|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Banco francês sofre fraude de US$ 7 bi
Na maior fraude da história bancária, operador perdeu bilhões no mercado de ações e criou cobertura fictícia para rombo
Société Générale faz emissão de US$ 8 bi para cobrir perdas e diz que Jérôme Kerviel não teve ganho pessoal com fraude
DO "FINANCIAL TIMES"
O Société Générale, um dos
pilares das finanças francesas e
um dos mais lucrativos bancos
europeus, revelou ontem que
foi vítima de trapaças de um
operador, na maior fraude da
história bancária, o que forçou
a instituição a lançar uma emissão de emergência para captar
5,5 bilhões (US$ 8 bilhões).
A fraude, simples mas sofisticada, foi atribuída a Jérôme
Kerviel, 31, operador que trabalha no banco em Paris. Seu paradeiro era desconhecido.
Kerviel parece ter apostado
bilhões de euros em movimentação futura dos mercados europeus de ações e criou posições fictícias de hedge para cobrir seus rastros, em uma fraude que custou 4,9 bilhões
(US$ 7,1 bilhões) ao banco.
O Société Générale, que teve
as negociações de suas ações
suspensas temporariamente
ontem, rapidamente desmontou as posições de derivativos
de ações que o operador havia
estabelecido, cujo montante
total foi estimado entre 50
bilhões e 70 bilhões.
No final do pregão, as ações
do banco fecharam ontem com
queda de 4,1%, enquanto a Bolsa de Paris subiu 6%.
A fraude reduziu o impacto
do anúncio do Société Générale, ontem, de que a crise do
mercado de crédito hipotecário
americano forçou o banco a
contabilizar prejuízos de 2
bilhões, montante muitas vezes superior ao impacto que a
instituição havia estimado há
algumas semanas. Tanto o presidente-executivo Daniel Bouton quanto Jean-Pierre Mustier, o presidente da divisão de
investimento, apresentaram
suas renúncias, mas o conselho
do banco as rejeitou.
Tendo descoberto a fraude
no final de semana, o Société
Générale esperou até que pudesse desfazer as posições antes de revelar as dimensões do
rombo. O escândalo abalou a liderança financeira francesa,
que rapidamente cerrou fileiras em apoio ao banco.
"Não estou preocupado com
a confiança. Prova disso é que o
Société Générale, mesmo com
uma fraude em escala sem precedentes como essa, conseguiu
consertar a situação em três
dias e emergir ainda mais forte", disse Christian Noyer, presidente do Banque de France.
Executivos de bancos rivais
querem saber como Kerviel
pode ter criado posições dessa
magnitude sem atrair a atenção. Eles afirmam que o desequilíbrio deveria ter ficado claro com base no fluxo de caixa
do banco, e que o hedge falsificado deveria ter sido percebido
pela mesa de operações encarregada de cobrir as posições em
aberto. Mas Kerviel parece ter
acumulado seus prejuízos em
prazo muito curto. Segundo
Mustier, sua posição de dezembro foi fechada com um pequeno lucro, e voltou a operar no
começo de janeiro.
Os executivos do Société Générale foram alertados quanto
à fraude pela primeira vez na
noite de sexta-feira, depois de
uma denúncia de outro operador. Àquela altura, Kerviel havia acumulado prejuízos de
1,5 bilhão. Mas, quando o banco tentou desfazer suas posições em aberto, na segunda-feira, a queda global nos mercados de ações levou a uma multiplicação dos prejuízos.
Mustier diz acreditar que
Kerviel tenha agido sozinho e
que sua motivação não parece
ter sido o ganho financeiro.
"Ele não tinha senso de realidade e não compreendia o que
estava fazendo", disse Mustier,
que estabeleceu as dimensões
da fraude depois de interrogar
Kerviel durante toda a noite de
sábado. "Quando eu vi as dimensões da posição, compreendi que não era algo que a
maioria das pessoas fosse capaz de compreender."
Kerviel e cerca de seis de
seus superiores hierárquicos
foram demitidos. A escala da
trapaça do operador e a ausência de benefícios pessoais causaram espanto nos altos executivos no banco.
Os executivos de primeiro
escalão do Société Générale pareciam tão surpresos com a ausência do lucro como fator de
motivação para as ações de
Kerviel quanto pela escala de
sua fraude. Embora tenha evitado divulgar informações sobre Kerviel -inicialmente não
revelou nem mesmo seu nome-, executivos do banco privado criado há 140 anos dizem
que o antigo aluno da Universidade de Lyon talvez tenha sido
afetado por uma tragédia familiar, dois anos atrás, quando começou a trabalhar na função.
"O que é completamente inacreditável é que essa pessoa tenha agido como agiu sem procurar benefícios pessoais", disse uma fonte importante no
Société Générale. "Ele não obteve nada com sua trama."
Com o interesse febril da mídia -o nome de Kerviel chegou
a ser o 26º mais procurado no
Google ontem-, o banco disse
não saber onde ele estava.
O operador trapaceiro foi
contratado pelo banco em
2000, e em seu melhor ano no
banco teve renda de 100 mil,
entre salário e bonificação.
Pessoas que trabalhavam
com Kerviel dizem que ele parece ter sofrido um abalo com a
tragédia familiar e também teria rompido recentemente com
sua namorada.
Texto Anterior: Turbulência: Argentina vê 1º "teste de estresse" desde 2002 Próximo Texto: Memória: Operador causou quebra do Barings em 95 Índice
|