São Paulo, domingo, 25 de abril de 2004

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"PROJETO CARNAVAL"

Documentos apreendidos na Telefônica revelam estratégia das empresas para eliminar descontos

Teles querem Embratel para cobrar "pelo teto"

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

ELVIRA LOBATO
EM SÃO PAULO

A polícia apreendeu na mesa do vice-presidente da Telefônica, em São Paulo, documento interno que fala em alinhar "tarifas pelo teto" se a empresa comprar a Embratel junto com a Brasil Telecom e a Telemar. O texto aponta que o ganho seria resultado da "união das empresas". As três operadoras fixas disputam a compra da Embratel com a Telmex, maior empresa de telefonia do México.
A Telefônica prevê ganhar até R$ 750 milhões com a redução ou eliminação de descontos das tarifas da Embratel, principal concorrente das três teles. O maior ganho (R$ 283 milhões) viria do fim da guerra de preços no serviço 0800, que permitiria repassar a inflação acumulada para as tarifas. No mercado residencial, o "alinhamento" pelo teto renderia à Telefônica mais R$ 204 milhões.
As projeções de ganhos fazem parte de um relatório em espanhol sobre o "estágio de venda da Embratel", escrito em Madri. É datado de 10 de março de 2004.
Eduardo Navarro, vice-presidente de planejamento estratégico, alega que o documento não é um plano. "É o lixo do lixo do lixo", explica. Para ele, o texto "é estúpido" porque faz projeções com serviços de longa distância, que o consórcio terá de vender para evitar concentração de mercado. Questionado sobre as razões de não ter jogado no lixo tal "estupidez", ele conta: "Minha mesa é muito desorganizada. O policial disse à minha secretária que nunca tinha visto tanta bagunça".
Os documentos foram apreendidos em São Paulo no último dia 5. A busca foi autorizada pela Justiça como parte de um inquérito em que o empresário Armando Kilson Filho acusa a Telefônica de ter provocado a falência da Cobra SP, prestadora de serviços na área de telefonia. A polícia recolheu cerca de 80 kg de papéis nas salas do presidente e dos vice-presidentes de finanças e de planejamento estratégico da Telefônica.
A empresa tenta reaver na Justiça a papelada, alegando que foram apreendidos documentos pessoais, estratégicos e sigilosos. A polícia considera que há indícios de práticas criminosas nos papéis, entre os quais os de formação de cartel.
A compra da Embratel foi batizada, nos documentos, de "Projeto Carnaval", em alusão ao mês de formalização do consórcio.


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