São Paulo, segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

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Expansão do crédito depende de juro menor

Bancos terão de reduzir taxas e assumir mais riscos para ganhar escala com empréstimos, diz estudo da Austin Rating

Consultoria mostra que segmentos com maior crescimento até agora foram consignado e carros, todos com garantias

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

O crédito avança firme pelo quarto ano seguido, mas, para crescer ainda mais daqui em diante, os bancos terão de ser agressivos para conquistar clientes. Se quiserem ganhar escala, deverão oferecer juros menores, assumir mais risco com empréstimos sem garantia e trazer ao sistema financeiro o consumidor informal que não comprova renda, segundo estudo da Austin Rating.
De acordo com o estudo, até agora o crédito evoluiu com velocidade nas modalidades com garantia, como o consignado e o financiamento de veículos, que tiveram crescimentos anuais na casa de 70% e 50%. Nos demais segmentos, variou em torno de 10%, fazendo o crédito como um todo avançar em média 20% ao ano.
Para Ademir Cossielo, diretor-executivo de Varejo do Bradesco, há espaço para crescimento, mesmo no consignado. "Verificamos que o consignado não estava só no INSS e fomos mais agressivos no setor público. Há uma imensidão para atuar no setor privado."
"O crescimento do crédito vai persistir em 2008 e nesses patamares. Os bancos estão se preparando para isso. É óbvio que terá um teto, mas estamos longe de atingi-lo. No consignado do INSS, podemos estar perto desse teto. Depois vem a renovação dos empréstimos. O ano foi excepcional para financiamento de veículos. Teremos crescimento de 60% em 2007. Talvez não seja igual no próximo ano. A frota cresce, mas também envelhece e vai sendo renovada", disse Ademiro Vian, assessor técnico da Febraban.
Segundo a Austin, o avanço para outras modalidades, como o crédito pessoal tradicional e o imobiliário, dependerá da redução dos "spreads" -diferença entre os juros captados e os repassados ao consumidor-, que pouco caíram no país. O estudo mostra que a diminuição dos "spreads" aconteceu com mais intensidade nas modalidades que tiveram uma maior expansão de volume -ou seja, os bancos trocam margens de ganho por escala. No crédito pessoal, que inclui o consignado, os "spreads" recuaram 21,6% de junho de 2000 a junho deste ano, de 51,4 para 38 pontos percentuais no período.
"O volume de crédito poderia ter crescido com mais intensidade, caso os juros finais fossem reduzidos. Até agora, falou-se muito de tarifas e pouco de "spread". O assunto está esquecido no Congresso e pelo governo. É hora de voltar a discutir cadastro positivo, redução de compulsório, desoneração e outras medidas para diminuir os juros para o consumidor", disse Luis Miguel Santacreu, autor do trabalho da Austin.
Ademiro Vian, da Febraban, argumenta que a redução dos "spreads" deve ser vista no crédito como um todo, e não pelas modalidades em separado, que tiveram os "spreads" mantidos. Isso porque o consumidor foi trocando dívidas mais caras, como cartão e cheque especial, por outras de taxa menor. Como um todo, o "spread" da carteira de crédito brasileira teve uma redução de 17,7% em sete anos -passou de 39,6 para 31,2 pontos percentuais. A taxa Selic, piso dos juros captados, recuou 31,4% no período, de 17,5% para 12% ao ano.
Para Rafael Guedes, diretor-executivo da agência Fitch de classificação de risco, o crescimento do crédito não acompanha o da renda no país. "Como não há aumento de renda, os bancos diluíram o problema estendendo prazos. O consignado é um excelente negócio para os bancos, mas leva 30% da renda do consumidor por três anos."
A Austin reconhece que houve redução nas margens de lucro, mas observa que isso não reduziu nem as receitas nem os ganhos dos bancos. De 2000 a 2006, as dez maiores instituições financeiras tiveram alta de 170,5% no volume de empréstimos liberados, o que permitiu uma expansão de 212,9% em suas receitas com crédito.
"Os bancos têm ganhado tanto com o "spread" alto como com o volume maior de crédito. Daí os lucros recordes", disse Santacreu, da Austin.
Os bancos afirmam que a inadimplência limita a redução dos "spreads". Nas contas do BC, a inadimplência custa 43% do "spread", o compulsório pega 4,7%, e os impostos, 15,9%. Desde 2000, a inadimplência passou de 5,5% para 7,1%.


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