|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PUBLICIDADE
Fabricantes de cerveja investem R$ 630 mi em mídia por ano e são o terceiro principal anunciante do mercado
Agências disputam contas de cervejarias
ADRIANA MATTOS
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Foi uma semana longa para os
maiores publicitários do país. Em
poucos dias, as principais contas
de marcas de cervejas mudaram
de mãos, os ânimos se acirraram
e, segundo a Folha apurou, barganhas foram consideradas por
agências de propaganda na tentativa de atrair esses novos clientes.
Terceiro maior mercado em investimento em mídia, as três
maiores cervejarias do país investem R$ 630 milhões em mídia ao
ano no país. Até 20% desse montante (taxa de comissão) vai para
o bolso das agências.
Dessa vez, aconteceram mudanças de peso, que sacudiram
um setor em banho-maria há
anos. Washington Olivetto, dono
da W/Brasil, trouxe para a sua
companhia na semana passada a
conta da Kaiser, uma das disputadas pelo setor, que movimenta R$
180 milhões em média por ano.
Dias depois, na sexta-feira, após
reuniões fechadas com a direção
da AmBev, Nizan Guanaes conseguiu fechar um novo negócio. Ele
criará "ações para desenvolver o
mercado de cervejas super premium [da AmBev] no país", confirma a empresa.
Leia-se: montar campanhas para a Bohemia, Brahma Light e
Original, por exemplo, todas marcas classificadas pelo setor como
"de primeira linha", ou de maior
valor agregado e preço salgado.
Seriam mudanças sem expressão se não fosse o que está por trás
disso. Nizan Guanaes irá coordenar ações de mídia para marcas
de cervejas que estão nas mãos de
publicitários tão populares quanto ele. Ao se tornar responsável
pela Brahma Light, entra na seara
da F/Nazca, a agência de Fábio
Fernandes, há cinco anos com a
conta da Brahma.
Com a Original, trabalhará a
marca da Almap/BBDO, agência
que movimenta R$ 400 milhões
ao ano no total, e que tem Marcello Serpa como diretor de criação
desde 2001. Esbarrará ainda na
DM9DDB, a agência que tem no
comando Sérgio Valente, que entrou na companhia trazido por
Guanaes em 2000. "O Nizan é excelente para mudar marcas de nicho de mercado", cutuca Serpa.
O que especialistas dizem, nesse
caso, é quem irá "administrar" os
egos. Até agora, nenhum desses
publicitários sentou à mesa para
definir a divisão de trabalho. A
AmBev, que investe ao ano em
mídia algo como R$ 350 milhões,
deve acompanhar isso de perto.
É preciso ficar claro que ninguém perde a conta. Nizan entra
como um "jogador" a mais. Se for
fazer uma campanha para a Brahma Light, por exemplo, o fará ao
lado da F/Nazca.
Segundo analistas do setor de
cervejas, a estratégia da AmBev se
assemelha àquela de grandes redes de TV e de seus apresentadores de auditório. Contrata-se o
profissional para tirá-lo da empresa concorrente e reduzir a audiência do outro. Ou seja, se Nizan conseguisse a conta de uma
cervejaria, que não a AmBev, ele
poderia fazer algum estrago
-possibilidade já descartada.
A AmBev nega que a tática tenha sido essa e Nizan não fala no
assunto -até o início da noite de
sexta-feira ele não havia retornado as ligações para a Folha.
Há um ano, em setembro de
2002, a AmBev tinha 70,1% do
mercado de cervejas pilsen (garrafas de 600 ml) no Brasil. Em setembro de 2003 -quando a Nova
Schin chegou às lojas com o seu
"Experimenta"- tinha 66,1%.
Em outubro, 63,8%.
No caso das mudanças na conta
da Kaiser, um marqueteiro saiu
para outro entrar. Roberto Justus,
presidente da Bates Brasil, perdeu
a conta para Washington Olivetto
na última semana. Era uma troca
anunciada: a direção da Molson, a
empresa canadense controladora
da Kaiser, que começou a perder
mercado em abril, pensava na
substituição desde março.
Reuniões na casa de Olivetto
aconteceram e o sinal verde foi
dado na semana passada pelo
presidente da Molson no país, Robert Coallier. "Estou fascinado.
Pronto para entrar na disputa",
diz Washington Olivetto.
A dança das contas envolve novos contratos entre anunciantes e
agências e negociações em torno
das comissões das empresas de
publicidade.
Texto Anterior: Opinião Econômica - João Sayad: A luzinha do celular Próximo Texto: Comissão acirra conflito entre os publicitários Índice
|