São Paulo, quarta-feira, 25 de março de 2009

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Entrada de dólares cairá 52%, afirma BC

Investimentos e empréstimos no exterior devem recuar em 2009; aplicações financeiras tendem a déficit

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O fluxo de capital estrangeiro para o Brasil deve cair pela metade neste ano devido ao agravamento da crise financeira internacional. Segundo projeção do Banco Central, o país deve receber US$ 39,4 bilhões em investimentos diretos, aplicações no mercado financeiro e empréstimos externos ao longo de 2009, ante US$ 82,9 bilhões observados em 2008.
A projeção divulgada ontem pelo BC é um pouco mais pessimista do que a anterior, feita há três meses, que previa um ingresso de US$ 53,5 bilhões. A revisão é reflexo dos números observados neste começo de ano, que mostram uma menor entrada de dólares no país.
Em janeiro e fevereiro, o Brasil recebeu US$ 3,9 bilhões em investimentos diretos, que são aqueles direcionados para o setor produtivo. No mesmo período do ano passado, o ingresso havia sido de US$ 5,7 bilhões -o recuo foi de 31,6%. Diante desse resultado, o BC reduziu de US$ 30 bilhões para US$ 25 bilhões sua estimativa para o total de investimentos a serem feitos no país neste ano.
No caso das aplicações em ações e títulos de renda fixa emitidos por empresas brasileiras, o saldo apurado nos primeiros dois meses do ano foi negativo em US$ 2,5 bilhões, o que significa que mais investidores venderam do que compraram ativos brasileiros.
Em janeiro e fevereiro do ano passado, esse saldo foi negativo em US$ 246 milhões, mas houve uma recuperação ao longo dos meses seguintes e 2008 fechou com resultado positivo de US$ 6,3 bilhões. Para o BC, porém, em 2009 a saída de investidores deve continuar, e o ano deve se encerrar com um saldo negativo de US$ 10 bilhões.
Por último, as captações de empréstimos no exterior também devem recuar, mas, apesar das restrições de crédito no mercado internacional, o BC estima queda menor. Governo e setor privado devem obter US$ 24,4 bilhões em financiamentos externos neste ano, ante US$ 31,6 bilhões em 2008.
Para o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, essa queda no fluxo de capital estrangeiro já era esperada devido à crise, mas não vai trazer preocupações porque deve ser acompanhada de um recuo no déficit nas contas externas do país. "Há uma dificuldade generalizada de financiamento [no mundo], mas o investimento direto, que é um fluxo de caráter mais permanente, continua vindo de maneira bastante razoável", diz.
Lopes atribui a redução nas projeções do BC a uma "atitude mais conservadora, devido aos efeitos da crise", e ressalta que o resultado pode acabar superando as novas estimativas.
Para o economista Luís Afonso Lima, presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica), a menor entrada de recursos externos no Brasil não chega a ser muito preocupante, mas deve ter seu preço. "Neste ano, o Brasil deve perder US$ 14,7 bilhões em reservas [em moeda estrangeira]."
Quando o fluxo de capital externo diminui, o BC pode colocar no mercado parte das reservas internacionais do país, que atualmente estão em US$ 191 bilhões. Em janeiro e fevereiro, foram gastos US$ 2,9 bilhões em intervenções no câmbio.


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