São Paulo, quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

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Contas públicas têm melhora, mas meta não deve ser cumprida

Superavit bate recorde para novembro, mas nem artifício contábil deve garantir meta fiscal no ano

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mesmo contando com um empurrão das estatais -que aumentaram em 55% a transferência de lucros para o Tesouro Nacional neste ano-, com R$ 8,8 bilhões em dinheiro extra de depósitos judiciais retirados dos bancos oficiais e com o melhor resultado nas contas para um mês de novembro em mais de dez anos, ainda assim o governo não conseguirá cumprir sua própria meta de economizar R$ 42,7 bilhões em 2009.
Por isso, precisará se valer de artifício contábil que lhe permitirá desconsiderar nos cálculos gastos com obras do PAC . E nem isso é garantia de cumprimento da meta neste ano.
Otimista, o secretário do Tesouro, Arno Agustin, diz que a União fará sua parte e empurra a responsabilidade para Estados, municípios e estatais. Segundo ele, quanto exatamente o governo precisará utilizar do artifício dependerá do desempenho da esferas em dezembro.
O problema é que nem o Tesouro nem os demais deverão conseguir fechar as contas. Até agora, dos R$ 42,7 bilhões, só foram economizados R$ 38,2 bilhões. Como dezembro é tradicionalmente um mês de deficit em vez de sobras, esse valor para o ano cairá ainda mais.
Para completar, Estados, municípios e estatais também estão com desempenho "abaixo do de 2008 e necessário para cumprimento de meta deste ano", explicou Agustin. "Do lado do governo central, dificilmente vemos necessidade disso [de abater alguns gastos]."
Contabilmente, o governo poderia abater até R$ 28,5 bilhões dos gastos realizados com obras do PAC para conseguir fechar suas contas. Mas, como só podem ser deduzidas as despesas efetivamente realizadas, essa margem de manobra cai para R$ 13,4 bilhões até agora.
Ainda assim, o secretário aposta no cumprimento da meta e comemora a recuperação registrada em novembro. O superavit primário do Tesouro chegou a R$ 10,7 bilhões, o melhor resultado para o mês desde 1995, quando o número começou a ser apurado.
Esse valor contou com recursos extras do lado da Receita, como R$ 2,1 bilhões em depósitos judiciais que estavam em bancos oficiais e foram transferidos para engordar o caixa da União. Além disso, outros R$ 2,5 bilhões em dividendos ajudaram a elevar a arrecadação.
Agustin rebate as críticas de que o governo inflou receitas ao obrigar o aumento de remessas das estatais. "Tivemos um pagamento forte de estatais neste ano e temos orgulho de elas terem dado lucro." Ele diz não ver problema com a qualidade dos gastos -no ano, as despesas com a máquina pública cresceram mais que os investimentos.


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