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Expansão do crédito depende de juro menor
Bancos terão de reduzir taxas e assumir mais riscos para ganhar escala com empréstimos, diz estudo da Austin Rating
Consultoria mostra que
segmentos com maior crescimento até agora
foram consignado e carros, todos com garantias
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
O crédito avança firme pelo
quarto ano seguido, mas, para
crescer ainda mais daqui em
diante, os bancos terão de ser
agressivos para conquistar
clientes. Se quiserem ganhar
escala, deverão oferecer juros
menores, assumir mais risco
com empréstimos sem garantia
e trazer ao sistema financeiro o
consumidor informal que não
comprova renda, segundo estudo da Austin Rating.
De acordo com o estudo, até
agora o crédito evoluiu com velocidade nas modalidades com
garantia, como o consignado e
o financiamento de veículos,
que tiveram crescimentos
anuais na casa de 70% e 50%.
Nos demais segmentos, variou
em torno de 10%, fazendo o
crédito como um todo avançar
em média 20% ao ano.
Para Ademir Cossielo, diretor-executivo de Varejo do Bradesco, há espaço para crescimento, mesmo no consignado.
"Verificamos que o consignado
não estava só no INSS e fomos
mais agressivos no setor público. Há uma imensidão para
atuar no setor privado."
"O crescimento do crédito
vai persistir em 2008 e nesses
patamares. Os bancos estão se
preparando para isso. É óbvio
que terá um teto, mas estamos
longe de atingi-lo. No consignado do INSS, podemos estar perto desse teto. Depois vem a renovação dos empréstimos. O
ano foi excepcional para financiamento de veículos. Teremos
crescimento de 60% em 2007.
Talvez não seja igual no próximo ano. A frota cresce, mas
também envelhece e vai sendo
renovada", disse Ademiro Vian,
assessor técnico da Febraban.
Segundo a Austin, o avanço
para outras modalidades, como
o crédito pessoal tradicional e o
imobiliário, dependerá da redução dos "spreads" -diferença entre os juros captados e os
repassados ao consumidor-,
que pouco caíram no país. O estudo mostra que a diminuição
dos "spreads" aconteceu com
mais intensidade nas modalidades que tiveram uma maior
expansão de volume -ou seja,
os bancos trocam margens de
ganho por escala. No crédito
pessoal, que inclui o consignado, os "spreads" recuaram
21,6% de junho de 2000 a junho
deste ano, de 51,4 para 38 pontos percentuais no período.
"O volume de crédito poderia
ter crescido com mais intensidade, caso os juros finais fossem reduzidos. Até agora, falou-se muito de tarifas e pouco
de "spread". O assunto está esquecido no Congresso e pelo
governo. É hora de voltar a discutir cadastro positivo, redução
de compulsório, desoneração e
outras medidas para diminuir
os juros para o consumidor",
disse Luis Miguel Santacreu,
autor do trabalho da Austin.
Ademiro Vian, da Febraban,
argumenta que a redução dos
"spreads" deve ser vista no crédito como um todo, e não pelas
modalidades em separado, que
tiveram os "spreads" mantidos.
Isso porque o consumidor foi
trocando dívidas mais caras,
como cartão e cheque especial,
por outras de taxa menor. Como um todo, o "spread" da carteira de crédito brasileira teve
uma redução de 17,7% em sete
anos -passou de 39,6 para 31,2
pontos percentuais. A taxa Selic, piso dos juros captados, recuou 31,4% no período, de
17,5% para 12% ao ano.
Para Rafael Guedes, diretor-executivo da agência Fitch de
classificação de risco, o crescimento do crédito não acompanha o da renda no país. "Como
não há aumento de renda, os
bancos diluíram o problema estendendo prazos. O consignado
é um excelente negócio para os
bancos, mas leva 30% da renda
do consumidor por três anos."
A Austin reconhece que houve redução nas margens de lucro, mas observa que isso não
reduziu nem as receitas nem os
ganhos dos bancos. De 2000 a
2006, as dez maiores instituições financeiras tiveram alta de
170,5% no volume de empréstimos liberados, o que permitiu
uma expansão de 212,9% em
suas receitas com crédito.
"Os bancos têm ganhado tanto com o "spread" alto como
com o volume maior de crédito.
Daí os lucros recordes", disse
Santacreu, da Austin.
Os bancos afirmam que a inadimplência limita a redução
dos "spreads". Nas contas do
BC, a inadimplência custa 43%
do "spread", o compulsório pega 4,7%, e os impostos, 15,9%.
Desde 2000, a inadimplência
passou de 5,5% para 7,1%.
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