São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BC já admite reajuste da gasolina neste ano

Copom vê pressões maiores sobre combustíveis, apesar de ainda considerar que manutenção de preços seja mais provável

Equipe econômica avalia que alta dos juros abriu espaço para reajuste da gasolina, conforme publicou a Folha ontem


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ritmo acelerado do crescimento da economia e as pressões sobre os preços de alimentos e combustíveis foram os principais motivos que, segundo o Banco Central, levaram à alta de 0,5 ponto percentual nos juros na semana passada. Analistas apostam em nova alta em junho, quando o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) volta a se reunir.
Ontem, foi divulgada a chamada ata do Copom, documento que sempre vem a público oito dias após os encontros do comitê. O texto mostra como o BC justifica a primeira alta de juros em três anos, ocorrida na semana passada, quando a Selic foi fixada em 11,75% ao ano.
Na ata, o BC diz ainda que considera que o mais provável é que o preço da gasolina e do gás de cozinha não sofra reajustes neste ano, mas já afirma que as pressões são cada vez mais fortes e uma elevação não pode ser completamente descartada.
Conforme a Folha publicou ontem, a avaliação na área econômica é que a alta dos juros abriu espaço para que o preço da gasolina -e especialmente do diesel- possa ser reajustado. Um reajuste agora teria seu impacto diluído no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) deste ano e reduziria pressões sobre a inflação do ano que vem.
Desde o começo do ano, o BC se diz preocupado com o ritmo de crescimento da economia, pois fatores como a expansão do crédito e o aumento da renda poderiam elevar o consumo a níveis excessivamente altos, que não poderiam ser atendidos por completo pela capacidade produtiva das empresas.
Além disso, ontem o BC acrescentou, sem falar em números, que sua estimativa para a inflação deste ano "sofreu forte elevação" desde o mês passado, ficando acima dos 4,5% previstos pela meta estabelecida pelo governo -que admite um desvio de até dois pontos percentuais para cima ou para baixo desse número. Para 2009, a alta projetada para o IPCA também está acima dessa meta.
Para Cassiana Fernandes, economista da Mauá Investimentos, a alta dos juros decidida na semana passada tem por objetivo evitar que alguns reajustes específicos contaminem outros preços, alimentando uma alta mais forte da inflação.
"A principal preocupação é ver qual será a reação da economia a um choque de oferta", afirma Fernandes, numa referência à recente alta nos preços dos alimentos -que ainda não dá sinais de ter se encerrado- e a um possível reajuste nos combustíveis devido à disparada das cotações do petróleo.
A mesma ressalva é feita pelo economista-chefe do Banco Votorantim, Leonardo Sapienza. "O cenário externo hoje é bastante nebuloso e aumenta os riscos sobre a inflação."
Fernandes diz que o risco, nesse cenário, é que uma economia muito aquecida facilite o repasse de reajustes na gasolina para outros preços -daí a iniciativa do BC em elevar os juros agora para evitar essa "contaminação".
Para a economista, é difícil prever com exatidão até quando vai durar o ciclo de alta dos juros iniciado na semana passada, mas um novo aumento de 0,5 ponto percentual na próxima reunião do Copom, em junho, é dado como certo e pode ser seguido de outra elevação de 0,5 ponto até o final do ano.
Já Sapienza diz que também espera alta de 0,5 ponto no próximo encontro do Copom, mas estima que a série de aumentos pode ser um pouco mais longa, com os juros chegando a 13,75% ao ano até dezembro.


Texto Anterior: Consumidor: Procon de MG proíbe vendas da Gradiente
Próximo Texto: Cenário futuro pior: Inflação e juro reduzem confiança do consumidor
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.