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Bancos têm 100 mil carros de inadimplente
Para evitar retomada, instituições financeiras estendem prazos e negociam perdão de parte de multa e juros atrasados
Maior volume de carros recuperados deve chegar a partir de março devido à demora no processo por tentativas de negociação
20.fev.09 - Fernando Donasci/ Folha Imagem
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Carros recuperados por inadimplência chegam ao pátio do leiloeiro Sodré Santoro, em Guarulhos
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os bancos brasileiros têm em
conjunto um estoque de pelo
menos 100 mil carros recuperados de clientes inadimplentes, o equivalente à metade das
vendas mensais de veículos novos no país, para desovar no
mercado de autos usados. Esse
estoque é mais um motivo de
pressão no segmento de usados, que vive queda sem precedente nos preços e cuja falta de
liquidez trava as ações para retomar a venda de carros novos.
Os principais bancos que financiam veículos relatam que o
volume de recuperação cresceu
de 20% a 30% no início do ano
em relação ao que acontecia até
setembro. Já leiloeiros e empresas terceirizadas de recuperação veem alta de até 50% no
número de veículos que costumava chegar aos pátios.
Segundo o Banco Central, o
sistema financeiro tinha uma
inadimplência média de 4,3%
em dezembro, o maior nível
desde 2002. Se todos esses carros voltassem ao mercado, somariam até R$ 3,506 bilhões
-o valor efetivamente recuperado, no entanto, é sempre menor do que a inadimplência total porque os bancos procuram
esgotar todas as possibilidades
de negociação (leia abaixo).
A retomada também não costuma cobrir o valor da dívida financiada devido à depreciação
e aos custos envolvidos na recuperação. Do dinheiro arrecadado em leilão, parte cobre a dívida em aberto no banco e o
restante volta ao cliente para
indenizar as prestações pagas,
como define o Código de Defesa do Consumidor.
No Bradesco, o volume financeiro de carros recuperados
triplicou no ano passado até dezembro -saltaram de R$ 76,1
milhões, no final de 2007, para
encerrar o ano em R$ 207,5 milhões. Só a recuperação de carros teve um impacto de R$
300,3 milhões na contabilidade
do banco, sendo R$ 92,892 milhões em provisão para perdas.
O Banco do Brasil teve recuperação de R$ 20,7 milhões no final de dezembro, ante R$ 584
mil no final de 2007.
O Santander/Real, cuja financeira Aymoré é uma das líderes no setor, não diferencia
as receitas provenientes de recuperação de veículos e imóveis (que têm a menor inadimplência do mercado), mas reporta um volume retomado de
R$ 277,7 milhões em dezembro
-no ano anterior estava em R$
192,8 milhões. Outro líder do
mercado, o Banco Votorantim,
não detalha em seu balanço o
crescimento da recuperação,
mas os executivos afirmam que
se trata de uma das menores do
mercado. Itaú e Unibanco ainda não divulgaram resultados.
Infraestrutura limitada
A retomada de carros pelos
bancos está tão alta que esbarra
inclusive na infraestrutura limitada de pátios, que se esgotaram em São Paulo e lotam áreas
no interior do Estado.
Apesar da preocupação crescente com a inadimplência, o
volume de carros retomados
representa pouco mais de 1%
dos 9 milhões de veículos alienados no país, segundo a Fenabrave (associação das concessionárias). Na conta dos bancos, de cada 4 financiamentos
inadimplentes, apenas 1 termina com a retomada.
Para o presidente da Fenabrave, Sergio Reze, a recuperação de veículos cresceu junto
com a inadimplência, mas encontra-se ainda em um patamar "absorvível" pelo mercado,
criando oportunidades para lojas de usados, empresas de recuperação, leiloeiros e administradores de pátios.
"Os 100 mil [veículos recuperados] estão dentro dos padrões normais. É um pouco
mais de 1% dos financiamentos. Se fosse uma coisa de outro
mundo, viraria um negócio para a gente [concessionárias]. Se
os leilões vendem, não há encalhe. O problema dos bancos
acaba virando um negócio para
terceiros", disse Reze.
Maior leiloeiro de veículos do
país, Luiz Fernando Sodré Santoro afirma que vendeu 5.300
carros em janeiro em seu pátio
em Guarulhos (Grande São
Paulo), 20% mais do que em janeiro do ano passado. "Em fevereiro, o movimento continua
firme. Quem compra um carro
no leilão costuma pagar, no mínimo, 30% menos", disse.
"Temos um aumento de mais
de 50% de veículos retomados
desde o final do ano", disse Mário Cássio Maurício, da CNVR
(Comercialização Nacional de
Veículos Reintegrados), que faz
a recuperação de carros.
O maior volume desses carros, no entanto, só deve chegar
aos pátios a partir de março, refletindo a inadimplência de janeiro. Isso porque a reintegração da posse de um veículo alienado pode demorar até três
meses, dependendo da disputa
judicial. "Infelizmente, quando
a inadimplência sobe, a atividade de cobrança aumenta, incluindo a recuperação. A inadimplência de 4,3% ainda é administrável. O que me preocupa é a curva [crescente]. Onde
ela vai parar?", disse Luiz Montenegro, presidente da Anef
(associação dos bancos das
montadoras).
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