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LEITE DERRAMADO
Polícia e Receita Federal suspeitam que associação no futebol tenha sido usada para enviar recursos ao exterior
Parceria Palmeiras-Parmalat é alvo da PF
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Apontada pela Fifa (federação
que rege o futebol mundial) como
um dos dez casos mais bem-sucedidos da história do marketing no
futebol, a parceria Palmeiras-Parmalat, que, entre 1992 e 2000, deu
ao clube os principais títulos de
sua história, será alvo de devassa
da Receita e da Polícia Federal.
A suspeita é que o futebol tenha
sido usado pela Parmalat Brasil
para desviar recursos ao exterior.
A Parmalat Participações, uma
das três divisões do grupo Parmalat e que depois originaria a Carital Brasil, teria recebido dinheiro
da Parmalat Administração, responsável pelo setor de alimentos,
e depois o remetido para fora do
país pela venda de atletas.
Segundo a diretoria palmeirense, recursos da transação de pelo
menos três jogadores negociados
pela Parmalat com o exterior passaram pelo Uruguai, tido como o
paraíso fiscal da América do Sul.
O dinheiro teria sido depositado
em uma das contas da Wishaw
Trading, empresa uruguaia que
recebeu R$ 583,8 milhões da Parmalat do Brasil e está sob investigação depois das denúncias de
Gianfranco Bocchi.
O ex-contador da Parmalat Itália afirmou à Justiça que a Carital
Brasil e a Wishaw realizaram negócios estranhos e receberam "sacos de dinheiro" da matriz.
Segundo a promotoria italiana,
parte dos US$ 15 milhões que o
Parma diz ter investido na contratação do meia brasileiro Alex, hoje no Cruzeiro, teria ido parar na
empresa uruguaia.
No período da co-gestão com o
Palmeiras, que durou de 1992 a
2000, o clube entrava com a tradição e a estrutura, e a empresa,
com uma verba mensal de R$ 800
mil -valores atualizados-,
além do compromisso de reforçar
o time, comprando e vendendo
jogadores. E é aí que a versão das
duas partes não bate.
Como, pela legislação esportiva,
empresas não podiam ser donas
de jogadores de futebol, oficialmente o Palmeiras era o detentor
dos direitos federativos dos atletas e responsável por registrá-los
na CBF (Confederação Brasileira
de Futebol). O contrato com a
Parmalat, porém, assegurava-lhe
que, na hora de vender o jogador,
a negociação não só seria encabeçada pela empresa como os recursos da transação ficariam com ela.
Segundo o Palmeiras, quando
um atleta era contratado pela Parmalat, quem sempre ficava à frente das negociações era a multinacional, que fazia os depósitos nas
contas de quem estivesse vendendo. Na hora de se desfazer do jogador, idem. Os depósitos eram
feitos diretamente na conta da
Parmalat ou da empresa que ela
indicasse e não passavam pelo
Palmeiras. Segundo o clube, então, qualquer irregularidade na
compra e venda de reforços é de
responsabilidade da ex-parceira.
A Parmalat conta outra história.
Diz que todo o dinheiro passava
pelo caixa do Palmeiras. Era o clube quem pagava pela compra do
jogador com o dinheiro depositado em sua conta pela empresa e,
na venda, ele fazia o depósito na
conta da Parmalat Participações.
Outra divergência entre as partes diz respeito à relação com a
Carital Brasil, empresa citada pelo
ex-contador da Parmalat no depoimento à Justiça italiana sobre
o rombo de cerca de 10 bilhões
nos cofres da multinacional.
José Carlos Brunoro, que foi o
diretor da Parmalat para o Palmeiras entre 1992 e 1997, diz que
nunca ouviu falar da Carital, que
tinha como um dos objetivos justamente cuidar dos investimentos
da Parmalat no esporte.
O Palmeiras, porém, afirma que
não só conhecia a Carital como
diz que ela chegou a lhe pagar algumas das parcelas do contrato
de patrocínio com a Parmalat.
Segundo dirigentes do Palmeiras, o clube, especialmente a partir de 1995, passou a se relacionar
com uma série de empresas ligadas à Parmalat, já que a parceria
criou uma espécie de labirinto societário no Brasil.
Em 1998, a Carital, que já trabalhava com Palmeiras e Juventude
(RS), também controlado pela
Parmalat, deu origem à Carital
Prosport, que teve como sócio
Gianni Grisendi, então presidente
da Parmalat Brasil.
Foi a Carital Prosport que comprou, em parceria com a Parmalat
Participações, o Etti Jundiaí.
Em 2000, quando encerrou o
contrato com o Palmeiras, a Parmalat Participações transferiu R$
44,7 milhões, saldo de seu patrimônio no clube, para o Etti.
No ano seguinte, ela deixou o time de Jundiaí e a Carital Prosport
transferiu suas cotas para a Carital
Brasil e a Santal Prosport, também do grupo Parmalat. Em 2002,
as duas saíram do clube, que voltou a se chamar Paulista.
Fora do futebol brasileiro, a Parmalat já saiu da história para a Fifa. O "case" com o Palmeiras não
será mais usado como exemplo
de sucesso na faculdade que a entidade mantém na Europa.
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