São Paulo, domingo, 25 de março de 2007

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PF investiga banco dos EUA por remessas

Inquérito apura a atuação do Merrill Lynch em caso que envolve a fabricante brasileira de motos e bicicletas Sundown

Instituição nega envolvimento e afirma que funcionário, monitorado pela PF, atuava em empresa não-financeira do grupo

Antônio Gaudério - 23.mar.06/Folha Imagem
Fachada do prédio onde funciona o escritório do Merrill Lynch, na avenida Faria Lima, em SP


MARIO CESAR CARVALHO
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

Numa investigação que tinha como alvo lavagem de dinheiro e sonegação de impostos de valores respeitáveis (R$ 150 milhões), a Polícia Federal deparou-se por acaso com o que o delegado Wagner Mesquita de Oliveira chama de "peixe grande": um funcionário da Merrill Lynch em São Paulo tratava de remessas de dólares para o exterior com doleiros.
Um inquérito instaurado pela PF em Curitiba vai apurar o eventual envolvimento do banco nas remessas ilegais.
A Merrill Lynch é uma das maiores corretoras e bancos de investimento do mundo. A matriz americana administra ativos de US$ 1,6 trilhão em 37 países -o valor é maior do que o PIB anual brasileiro, indicador que mostra a soma das riquezas produzidas no país. No Brasil, o banco assessora empresas que vão lançar ações na Bolsa e administra fortunas.
A Merrill Lynch informa que o funcionário investigado pela PF trabalhava numa empresa não-financeira do grupo.
Não é a primeira vez que a PF investiga bancos estrangeiros sob a suspeita de remessas ilegais de dólares. No ano passado, a PF apreendeu computadores e documentos no escritório de "private banking" do Credit Suisse em São Paulo.
Um executivo suíço do banco, o economista Peter Schaffener, chegou a ser preso no Aeroporto de Cumbica quando tentava fugir do país. À época, o Credit informou reiteradamente que o "private banking" não tinha relações com o banco de investimentos.

Conversa com doleiros
As conversas do funcionário da Merrill Lynch com doleiros foram captadas durante uma investigação sobre a Sundown, empresa que fabrica bicicletas e motos, realizada entre 2005 e o ano passado.
A PF tinha indícios de que os donos do grupo Sundown sonegavam impostos (cerca de R$ 150 milhões) e faziam remessas ilegais de dólares (perícia da PF contabilizou R$ 21,1 milhões). Gravações de conversas telefônicas autorizadas pela Justiça revelavam que os dois sócios da Sundown (Rolando Rozenblum Elpern e Isidoro Rozenblum Trosman) planejavam vender seus bens e fugir do país. O plano, segundo a PF, envolvia o lançamento de ações da Sundown na Bolsa -rebatizada como Brasil & Movimentos- e a venda de bens.
A Merrill Lynch cuidava da venda de um desses bens, o Shopping Mueller de Curitiba, de acordo com o delegado Oliveira. O funcionário da Merrill Lynch que cuidava da operação, Alessandre Caiado, narrou em conversas telefônicas o pânico que tomou conta da empresa com a busca e a apreensão da PF no Credit Suisse.
A Merrill Lynch tem escritório no mesmo prédio do Credit em São Paulo, na parte mais refinada da avenida Faria Lima. O funcionário da Merrill que tinha suas conversas monitoradas pela PF trabalhava dois andares acima do Credit.
Policiais que ouviram as gravações contam que Caiado estava em pânico durante a operação da PF no Credit. O temor que ele manifestava nos telefonemas era que a Merrill fosse o próximo alvo dos policiais. Segundo relatos desse executivo, instalou-se o pânico na Merrill Lynch -discutia-se o que fazer para se proteger.
De acordo com um policial paulista que monitorou o executivo, Caiado fica revoltado ao perceber que era o elo mais fraco da corrente. Diz que os donos da Sundown tinham milhões de dólares fora do Brasil, que podiam fugir a qualquer momento, enquanto executivos como ele e os do Credit Suisse tinham se tornado "capacho de milionários".
Mal imaginava Caiado que suas conversas já estavam sendo monitoradas pela PF -tanto que foi detido em junho do ano passado, três meses após a operação no Credit Suisse, e passou cinco dias na prisão.
A investigação sobre a Sundown acabou mal para seus controladores. Em dezembro do ano passado, Rolando foi condenado pelo juiz Sérgio Moro, da 2ª Vara Federal Criminal de Curitiba, a dez anos de prisão. Isidoro, sócio de Rolando, pegou cinco anos. Ambos foram soltos neste mês porque têm problemas de saúde.


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