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Preços de imóveis disparam em São Paulo
Residências novas sobem até 40% em cinco anos; Jardins, Barra Funda e Butantã são os bairros com as maiores altas
Para especialistas da área, movimento não configura bolha porque está apoiado em aumento de renda da população e alta do crédito
DENYSE GODOY
MARIANA SALLOWICZ
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem procura imóvel residencial para comprar na cidade
de São Paulo está levando um
susto. Em cinco anos, os preços
de casas e apartamentos novos
subiram, em média, entre 30%
e 40% na capital paulista, ante
os 22% de inflação registrados
no período. No caso dos usados,
a elevação dos valores beira os
30% em um intervalo de três
anos, quando o IGP-M (Índice
Geral de Preços do Mercado),
calculado pela FGV (Fundação
Getulio Vargas), ficou em 16%.
Em 2005, o metro quadrado
de uma casa ou um apartamento de dois quartos recém-lançados no município valia cerca de
R$ 1.894, de acordo com dados
levantados exclusivamente para a Folha pela consultoria
Embraesp. Esse montante passou a R$ 2.706 em 2009. Assim,
um apartamento de 100 m2 em
tal segmento na cidade passou
de R$ 189,4 mil para R$ 270,6
mil no final desses cinco anos
-uma alta de 43%.
Entre os bairros que tiveram
as maiores valorizações na capital paulista, estão Jardins,
Barra Funda e Butantã, aponta
outro estudo elaborado pela
Inteligência de Mercado Lopes
e obtido pela Folha. Segundo a
pesquisa, o preço do metro
quadrado nos Jardins passou
de R$ 7.360 para R$ 9.980, entre os triênios 2004/2006 e
2007/2009, uma alta de 36%.
Na Barra Funda, o aumento foi
de 25%, e no Butantã, de 23%.
Para Cyro Naufel Filho, diretor de atendimento da Lopes,
um dos motivos para a aceleração foi o maior acesso da população ao crédito. "Com melhores condições de financiamento, queda de juros e mais bancos dispostos a emprestar
-por causa de mudanças que
trouxeram mais segurança jurídica a essas operações-, houve um aumento do número de
pessoas com poder de compra
e, consequentemente, impacto
sobre os preços."
Foram decisivos, nesse processo, a queda do desemprego
-de 18,7% da PEA (População
Economicamente Ativa) para
13,8% entre 2004 e 2009 em
São Paulo- e o aumento da
renda, de cerca de 25% entre
2004 e 2009, pelas contas do
Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
Ao mesmo tempo, com a
maior procura pelos imóveis,
as construtoras também aumentaram as buscas por terrenos na cidade. E, devido à legislação paulistana, em algumas
áreas o potencial de aproveitamento do espaço livre é diminuído. "Por isso, crescem as
ofertas de imóveis nas cidades
vizinhas", diz Luiz Paulo Pompéia, diretor da Embraesp.
Bolha?
O movimento do mercado já
fez com que tivesse início o debate sobre a existência de uma
possível "bolha imobiliária" no
Brasil, o que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, descartou na última semana.
Vitoria Saddi, professora de
economia do Insper, concorda
com ele. "O que está ocorrendo
com o setor imobiliário no Brasil é reflexo do aquecimento do
mercado doméstico, consequência do aumento do crédito
e do crescimento do país. Uma
bolha se justificaria apenas se
houvesse um aumento irracional do preço dos ativos."
Na sua opinião, outra evidência de que não há formação de
uma bolha é a queda da inadimplência. O índice do consumidor recuou 6,7% no primeiro
trimestre na comparação com
o mesmo período no ano passado, segundo a Serasa Experian.
A redução é a maior contabilizada nos três primeiros meses
do ano desde o início da série
histórica, em 2000.
"Nos Estados Unidos, antes
de estourar a bolha imobiliária,
aconteceu um aumento na inadimplência em 2006, sinalizando que os bancos deveriam parar de emprestar, o que foi ignorado pelas instituições", afirma a professora.
Expectativas
Segundo Naufel Filho, a tendência de alta poderá se intensificar nos próximos anos. "Os
custos para as construtoras estão subindo, principalmente
por causa dos terrenos, que estão cada vez mais escassos",
afirma, para em seguida sugerir
que quem está à procura de um
imóvel acelere a busca.
Na opinião de Pompéia, entretanto, a escalada dos preços
está chegando próximo ao seu
limite, ao menos no que diz respeito aos imóveis de dois dormitórios. "Os apartamentos estão ficando caros demais. E a lei
de mercado é essa: quando os
consumidores sinalizarem que
não dá para pagar, os valores
estacionarão", afirma.
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