São Paulo, quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

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BC resiste a pressão e reduz corte do juro

Por 5 votos a 3, Copom diminui Selic em 0,25 ponto dois dias depois de lançamento de plano para acelerar crescimento

Em nota, banco diz que "incertezas" sobre efeito do processo de redução dos juros iniciado em setembro de 2005 justificam cautela


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dois dias depois de o governo anunciar um pacote para estimular a economia, o Banco Central colocou um freio no ritmo de queda dos juros, apesar da intensa pressão contrária de membros do próprio governo e do setor privado.
Em sua primeira reunião de 2007, o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu reduzir a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, fixando-a em 13% ao ano, a menor da série.
Nos cinco encontros anteriores, as reduções haviam sido de 0,5 ponto cada uma. A decisão não foi unânime: três dos oito membros da diretoria do BC votaram por mais um corte de 0,5 ponto. A última queda de 0,25 foi em setembro.
"Diante das incertezas associadas ao mecanismo de transmissão da política monetária, e considerando que os efeitos das reduções de juros desde setembro de 2005 ainda não se refletiram integralmente na economia, o Copom avalia que a decisão contribuirá para aumentar a magnitude do ajuste a ser implementado", disse nota do BC.
No mercado financeiro, analistas se dividiam nas suas previsões para a decisão do Copom, mas a maioria previa corte de 0,25 ponto, como o próprio Copom já havia sinalizado em ata da sua última reunião.
Ao anunciar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), na segunda-feira, o governo disse que, com o plano, a economia deve crescer 4,5% já neste ano -embora no setor privado as estimativas estejam mais perto de 3,5%.
Boa parte das medidas consiste em reduções de tributos direcionadas a alguns setores da economia. No dia do anúncio, porém, empresários ressaltaram que essa desoneração não teria o efeito desejado se não fosse acompanhada por cortes nos juros -o país tem o maior juro real do mundo.
Além disso, o assunto foi motivo de constrangimento entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do BC, Henrique Meirelles. Ao anunciar as medidas, Mantega falou sobre a expectativa de queda dos juros neste ano por parte de analistas do mercado financeiro, e aproveitou para dar um pequeno recado ao BC.
"O mercado está esperando uma redução da taxa Selic. Uma continuação, viu, Meirelles?", disse o ministro. Mais tarde, Mantega negou que estivesse pressionando por uma queda mais rápida dos juros e disse que fez "uma brincadeira".
Lula, Mantega e Meirelles viajariam no mesmo avião ontem à noite rumo a Davos (Suíça). E Lula, apurou a Folha, cobraria de Meirelles explicação para o corte menor nos juros.
Alguns analistas do mercado financeiro previam corte do BC de só 0,25 ponto percentual como forma de o BC ressaltar sua independência informal.
Segundo a Folha apurou, o BC lamentou que o anúncio do PAC, adiado algumas vezes, tenha caído na mesma semana do Copom e temia que sua decisão sobre os juros fosse vista como uma reação ao plano, e não uma decisão técnica.
É difícil dizer se o PAC ou as declarações de Mantega tiveram influência na decisão do BC. Isso porque, desde julho de 2006, as atas do Copom já afirmavam que, em algum momento, a queda dos juros teria que ser feita com "maior parcimônia", para evitar um aumento inesperado da inflação.
A justificativa para a cautela era a dúvida quanto ao impacto que a queda dos juros ocorrida desde o final de 2005 terá sobre os preços. De lá para cá, a Selic caiu sete pontos percentuais, e o BC diz que a economia ainda não sentiu, por completo, os efeitos desses cortes.
Por enquanto, é difícil ver pressão inflacionária. Em 2006, o IPCA subiu 3,14%, bem abaixo dos 4,5% da meta. Neste ano, deve ficar em torno de 4%, também abaixo da mesma meta, reforçando tese de que há espaço para corte no juro.


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