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São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2003

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Fabricantes de cerveja investem R$ 630 mi em mídia por ano e são o terceiro principal anunciante do mercado

Agências disputam contas de cervejarias

ADRIANA MATTOS
JOSÉ ALAN DIAS

DA REPORTAGEM LOCAL

Foi uma semana longa para os maiores publicitários do país. Em poucos dias, as principais contas de marcas de cervejas mudaram de mãos, os ânimos se acirraram e, segundo a Folha apurou, barganhas foram consideradas por agências de propaganda na tentativa de atrair esses novos clientes.
Terceiro maior mercado em investimento em mídia, as três maiores cervejarias do país investem R$ 630 milhões em mídia ao ano no país. Até 20% desse montante (taxa de comissão) vai para o bolso das agências.
Dessa vez, aconteceram mudanças de peso, que sacudiram um setor em banho-maria há anos. Washington Olivetto, dono da W/Brasil, trouxe para a sua companhia na semana passada a conta da Kaiser, uma das disputadas pelo setor, que movimenta R$ 180 milhões em média por ano.
Dias depois, na sexta-feira, após reuniões fechadas com a direção da AmBev, Nizan Guanaes conseguiu fechar um novo negócio. Ele criará "ações para desenvolver o mercado de cervejas super premium [da AmBev] no país", confirma a empresa.
Leia-se: montar campanhas para a Bohemia, Brahma Light e Original, por exemplo, todas marcas classificadas pelo setor como "de primeira linha", ou de maior valor agregado e preço salgado.
Seriam mudanças sem expressão se não fosse o que está por trás disso. Nizan Guanaes irá coordenar ações de mídia para marcas de cervejas que estão nas mãos de publicitários tão populares quanto ele. Ao se tornar responsável pela Brahma Light, entra na seara da F/Nazca, a agência de Fábio Fernandes, há cinco anos com a conta da Brahma.
Com a Original, trabalhará a marca da Almap/BBDO, agência que movimenta R$ 400 milhões ao ano no total, e que tem Marcello Serpa como diretor de criação desde 2001. Esbarrará ainda na DM9DDB, a agência que tem no comando Sérgio Valente, que entrou na companhia trazido por Guanaes em 2000. "O Nizan é excelente para mudar marcas de nicho de mercado", cutuca Serpa.
O que especialistas dizem, nesse caso, é quem irá "administrar" os egos. Até agora, nenhum desses publicitários sentou à mesa para definir a divisão de trabalho. A AmBev, que investe ao ano em mídia algo como R$ 350 milhões, deve acompanhar isso de perto.
É preciso ficar claro que ninguém perde a conta. Nizan entra como um "jogador" a mais. Se for fazer uma campanha para a Brahma Light, por exemplo, o fará ao lado da F/Nazca.
Segundo analistas do setor de cervejas, a estratégia da AmBev se assemelha àquela de grandes redes de TV e de seus apresentadores de auditório. Contrata-se o profissional para tirá-lo da empresa concorrente e reduzir a audiência do outro. Ou seja, se Nizan conseguisse a conta de uma cervejaria, que não a AmBev, ele poderia fazer algum estrago -possibilidade já descartada.
A AmBev nega que a tática tenha sido essa e Nizan não fala no assunto -até o início da noite de sexta-feira ele não havia retornado as ligações para a Folha.
Há um ano, em setembro de 2002, a AmBev tinha 70,1% do mercado de cervejas pilsen (garrafas de 600 ml) no Brasil. Em setembro de 2003 -quando a Nova Schin chegou às lojas com o seu "Experimenta"- tinha 66,1%. Em outubro, 63,8%.
No caso das mudanças na conta da Kaiser, um marqueteiro saiu para outro entrar. Roberto Justus, presidente da Bates Brasil, perdeu a conta para Washington Olivetto na última semana. Era uma troca anunciada: a direção da Molson, a empresa canadense controladora da Kaiser, que começou a perder mercado em abril, pensava na substituição desde março.
Reuniões na casa de Olivetto aconteceram e o sinal verde foi dado na semana passada pelo presidente da Molson no país, Robert Coallier. "Estou fascinado. Pronto para entrar na disputa", diz Washington Olivetto.
A dança das contas envolve novos contratos entre anunciantes e agências e negociações em torno das comissões das empresas de publicidade.


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