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PF investiga banco dos EUA por remessas
Inquérito apura a atuação do Merrill Lynch em caso que envolve a fabricante brasileira de motos e bicicletas Sundown
Instituição nega
envolvimento e afirma que
funcionário, monitorado
pela PF, atuava em empresa
não-financeira do grupo
Antônio Gaudério - 23.mar.06/Folha Imagem
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Fachada do prédio onde funciona o escritório do Merrill Lynch, na avenida Faria Lima, em SP |
MARIO CESAR CARVALHO
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
Numa investigação que tinha
como alvo lavagem de dinheiro
e sonegação de impostos de valores respeitáveis (R$ 150 milhões), a Polícia Federal deparou-se por acaso com o que o
delegado Wagner Mesquita de
Oliveira chama de "peixe grande": um funcionário da Merrill
Lynch em São Paulo tratava de
remessas de dólares para o exterior com doleiros.
Um inquérito instaurado pela PF em Curitiba vai apurar o
eventual envolvimento do banco nas remessas ilegais.
A Merrill Lynch é uma das
maiores corretoras e bancos de
investimento do mundo. A matriz americana administra ativos de US$ 1,6 trilhão em 37
países -o valor é maior do que
o PIB anual brasileiro, indicador que mostra a soma das riquezas produzidas no país. No
Brasil, o banco assessora empresas que vão lançar ações na
Bolsa e administra fortunas.
A Merrill Lynch informa que
o funcionário investigado pela
PF trabalhava numa empresa
não-financeira do grupo.
Não é a primeira vez que a PF
investiga bancos estrangeiros
sob a suspeita de remessas ilegais de dólares. No ano passado, a PF apreendeu computadores e documentos no escritório de "private banking" do
Credit Suisse em São Paulo.
Um executivo suíço do banco, o economista Peter Schaffener, chegou a ser preso no Aeroporto de Cumbica quando
tentava fugir do país. À época, o
Credit informou reiteradamente que o "private banking"
não tinha relações com o banco
de investimentos.
Conversa com doleiros
As conversas do funcionário
da Merrill Lynch com doleiros
foram captadas durante uma
investigação sobre a Sundown,
empresa que fabrica bicicletas
e motos, realizada entre 2005 e
o ano passado.
A PF tinha indícios de que os
donos do grupo Sundown sonegavam impostos (cerca de R$
150 milhões) e faziam remessas
ilegais de dólares (perícia da PF
contabilizou R$ 21,1 milhões).
Gravações de conversas telefônicas autorizadas pela Justiça
revelavam que os dois sócios da
Sundown (Rolando Rozenblum Elpern e Isidoro Rozenblum Trosman) planejavam
vender seus bens e fugir do
país. O plano, segundo a PF, envolvia o lançamento de ações
da Sundown na Bolsa -rebatizada como Brasil & Movimentos- e a venda de bens.
A Merrill Lynch cuidava da
venda de um desses bens, o
Shopping Mueller de Curitiba,
de acordo com o delegado Oliveira. O funcionário da Merrill
Lynch que cuidava da operação, Alessandre Caiado, narrou
em conversas telefônicas o pânico que tomou conta da empresa com a busca e a apreensão da PF no Credit Suisse.
A Merrill Lynch tem escritório no mesmo prédio do Credit
em São Paulo, na parte mais refinada da avenida Faria Lima. O
funcionário da Merrill que tinha suas conversas monitoradas pela PF trabalhava dois andares acima do Credit.
Policiais que ouviram as gravações contam que Caiado estava em pânico durante a operação da PF no Credit. O temor
que ele manifestava nos telefonemas era que a Merrill fosse o
próximo alvo dos policiais. Segundo relatos desse executivo,
instalou-se o pânico na Merrill
Lynch -discutia-se o que fazer
para se proteger.
De acordo com um policial
paulista que monitorou o executivo, Caiado fica revoltado ao
perceber que era o elo mais fraco da corrente. Diz que os donos da Sundown tinham milhões de dólares fora do Brasil,
que podiam fugir a qualquer
momento, enquanto executivos como ele e os do Credit
Suisse tinham se tornado "capacho de milionários".
Mal imaginava Caiado que
suas conversas já estavam sendo monitoradas pela PF -tanto
que foi detido em junho do ano
passado, três meses após a operação no Credit Suisse, e passou cinco dias na prisão.
A investigação sobre a Sundown acabou mal para seus
controladores. Em dezembro
do ano passado, Rolando foi
condenado pelo juiz Sérgio
Moro, da 2ª Vara Federal Criminal de Curitiba, a dez anos de
prisão. Isidoro, sócio de Rolando, pegou cinco anos. Ambos
foram soltos neste mês porque
têm problemas de saúde.
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