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LUÍS NASSIF
As cotas nas universidades
Nas políticas públicas brasileiras ainda há grande dificuldade em colocar os fins acima dos meios. Tome-se a questão das cotas para negros e/ou
pobres nas universidades públicas. Qual o objetivo: permitir
meramente que entrem nas
universidades ou que entrem,
obtenham o diploma e consigam melhores condições de emprego?
Depois de entrar na universidade, o aluno terá que cursá-la,
aprender, passar de ano, desenvolver-se para, depois, atingir o
objetivo final de ter um bom
emprego. Como dois e dois são
quatro, a maioria absoluta dos
alunos que entrarem nas universidades pelo atalho das cotas
não completará os cursos. Os
que completarem teriam conseguido entrar na universidade
sem o expediente das cotas.
Na semana passada mesmo
foi divulgada a informação de
que 20% dos alunos da USP
(Universidade de São Paulo)
desistem dos cursos por considerá-los muito "exigentes". Esse
percentual vai explodir se houver essa "estatização" das vagas
e sua distribuição segundo critérios étnicos ou sociais. É impensável um aluno sem formação adequada de matemática
cursando uma Poli; ou sem formação adequada de humanas
cursando ciências sociais.
Sob o manto da responsabilidade social, vão se praticar
duas irresponsabilidades: uma
com o aluno, que, sem formação anterior, se esfalfará, terá
que estudar e trabalhar ao mesmo tempo, com quase nenhuma condição de aproveitar ou
mesmo completar um curso superior de bom nível; outra com
o país, ao desperdiçar recursos
públicos e a banalizar ainda
mais os cursos superiores.
A universidade é, por definição, intelectualmente elitista e
não há por que temer a palavra.
Há uma enorme massa de alunos que entra no ensino fundamental (antigo primeiro grau),
uma parcela menor que passa
pelo médio (antigo segundo
grau) e uma terceira, menor
ainda, que chega à universidade. A ela ascendem os melhores
por meio da mais democrática
das formas de acesso: o vestibular. No vestibular, tanto faz se a
pessoa é branca ou negra, rica
ou pobre, magra ou gorda. Passa quem fizer a melhor prova.
A diferença vem antes. Os
mais pobres não têm acesso aos
bons cursos médios ou a cursinhos e, muitas vezes, nem conseguem cursar por falta de condições financeiras. Responsabilidade social efetiva consiste em
dar a eles as mesmas condições
dos mais ricos de cursar boas escolas de ensino médio e bons
cursinhos. Depois, no vestibular, disputar as vagas em igualdade de condições com os alunos em melhor situação social.
Inclusão com responsabilidade
consiste em monitorar a escola
pública, identificar os melhores
alunos e -aí sim- desde cedo
ampará-los financeiramente
até a universidade, permitindo
que integrem a elite intelectual
do país.
Recentemente, Brito Cruz,
reitor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), contava sobre dois aspectos da instituição que dirige: a maioria
dos alunos não é de classe média abastada, como se presume;
os melhores alunos são os de
menor renda que conseguiram
passar no vestibular. Venceram
concorrendo em condições adversas e, por isso mesmo, são
dotados de muito mais talento e
garra do que os colegas que
atingiram o mesmo patamar
saindo de uma base mais favorável.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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