São Paulo, sábado, 24 de dezembro de 2005

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RECEITA ORTODOXA

Ele diz que país tem mais condições de evoluir e que é "formiguinha" que trabalha enquanto "cigarras" (críticos) cantam

Palocci promete crescimento de 5% em 2006

Lula Marques/Folha Imagem
Antonio Palocci Filho faz balanço de 2005 no Ministério da Fazenda, diante de foto de seu antecessor no cargo, Pedro Malan


GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Enfraquecido por acusações de corrupção e atacado pelo desempenho da economia neste ano, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) prometeu um crescimento na casa dos 5% no ano eleitoral de 2006 e se comparou a uma "formiguinha", que trabalha enquanto as cigarras -seus críticos- cantam.
As declarações foram dadas em entrevista coletiva na qual Palocci repetiu uma dezena de vezes que haverá "forte crescimento econômico" no próximo ano. Instado a falar de taxas, mencionou os 4,9% de 2004, melhor resultado dos últimos 11 anos.
"Acho que o cenário que está se abrindo para 2006 está muito próximo do cenário aberto de 2003 para 2004. Teremos um resultado em torno do resultado de 2004", disse. "Eu tenho segurança de que 2006 será um ano de forte crescimento, e nós teremos crescimento seguidamente muitos anos à frente."
Os questionamentos à política ortodoxa personificada por Palocci recrudesceram no final do mês passado, quando foi divulgada a queda de 1,2% do PIB (Produto Interno Bruto) no terceiro trimestre do ano. Conforme a Folha noticiou, a retração minou a confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no ministro. Anteontem, em encontro com a cúpula do PT, Lula disse que sua candidatura à reeleição dependerá do desempenho econômico.
Ontem, Palocci repetiu o discurso recorrente das autoridades nos últimos anos: os acidentes de percurso já foram ultrapassados, e o crescimento daqui para a frente será duradouro.
"O importante é ver que a evolução do Brasil deixou de ser de idas e vindas. Não tem mais um pico de crescimento e um PIB negativo, outro pico de crescimento e outro PIB negativo, uma crise de dívida seguida de um empréstimo com o FMI [Fundo Monetário Internacional]. Nós estamos vencendo essa etapa."
Sem falar em percentuais, o ministro admitiu que o PIB crescerá menos neste ano -o mercado estima algo como 2,5%- e apresentou sua justificativa. "O processo de crescimento não é linear. Ele tem meses mais fortes, trimestres mais fortes, trimestres mais fracos."
E disse por que prevê um 2006 de bonança: "As condições estão dadas: baixa inflação, condições de risco cada vez melhores, situação de contas externas como nunca tivemos, renda real crescendo, vendas crescendo, disponibilidade de crédito".
Convenientemente, a lista deixa de lado empecilhos como a dívida pública acima de 50% do PIB, os juros que se mantêm no topo do ranking mundial, a taxa insuficiente de investimentos públicos e privados, as deficiências de infra-estrutura e a paralisia da agenda legislativa.
Os analistas de mercado projetam para 2006, em média, um crescimento de 3,5%. Palocci disse que essa também era a taxa estimada para 2004 -mas poderia acrescentar que o governo também previu 5% para 2005.

Formigas e cigarras
O ano, para o ministro, não foi perdido. "Houve avanços importantes", como as mudanças da composição da dívida interna, a emissão de títulos em reais no exterior e a quitação antecipada da dívida com o FMI e os países credores, que dão mais credibilidade ao país e mais solidez à economia.
"É um trabalho de formiguinha, mas muito importante. Esse trabalho de formiguinha, perseverante, é o que faz a estabilidade. E, no cenário do bosque, enquanto as formiguinhas trabalham, muitas cigarras cantam. Mas faz parte do cenário. Jamais você vai me ver falar contra as cigarras que estão cantando. Isso faz parte do cenário, e a música faz muito bem ao ambiente."
Foi questionado se a referência à cigarra da fábula de La Fontaine -que fazia pouco do trabalho da formiga e terminava sem comida no inverno- se aplicava a seus críticos nos debates internos do governo, como os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Ciro Gomes (Integração Nacional).
Negou: "Não considero nenhum ministro, mesmo que possam ter feito alguma crítica, como cigarra. Os ministros são todos formigas". As cigarras seriam "comentaristas, que estão aí dando idéias, sugestões, proposições", caso, pelos exemplos citados, de economistas e políticos.
No governo, mesmo admitindo "alguns debates mais acirrados", Palocci disse que seu ambiente é bom. "Quero dizer que meu relacionamento com o governo é muito positivo", afirmou, negando que sua política tenha sido atacada na reunião ministerial da última segunda-feira. "Não há, de forma alguma, um ambiente de crítica a câmbio, juros ou o processo fiscal. Há, sim, um olhar sobre essas questões, há um debate duro sobre essas questões."
Tratou de rebater, sem descer a minúcias técnicas, as críticas ao aperto fiscal além das metas oficiais, à sobrevalorização do câmbio e às taxas de juros mais altas do mundo. No último caso, com ironia: "Na questão dos juros, eu concordo que os juros estão caindo, o Banco Central também concorda. Faz quatro meses que ele está concordando com isso".


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