São Paulo, domingo, 25 de março de 2007

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YOSHIAKI NAKANO

Maldição da abundância de recursos


Países ricos em recursos naturais têm desempenho, quanto ao crescimento, pior do que os pobres em recursos


PAÍSES RICOS em recursos naturais são vítimas de uma maldição? Numa série de trabalhos publicados entre 1995 e 2001, Sachs e Warner encontram evidências empíricas de que países ricos em recursos naturais, nos quais estes têm significativa participação nas exportações, têm desempenho, em termos de crescimento, pior do que países pobres em recursos naturais. Entre os países citados como ricos em recursos naturais e com desempenho econômico ruim, estão Congo, Nigéria, Venezuela, Bolívia, Serra Leoa etc. São citados como países pobres em recursos naturais, mas com bom desempenho econômico, o Japão e os Tigres Asiáticos.
E o Brasil, que é um país rico em recursos naturais, sofre dessa maldição? Com o rápido crescimento da China e da Índia, sua integração à economia global e a crescente demanda de petróleo, das commodities agrícolas e dos minérios, seus preços tiveram forte elevação e poderão persistir por muitos anos. Com a crescente demanda de energia limpa, por todos os países, a questão da maldição dos recursos naturais passou a merecer maior atenção dos estudiosos do crescimento econômico. Sachs e Warner previam que países com exportações dependentes de recursos naturais tendem a ter a taxa de câmbio apreciada, o que prejudica tanto o setor exportador não dependente de recursos naturais como a produção doméstica, que sofre a concorrência das importações com preços artificialmente baixos, afetando o crescimento e a geração de empregos.
Em estudo mais recente, Rabah Arezki e Frederick van der Ploeg ("Can Natural Resource Curse Be Turned Into a Blessing? The Role of Trade Policies and Institutions", IMF Working Paper 07/75, March 2007), em detalhado e meticuloso trabalho, apresentam novas evidências, mostrando que a dependência de recursos naturais tem efeito direto, negativo e significativo sobre o crescimento econômico. Além disso, a maldição de recursos tem efeitos indiretos sobre as instituições (efeitos voracidade e rapinagem, riscos de expropriação, corrupção, guerras, tolerância a políticas econômicas ruins, expansão do Estado clientelista e assistencialista etc.). Os efeitos negativos da abundância de recursos naturais são ampliados em economias mais fechadas. Apesar de instituições, maior abertura econômica e melhores políticas comerciais serem capazes de reduzir os efeitos negativos da abundância de recursos naturais, os autores não encontram evidências de que elas são capazes de revertê-los e convertê-los em benção.
Diante dessas evidências empíricas, o mau desempenho da economia brasileira ao longo das últimas duas décadas torna-se ainda mais preocupante. Não só a persistente apreciação da taxa real de câmbio mas também a dependência de recursos naturais nas nossas exportações, a desindustrialização precoce, acentuada ainda mais com a revisão do cálculo do PIB feita pelo IBGE, a crescente redução no valor adicionado da indústria nacional e a expansão, persistente, do consumo do governo, são sintomas preocupantes. Será que somos também vítimas da maldição da abundância de recursos naturais?


YOSHIAKI NAKANO , 62, diretor da Escola de Economia de São Paulo da FGV (Fundação Getulio Vargas), foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo no governo Mario Covas (1995-2001).


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