São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

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Investimento deve guiar relação, diz analista

DE PEQUIM

O desequilíbrio comercial entre Brasil e China, com os brasileiros exportando matéria-prima e importando manufaturados, tem mais a ver com a estrutura produtiva brasileira que com o protecionismo chinês. E o foco das relações bilaterais podem passar das trocas comerciais para os investimentos da China no Brasil.
As opiniões são da historiadora Wu Hongying, diretora do departamento de Estudos Latino-americanos dos Institutos Chineses de Relações Internacionais Contemporâneas (Cicir, da sigla em inglês), criado em 1980.
Com 150 pesquisadores e doutores, divididos em 11 institutos, o Cicir realiza pesquisas encomendadas pelos ministérios e militares chineses, em temas como economia e política mundial, antiterrorismo, Oriente Médio, África, Europa e Japão. Dos dez pesquisadores de América Latina, sete se dedicam ao Brasil. "Nenhum outro país da região merece tanta atenção", diz Wu, que recebeu a reportagem da Folha na sede do Cicir, em Pequim.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista. (RJL)

 


Matérias-primas
As duas economias são complementares, não dá para acusar a China de protecionista, temos uma economia bastante aberta. Que o Brasil nos exporte matérias-primas e a China seja mais competitiva em manufaturas tem a ver com as estruturas econômicas dos dois países. Veja o que o Brasil exporta para o resto do mundo.
Mas acho que a relação comercial não será sustentável se for exclusivamente baseada em matérias-primas, com valores tão flutuantes.

Investimentos
As condições estão dadas para que os investimentos chineses no Brasil se tornem o foco da relação, mais que o comércio. O Conselho de Estado tem pregado há anos a internacionalização das empresas chinesas, que cada vez compram mais ativos no exterior. E buscamos alianças econômicas com contratos mais estáveis com fornecedores de recursos naturais. O empréstimo de US$ 10 bilhões à Petrobras anunciado pelo vice-presidente Xi Jinping em Brasília é prova disso.

Quintal da China
É impossível que a América Latina vire quintal da China. Não queremos competir por influência com os EUA, que possuem profundos laços históricos, culturais e geográficos com a região. Mas o desenvolvimento da China é bom para a América Latina e vice-versa. Os Estados Unidos têm US$ 600 bilhões investidos na América Latina, a Espanha vem em segundo com US$ 300 bilhões, e a China ainda está muito longe disso, mas temos muita capacidade de investir.

África
No ano passado, investimos mais na África que na América Latina, e a atenção da mídia sobre o que a China faz na África é sempre maior. Temos um diálogo mais institucionalizado com a África por conta da União Africana, que é o interlocutor ideal. Há 30 nações na América Latina, mas ainda não há uma única organização indiscutível que represente todas elas. E não há tempo para cúpulas bilaterais todo o tempo. Seria mais fácil com uma única organização, e é por isso que acompanhamos com atenção os esforços para o fortalecimento da Unasul.

Convergências
China e Brasil são dois países que querem proteger seus direitos e ter mais voz nos fóruns multilaterais, além de exercer papéis de liderança em suas regiões, como forças estabilizadoras. Temos muitos interesses em comum. Em Copenhague, o diálogo foi constante e profundo. Aqui no instituto damos mais atenção ao Brasil do que a qualquer outro país latino-americano. A velocidade do comércio bilateral e o status de ambos só cresceram após a crise internacional de 2008.


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