São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2008

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Com crise, cresce a oferta de fundos com proteção

Categoria de investimentos protegidos triplica de tamanho em relação a 2007

Bancos oferecem produtos quase imunes a perdas e investimentos atrelados a seguro-desemprego para um mercado conservador


FABRICIO VIEIRA
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em um mercado "machucado" pelos grandes prejuízos da Bolsa de Valores, investidores começam a buscar alternativas de aplicações que representem riscos menores de perdas. Na outra ponta, diante de uma indústria de fundos que tem se retraído, o mercado tenta encontrar novos produtos para atrair clientes mais ariscos.
Neste ano, a indústria de fundos já perdeu R$ 54,66 bilhões em saques líquidos, no que tem sido o pior ano desde 2002, segundo levantamento da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento).
"O mercado está muito conservador e não quer saber de produtos de risco neste momento", afirmou Henrique Ferreira, executivo-sênior da área de fundos do HSBC.
Apesar de ainda não ser muito popular, uma das poucas categorias que está com captação positiva no ano é a dos fundos de capital protegido. A categoria registra captação de R$ 1,57 bilhão neste ano -o que fez com que triplicasse de tamanho em relação a 2007.
Os fundos de capital protegido são compostos por ações e papéis de renda fixa. Se a Bolsa de Valores cair em determinado período, o investidor não perderá seu capital inicialmente investido -na pior das hipóteses, entra e sai com o mesmo montante de recursos.
O montante protegido pode variar de um fundo para outro -em alguns casos, a proteção se restringe a 50% do aplicado.
Como contrapartida a essa proteção, o investidor acaba por ceder parte da alta das ações nos momentos de maior euforia. O investidor pode -isso varia de um fundo a outro- receber a rentabilidade da Bolsa até um teto de 25%. Acima disso, deixa de contar com a valorização das ações.
Os bancos começaram a lançar produtos desse tipo abertos também a pequenos investidores. Normalmente, essas aplicações eram destinadas aos grandes aplicadores.
O Bradesco, por exemplo, lançou há pouco um fundo de capital protegido em que se pode fazer aplicações a partir de R$ 1 mil, numa tentativa de atrair o pequeno investidor assustado com a crise.

Seguro-desemprego
Produtos com características ainda mais peculiares começaram a surgir neste momento de crise. O HSBC lançou no início deste mês um fundo de investimento em renda fixa que oferece aos cotistas seguro-desemprego acoplado e cobertura em caso de morte ou invalidez do titular. A cobertura varia de acordo com o volume investido. No caso de desemprego involuntário, garante ao cotista renda por até seis meses.
"Sentimos que havia demanda por esse tipo de produto. Iniciamos o desenho no início do ano e agora oferecemos para o público", afirmou André Serebrinic, executivo do HSBC Seguros. Conservador, o fundo investe somente em títulos de dívida pública e privada de baixo risco e cobra taxa de administração de 3%.
A administração é feita pela área de gestão de fundos, que paga um prêmio com o dinheiro levantado na taxa de administração para contratar o seguro. Em menos de duas semanas, o fundo de investimento atraiu R$ 3 milhões.
Para o administrador de investimentos Fábio Colombo, o aplicador sempre deve estar atento às taxas de administração cobradas por esses fundos. "Há taxas de administração muito salgadas, e o investidor deve tomar sempre cuidado com isso", disse Colombo.

Taxas
Praticamente todos os fundos de investimento cobram taxa de administração, cujo custo costuma variar entre 1% e 4% ao ano. A princípio, pode parecer que essa taxa não faz muita diferença. Mas, se um fundo DI render o mesmo que a taxa básica Selic -ou seja, 13,75% anuais- e o investidor tiver de pagar 4% de taxa de administração, ele irá perder grande parte de sua rentabilidade.
"Os fundos de capital protegido servem para as instituições tentarem atrair o investidor mais conservador para uma aplicação que promete segurança e parte do retorno da alta da Bolsa. Particularmente, acho mais interessante a pessoa reservar uma parcela das economias e investir diretamente em ações", diz Colombo.

Sem risco humano
Em meio às grandes perdas sofridas nos últimos meses em muitos fundos que aplicam em ações, a gestora austríaca Superfund criou um produto para tentar driblar a desconfiança dos investidores: um fundo administrado exclusivamente por robôs.
O produto, que deve ser disponibilizado no Brasil no começo do ano que vem, é gerido por um software, com base em análises de estresse do mercado e do comportamento das cotações negociadas -e já existe em outros países.
De acordo com o americano Lance Reinhardt, diretor da empresa para a América Latina, uma das vantagens do Superfund é que a sua gestão não é contaminada pelo "calor de emoções humanas".
"O fundo tem um sistema próprio de análise para reconhecer as tendências de médio e longo prazos nos mercados futuros", afirmou Reinhardt. "Temos uma gestão de risco que impede qualquer perda acima de 1%." Segundo ele, o fundo não utiliza nenhum tipo de análise fundamentalista. "Isso elimina completamente a emoção humana", disse.


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