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OPINIÃO ECONÔMICA
A segurança do trabalhador
RICARDO BERZOINI E ROSIVER PAVAN
Em todo o mundo, os acidentes e doenças do trabalho matam, por ano, cerca de 2 milhões
de trabalhadores, estima a OIT
(Organização Internacional do
Trabalho). As doenças relacionadas ao trabalho respondem por
1,6 milhão de mortes; os acidentes
de trabalho, por 360 mil mortes.
12.000 dos trabalhadores mortos
anualmente no mundo são crianças. O número de mortes causadas por acidentes e doenças relacionadas ao trabalho ultrapassa
aquele causado por epidemias como a Aids.
No Brasil, em 2003, foram registrados 390 mil casos de acidentes
e doenças relacionadas a trabalho,
com 2.582 mortes de trabalhadores. Esses dados, no entanto, são
parciais, visto que apenas as ocorrências envolvendo trabalhadores
do mercado formal de trabalho
são registradas para efeitos estatísticos.
Em 1995, no Canadá, por iniciativa de sindicatos, federações,
confederações locais e internacionais, como a CIOLS (Confederação Internacional das Organizações Sindicais Livres), foi proposta a instituição de uma data dedicada à reflexão sobre o problema.
A iniciativa canadense logo seria seguida por outros países e
também pelas principais organizações internacionais, como
ONU (Organização das Nações
Unidas), OIT e OMS (Organização Mundial da Saúde), que passaram a adotar, a partir de 2000, o
dia 28 de abril como Dia Mundial
para a Segurança e Saúde no Trabalho, uma data em homenagem
a homens, mulheres e crianças,
vítimas de acidentes e doenças do
trabalho, no mundo todo. O evento, no entanto, extrapola o caráter
comemorativo e mesmo reflexivo, acerca dos acidentes e doenças
no trabalho; representa também,
e principalmente, o compromisso
com ações pela melhoria constante dos ambientes de trabalho.
No caso do Brasil, país que já foi
considerado o campeão mundial
de acidentes e doenças no trabalho, o 28 de abril passou a representar um compromisso assumido pelo governo brasileiro, com a
qualidade de vida de seu trabalhador. Entre nós, o Dia Mundial para a Segurança e Saúde do Trabalho - Em Memória das Vítimas de
Acidentes e Doenças do Trabalho
foi assumido e celebrado pela primeira vez em 2003, no primeiro
ano do governo Lula, por iniciativa do Ministério do Trabalho e da
Fundacentro (Fundação Jorge
Duprat Figueiredo de Segurança e
Medicina do Trabalho). Em 2004,
a data foi marcada por atos públicos em São Paulo e em Brasília,
com a presença dos ministros do
Trabalho, Saúde e Previdência.
Neste ano, além da realização de
eventos em todo o país, envolvendo o Ministérios do Trabalho, a
Fundacentro, os ministérios da
Saúde , Previdência e Meio Ambiente, a data será marcada, também, pelo advento da PNSST (Política Nacional de Segurança e
Saúde do Trabalhador), cujo texto
já se encontra disponível nos sites
dos ministérios mencionados,
sob a forma de minuta para consulta pública.
Pela primeira vez, o trabalhador
e o empresariado brasileiro vão
contar com uma política pública
voltada para a prevenção de acidentes e doenças no trabalho, que
tanto prejuízo causam ao país, seja no aspecto social seja no econômico. Uma política que busca garantir que o trabalho, base da organização social e do direito humano, seja realizado em condições que contribuam para a melhoria da qualidade de vida e para
o desenvolvimento da nação, sem
comprometer a integridade física
e mental do trabalhador.
A PNSST assenta-se em diretrizes que definem responsabilidades institucionais, mecanismos
de financiamento, gestão, acompanhamento e controle social, alinhados com a realidade política,
social e econômica. Busca superar
a fragmentação e a desarticulação
tradicionalmente presentes nas
ações governamentais voltadas
para a área. Além de estar relacionada com as políticas dos ministérios do Trabalho, Saúde, Previdência e Meio Ambiente, apresenta interfaces com as políticas
econômicas dos ministérios da
Indústria e Comércio, Agricultura, Ciência e Tecnologia, Educação e Justiça, em perspectivas intersetorial e transversal, o que é
fundamental para sua efetiva implementação como uma política
global de governo.
Outro problema sério evolvendo a segurança e saúde do trabalhador, que é a questão da população trabalhadora abrangida pelas
ações governamentais na área,
também é atacado pela PNSST.
Hoje, apenas os segurados do
INSS, os trabalhadores com carteira assinada, são atendidos. A
PNSST considera em suas finalidades todos os homens e mulheres que exercem atividades para
sustento próprio e/ou de seus dependentes, qualquer que seja sua
inserção no mercado de trabalho,
no setor formal ou informal da
economia.
A exemplo de 2003, um marco
na história da segurança e saúde
do trabalhador no Brasil, representado pela primeira comemoração da data no país, 2005 também vai marcar a área de segurança e saúde no trabalho, com a implementação da Política Nacional
de Segurança e Saúde do Trabalhador, uma efetiva resposta do
governo brasileiro a um grande
problema da nação.
Ricardo Berzoini é ministro do Trabalho. Rosiver Pavan é presidenta da Fundacentro (Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do
Trabalho).
Hoje, excepcionalmente, a coluna de
Luiz Carlos Bresser-Pereira não é publicada.
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