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Entrada de dólares cairá 52%, afirma BC
Investimentos e empréstimos no exterior devem recuar em 2009; aplicações financeiras tendem a déficit
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O fluxo de capital estrangeiro
para o Brasil deve cair pela metade neste ano devido ao agravamento da crise financeira internacional. Segundo projeção
do Banco Central, o país deve
receber US$ 39,4 bilhões em
investimentos diretos, aplicações no mercado financeiro e
empréstimos externos ao longo
de 2009, ante US$ 82,9 bilhões
observados em 2008.
A projeção divulgada ontem
pelo BC é um pouco mais pessimista do que a anterior, feita há
três meses, que previa um ingresso de US$ 53,5 bilhões. A
revisão é reflexo dos números
observados neste começo de
ano, que mostram uma menor
entrada de dólares no país.
Em janeiro e fevereiro, o Brasil recebeu US$ 3,9 bilhões em
investimentos diretos, que são
aqueles direcionados para o setor produtivo. No mesmo período do ano passado, o ingresso havia sido de US$ 5,7 bilhões
-o recuo foi de 31,6%. Diante
desse resultado, o BC reduziu
de US$ 30 bilhões para US$ 25
bilhões sua estimativa para o
total de investimentos a serem
feitos no país neste ano.
No caso das aplicações em
ações e títulos de renda fixa
emitidos por empresas brasileiras, o saldo apurado nos primeiros dois meses do ano foi
negativo em US$ 2,5 bilhões, o
que significa que mais investidores venderam do que compraram ativos brasileiros.
Em janeiro e fevereiro do ano
passado, esse saldo foi negativo
em US$ 246 milhões, mas houve uma recuperação ao longo
dos meses seguintes e 2008 fechou com resultado positivo de
US$ 6,3 bilhões. Para o BC, porém, em 2009 a saída de investidores deve continuar, e o ano
deve se encerrar com um saldo
negativo de US$ 10 bilhões.
Por último, as captações de
empréstimos no exterior também devem recuar, mas, apesar
das restrições de crédito no
mercado internacional, o BC
estima queda menor. Governo
e setor privado devem obter
US$ 24,4 bilhões em financiamentos externos neste ano, ante US$ 31,6 bilhões em 2008.
Para o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir
Lopes, essa queda no fluxo de
capital estrangeiro já era esperada devido à crise, mas não vai
trazer preocupações porque
deve ser acompanhada de um
recuo no déficit nas contas externas do país. "Há uma dificuldade generalizada de financiamento [no mundo], mas o investimento direto, que é um
fluxo de caráter mais permanente, continua vindo de maneira bastante razoável", diz.
Lopes atribui a redução nas
projeções do BC a uma "atitude
mais conservadora, devido aos
efeitos da crise", e ressalta que
o resultado pode acabar superando as novas estimativas.
Para o economista Luís
Afonso Lima, presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de
Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica), a menor entrada de
recursos externos no Brasil não
chega a ser muito preocupante,
mas deve ter seu preço. "Neste
ano, o Brasil deve perder US$
14,7 bilhões em reservas [em
moeda estrangeira]."
Quando o fluxo de capital externo diminui, o BC pode colocar no mercado parte das reservas internacionais do país, que
atualmente estão em US$ 191
bilhões. Em janeiro e fevereiro,
foram gastos US$ 2,9 bilhões
em intervenções no câmbio.
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