de comprar itens de primeira necessidade no supermercado por causa da alta da inflação nas últimas semanas. O salto nos preços começou a alterar profundamente os hábitos de consumo no país e, agora, já influi no cardápio dos brasileiros.
De acordo com consumidores, alguns dos produtos que mais subiram nos últimos meses integram a cesta básica e são, principalmente, alimentos. É o caso do arroz, que disparou nas últimas semanas. Um pacote de cinco quilos podia ser comprado a R$ 5,08 há pouco mais de três meses. Hoje, o mesmo produto é vendido por R$ 6,86, com aumento de 35,3%.
Os consumidores reclamam também do preço do feijão, que teria subido bastante. Porém, de acordo com o Procon, que realiza pesquisa diária de preços da cesta básica, o feijão ficou mais barato nos últimos três meses. Segundo a instituição, o pacote de um quilo caiu de R$ 1,98 para R$ 1,83 (menos 7,57%).
A segurança Ednalva Maria dos Santos Silva Rocha, 39, diz que, em outubro, comprou feijão por R$ 3,50 o quilo. Na semana passada, ao fazer as compras para este mês, disse ter pago R$ 4,50 pelo mesmo produto.
"Deixei de comprar macarrão há duas semanas por causa do preço. Costumava levar cinco pacotes, mas agora não dá mais. Faz bastante falta para as crianças, mas não há o que fazer", diz ela, mãe de três filhos pequenos.
Ela diz que a compra do mês costumava ficar em torno de R$ 350. Hoje, avalia, a mesma compra não custa menos de R$ 450.
"Normalmente, fazia uma compra só, para durar o mês todo. Hoje tenho de comprar picado, mudando de lugar atrás de preço menor."
Alguns consumidores, para não deixar de comprar a quantidade costumeira de alimentos ou para não mudar de marca, estão apelando por não levar outros produtos.
É o caso da vendedora Elisângela Nogueira, 27, que diminuiu os gastos com produtos de limpeza para continuar levando os mesmos mantimentos que comprava antes dos aumentos.
"Se tenho de comprar produtos de limpeza, pego menos ou só levo quando há necessidade. Tudo para não ter de levar menos comida ou produtos de qualidade inferior."
Ela afirma que, há dois meses, gastava cerca de R$ 280 na compra do mês para a família -ela, o marido e dois filhos. Hoje, gasta mais de R$ 350 para levar as mesmas coisas.
Os preços altos não afetam apenas consumidores com filhos. Solteiros, que normalmente têm maior folga no orçamento da casa, também decidiram mudar os hábitos de consumo por causa da inflação.
O segurança patrimonial Almir Francisco dos Santos, 28, diz que não pretende deixar de comprar nada que normalmente leva para casa. Admite, porém, que vai começar a pesquisar preços para economizar.
"Se estiver caro, tento comprar o que quero em outro lugar. E, se continuar caro, paciência, uso um pouco das minhas economias para continuar levando tudo o que sempre levo para casa", diz ele.


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