UOL


São Paulo, terça-feira, 25 de março de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ECONOMIA BOMBARDEADA

Após euforia da semana passada, investidores acordam para o conflito; Bolsas têm fortes quedas

Agora mercado vê guerra difícil e desaba

Peter Morgan/Reuters
Operadores e analistas da Bolsa de Nova York, que reviram as estratégias após o revés no Iraque


DA REDAÇÃO

O mercado global tomou um choque de realidade, e a vitória aliada já não parece tão fácil na percepção dos investidores, que novamente fugiram do risco. As cotações do petróleo voltaram a subir, enquanto as Bolsas, que obtiveram altas recordes na semana passada, amargaram ontem as maiores quedas do ano.
"Na sexta-feira, todos falavam em uma rendição em massa, e o fim da guerra parecia ser questão de dias", disse Rory Robertson, estrategista da corretora de investimentos Macquarie Equities. "O tom agora já é menos otimista, dominado pelas baixas dos aliados e pala resistência iraquiana."
O índice Dow Jones da Bolsa de Nova York, que acumulou na semana passada sua maior alta desde 1982 (8,36%), caiu 3,61%. A Nasdaq, Bolsa de empresas tecnológicas, recuou 3,66%.
"As perspectivas da guerra estão ficando mais obscuras a cada hora, e, como resultado, as ações estão caindo", afirmou John Simon, analista da corretora TradeSignals.com.
O dólar, que vinha se recuperando diante do euro, voltou a perder valor. A procura por títulos do Tesouro norte-americano, considerados um investimento seguro (ainda que conservador) para épocas de crise, também passou por uma recuperação.

Barril de pólvora
Nos próximos dias, segundo os analistas, os investidores estarão reféns das notícias a respeito da campanha no Iraque. Até a sexta-feira, os soldados norte-americanos e britânicos praticamente não haviam encontrado resistência.
Num importante lance estratégico, os aliados chegaram a assumir o controle dos campos de petróleo no sul do Iraque, além dos portos que dão saída ao golfo Pérsico. Isso reduziu o temor de que o escoamento da produção do Oriente Médio pudesse ser afetado, com reflexo imediato nos mercados de petróleo.
As oscilações do produto estão intimamente ligadas ao humor das Bolsas de Valores. De acordo com uma análise publicada pelo jornal "The New York Times", boa parte da extraordinária alta nas ações na semana passada se deveu à brutal queda de 25% no preço do petróleo.
Óleo mais barato traz a perspectiva de crescimento econômico mais acelerado. Quando as cotações disparam, o consumo tende a cair, as empresas vêem seus custos saltarem e existe o risco de um repique inflacionário.
No final do mês passado, ainda em meio das especulações sobre se a guerra ocorreria ou não, a cotação do barril chegou a ficar perto de US$ 40 na Bolsa Mercantil de Nova York. Na sexta-feira, a cotação já estava abaixo de US$ 27 -um tombo de mais de 30% em relação ao pico atingido no mês passado.
Mas as más notícias no front militar deterioram o humor do mercado de petróleo, e o dia foi de fortes altas. Em Londres, a cotação subiu 7,15% (leia texto nesta página).
Colaborou para a alta as declarações de Saddam Hussein, transmitidas pela TV estatal do país, em que o presidente iraquiano promete um dura resistência aos aliados. Havia uma forte especulação, na semana passada, de que o ditador pudesse estar gravemente ferido ou até morto, e sua reaparição foi um balde de água fria na cabeça dos investidores.
"Acho que muitas pessoas imaginavam que tudo estaria resolvido até o domingo", disse Orrin Middleton, analista para o setor de energia do banco Barclays Capital, em Londres. "Todos estavam otimistas demais. Agora começaram a cobrir suas posições."

Europa no vermelho
Péssimo dia também para os mercados europeus. O índice FTSE Eurotop com as 300 principais empresas do continente perdeu 4,3%, o maior recuo em seis meses. Nos sete pregões anteriores, o índice acumulara uma recuperação de 19%, depois de ter caído ao nível mais baixo em seis anos nas vésperas da declaração de guerra.
Entre as principais Bolsas européias, a queda mais acentuada ocorreu em Frankfurt, cujo índice DAX mergulhou 6,14%. Paris não ficou muito atrás, com um tombo de 5,67%. Londres caiu 3,05%.
"Há ações com preço atraente no mercado, mas isso não vai adiantar nada se a situação no Iraque se complicar", disse Ian Richards, estrategista para mercados europeus da corretora ING.

Brasil
Apesar da tensão lá fora, o dólar caiu 0,14% no mercado brasileiro. O fluxo de recursos externos, o sucesso de mais um leilão cambial do Banco Central e os bons indicadores internos tiraram a pressão de alta que prevaleceu durante quase todo o dia, e a moeda ficou em R$ 3,40. Mas a Bovespa fechou em baixa de 2,85%,

Com agências internacionais


Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: Frase
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.