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Bancos têm lucro com crise ou expansão
Rentabilidade do setor não diminuiu em anos de menor crescimento econômico, diz balanço de instituições financeiras
Em anos de turbulência, títulos públicos garantem rentabilidade; em períodos de calmaria, cobrança de tarifas eleva lucro de bancos
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As crises enfrentadas pela
economia brasileira nos últimos anos pouco afetaram a
rentabilidade dos bancos que
atuam no Brasil, segundo indicam os balanços recentes de algumas das principais instituições financeiras. Mesmo em
anos de menor crescimento
econômico, ou de taxas de juros
mais baixas, a lucratividade do
setor se manteve.
A diferença está na fonte de
lucros das instituições financeiras: enquanto em anos de
maiores turbulências os ganhos são inflados pelas operações com títulos públicos -que
ficam mais rentáveis com o aumento da taxa básica de juros-,
em anos de maior calmaria o
lucro vem da cobrança de tarifas -que ganha força com o
crescimento da economia.
Segundo levantamento feito
pelo Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração), em 2002, ano em que as
especulações em torno das eleições presidenciais levaram o
dólar perto de R$ 4, os principais bancos privados do país tiveram uma rentabilidade sobre
patrimônio líquido de 28%.
Naquela ocasião, a elevada
taxa Selic -que oscilava em
torno de 20% ao ano- favorecia os ganhos com aplicações
em títulos públicos. Em 2002,
as receitas com operações de
tesouraria representavam 34%
do faturamento total, mas o peso das tarifas era de apenas 11%.
Já em 2007, a rentabilidade
desse grupo de instituições
chegou a 35%, sendo que o peso
das tarifas no faturamento subiu para 18%, e os ganhos com
tesouraria, ao contrário, caíram
para 23% da receita total.
Nesse caso, os ganhos com a
prestação de serviços bancários
foram favorecidos, entre outros fatores, pelo aumento da
renda da população, o que estimula o crescimento de setores
como o de fundos de investimentos e de seguros.
Para o economista Reinaldo
Gonçalves, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a falta de regulamentação
do setor é um dos fatores que
ajuda a explicar os bons resultados que os bancos obtiveram
nos últimos anos. "Independente da conjuntura econômica, dos anos 90 para cá a participação deles [bancos] na economia vem crescendo. E quais
instrumentos para gerar tanto
lucro? A cobrança de juros e tarifas abusivas," afirma.
Gonçalves diz ainda que o poder político e econômico exercido pelos bancos impede que o
governo imponha regras mais
rígidas para o funcionamento
do setor. "Os bancos têm uma
grande influência nos partidos
[políticos], devido às contribuições de campanha, e sobre os
meios de comunicação, por
causa das verbas de publicidade. São o setor dominante da
economia brasileira", diz.
O economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira
dos Bancos), Nicola Tingas, rebate as críticas ao setor. "É injusto olhar especificamente para os lucros absolutos de um setor e dizer: "este é o grande ganhador". Não se está fazendo a
análise de modo adequado."
Em 2007, o Itaú, por exemplo, teve o maior lucro já registrado por uma instituição financeira no Brasil, com ganhos
de R$ 8,474 bilhões -valor
96,7% maior do que em 2006.
Levantamento feito pela Febraban aponta que, em 2006, a
rentabilidade dos bancos (relação entre lucro e patrimônio
das empresas) ficou, na média,
em 19,5%, a nona maior numa
lista de 28 setores analisados,
liderada pela indústria de mineração, com retorno de 38,2%.
"O setor bancário agrega muito
para a sociedade. Não sei que
tanto tem para reclamar.
Quando a economia cresce, todo mundo cresce," diz Tingas.
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