São Paulo, domingo, 25 de abril de 2004

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SEM-TERRA

Com escassez de áreas cultiváveis e consumo crescente, asiáticos querem produzir sua soja em território brasileiro

China planeja compra de fazendas no Brasil

CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM

Com demanda crescente por soja e carência de terras agricultáveis, a China pretende estender sua produção ao Brasil, com a compra de terras para a plantação da commodity. Pelo menos uma grande estatal chinesa, a CGOG (China Grains & Oils Group), está em busca de um parceiro brasileiro disposto a desenvolver um projeto conjunto para produzir soja e exportá-la à China. Caso não encontre o sócio, é bastante provável que a empresa compre terras sozinha no Brasil.
A China é o maior importador de soja do mundo e adquiriu no ano passado US$ 4,2 bilhões do produto. O país asiático foi o terceiro maior destino das exportações brasileiras de agronegócios, com US$ 2,26 bilhões, sendo a maior parte soja e óleo de soja.
O secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Amauri Dimarzio, confirmou que os chineses têm interesse em realizar investimentos diretos no Brasil, associando-se, por exemplo, a empresários de agronegócios para a produção de alimentos.
O investimento no Brasil seria realizado por meio de uma das 18 subsidiárias da CGOG, a CGOG International Economic & Trading Co. Luan Yingjian, gerente da estatal responsável pela operação, diz que pretende estabelecer negociações diretas com três companhias brasileiras: Maggi, Caramuru e Coamo, todas grandes processadoras e exportadoras de soja. Outra possibilidade, segundo ele, é a associação com cooperativas de produtores.

Preço menor
O objetivo chinês é ter a garantia do fornecimento de soja a um preço mais competitivo que o atual. A exportação do produto brasileiro é controlada por quatro grandes tradings multinacionais do setor agrícola. "Os produtores brasileiros vendem a soja para grandes empresas americanas e, em muitos casos, elas revendem o produto para a China. É do interesse dos brasileiros negociar diretamente com a China", diz.
Na avaliação da CGOG, a produção de soja no Brasil terá o efeito de reduzir o preço de importação do produto. "Quanto mais envolvida a empresa estiver na cadeia produtiva, mais competitiva ela será, porque cortará custos de intermediação", diz Luan. Além de satisfazer o apetite chinês por soja, o investimento no Brasil ajudaria a CGOG a cumprir as diretrizes que o governo fixou para suas estatais: tornarem-se empresas competitivas, com ações no mercado e atuação internacional. Por isso, o sócio que a empresa procura no Brasil deve estar disposto a ser acionista minoritário da estatal na China.
O governo chinês vê a abertura de capital das empresas como caminho para forçá-las a adotar práticas de mercado e a serem transparentes, já que teoricamente terão de cumprir regras contábeis com padrão internacional.
Luan afirma que não há estimativa de quanto a empresa compraria de terras no Brasil nem do valor que investiria. "Começamos a desenvolver esse projeto em fevereiro, e tudo vai depender do parceiro que pretendemos encontrar. Mas posso dizer que a quantidade de terra será razoável, para justificar o investimento", afirma. Em junho, uma missão da estatal deverá visitar o país para conhecer de perto a produção local.
A CGOG é uma das três grandes estatais chinesas no setor agrícola e atua no comércio de produtos e na produção de óleo de soja, com fábricas próprias. A empresa tem capacidade para estocar 3 milhões de toneladas de grãos e registrou receita de vendas de US$ 1,3 bilhão no ano passado.
A garantia do suprimento de alimentos é considerada uma questão estratégica pela China, que concentra um quinto da população mundial, mas tem só 7% da terra agricultável do planeta.
Nesse sentido, o Brasil é visto como um parceiro estratégico. "O Brasil tem recursos naturais, muita terra não cultivada e clima favorável à soja", observa Luan.


Colaborou a Redação


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