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BC resiste a pressão e reduz corte do juro
Por 5 votos a 3, Copom diminui Selic em 0,25 ponto dois dias depois de lançamento de plano para acelerar crescimento
Em nota, banco diz que "incertezas" sobre efeito do processo de redução dos
juros iniciado em setembro de 2005 justificam cautela
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dois dias depois de o governo
anunciar um pacote para estimular a economia, o Banco
Central colocou um freio no
ritmo de queda dos juros, apesar da intensa pressão contrária de membros do próprio governo e do setor privado.
Em sua primeira reunião de
2007, o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu reduzir a taxa Selic em 0,25 ponto
percentual, fixando-a em 13%
ao ano, a menor da série.
Nos cinco encontros anteriores, as reduções haviam sido de
0,5 ponto cada uma. A decisão
não foi unânime: três dos oito
membros da diretoria do BC
votaram por mais um corte de
0,5 ponto. A última queda de
0,25 foi em setembro.
"Diante das incertezas associadas ao mecanismo de transmissão da política monetária, e
considerando que os efeitos das
reduções de juros desde setembro de 2005 ainda não se refletiram integralmente na economia, o Copom avalia que a decisão contribuirá para aumentar
a magnitude do ajuste a ser implementado", disse nota do BC.
No mercado financeiro, analistas se dividiam nas suas previsões para a decisão do Copom, mas a maioria previa corte de 0,25 ponto, como o próprio Copom já havia sinalizado
em ata da sua última reunião.
Ao anunciar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), na segunda-feira, o governo disse que, com o plano, a
economia deve crescer 4,5% já
neste ano -embora no setor
privado as estimativas estejam
mais perto de 3,5%.
Boa parte das medidas consiste em reduções de tributos
direcionadas a alguns setores
da economia. No dia do anúncio, porém, empresários ressaltaram que essa desoneração
não teria o efeito desejado se
não fosse acompanhada por
cortes nos juros -o país tem o
maior juro real do mundo.
Além disso, o assunto foi motivo de constrangimento entre
o ministro da Fazenda, Guido
Mantega, e o presidente do BC,
Henrique Meirelles. Ao anunciar as medidas, Mantega falou
sobre a expectativa de queda
dos juros neste ano por parte de
analistas do mercado financeiro, e aproveitou para dar um
pequeno recado ao BC.
"O mercado está esperando
uma redução da taxa Selic. Uma
continuação, viu, Meirelles?",
disse o ministro. Mais tarde,
Mantega negou que estivesse
pressionando por uma queda
mais rápida dos juros e disse
que fez "uma brincadeira".
Lula, Mantega e Meirelles
viajariam no mesmo avião ontem à noite rumo a Davos (Suíça). E Lula, apurou a Folha, cobraria de Meirelles explicação
para o corte menor nos juros.
Alguns analistas do mercado
financeiro previam corte do BC
de só 0,25 ponto percentual como forma de o BC ressaltar sua
independência informal.
Segundo a Folha apurou, o
BC lamentou que o anúncio do
PAC, adiado algumas vezes, tenha caído na mesma semana
do Copom e temia que sua decisão sobre os juros fosse vista
como uma reação ao plano, e
não uma decisão técnica.
É difícil dizer se o PAC ou as
declarações de Mantega tiveram influência na decisão do
BC. Isso porque, desde julho de
2006, as atas do Copom já afirmavam que, em algum momento, a queda dos juros teria
que ser feita com "maior parcimônia", para evitar um aumento inesperado da inflação.
A justificativa para a cautela
era a dúvida quanto ao impacto
que a queda dos juros ocorrida
desde o final de 2005 terá sobre os preços. De lá para cá, a
Selic caiu sete pontos percentuais, e o BC diz que a economia ainda não sentiu, por completo, os efeitos desses cortes.
Por enquanto, é difícil ver
pressão inflacionária. Em
2006, o IPCA subiu 3,14%, bem
abaixo dos 4,5% da meta. Neste
ano, deve ficar em torno de 4%,
também abaixo da mesma meta, reforçando tese de que há
espaço para corte no juro.
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