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Dólar a R$ 2,40 já ameaça corte no juro
Moeda americana já subiu 16% desde o dia 10, com investidores estrangeiros desfazendo suas apostas no real forte
Valorização encarece produtos importados e pode pressionar a inflação, o que, para analistas, diminui a liberdade de ação do BC
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A escalada do dólar ontem
mostrou que a crise que assola
o mercado financeiro nas últimas duas semanas ainda não
acabou. O dólar subiu 4,71%,
maior alta diária desde setembro de 2002, e foi a R$ 2,40.
A moeda americana não valia
tanto diante do real desde agosto de 2005. Como o cenário
ainda carrega muitas dúvidas,
ninguém se arrisca a afirmar
até onde a cotação pode ir. Desde o dia 10, quando o humor do
mercado internacional começou a azedar, o dólar acumula
valorização de 16,45%.
Nesse cenário de incertezas
internas e externas, o câmbio é
quem mais tem sofrido pressão. Compra de dólares por
parte de estrangeiros que têm
vendido suas ações na Bolsa
tem tido peso importante na
depreciação do real nos últimos
dias. Junto a isso, investidores
estrangeiros têm enxugado
suas posições vendidas em dólar no mercado local e externo.
Por aqui, isso é verificado nos
números que mostram o tamanho da posição vendida em dólar dos estrangeiros na BM&F
(Bolsa de Mercadorias & Futuros). A diminuição dessa posição indica que os investidores
passaram a acreditar menos na
possibilidade de o real se valorizar. E vice-versa.
No começo de março, quando o real parecia não ter limites
para se valorizar diante do dólar, as posições vendidas líquidas dos estrangeiros alcançaram US$ 13,76 bilhões. Na última segunda-feira, com a mudança brusca nas expectativas,
essa cifra havia sido reduzida
para US$ 5,75 bilhões.
"No curto prazo, o dólar tem
tudo para testar um patamar
acima do de hoje [ontem]", diz
Adauto Lima, economista do
banco WestLB.
A grande preocupação do
mercado se relaciona às futuras
decisões do Fed (o banco central dos Estados Unidos). Analistas e investidores passaram a
considerar que são expressivas
as chances de o Fed seguir elevando os juros básicos americanos, que estão em 5% ao ano.
Ontem as operações no mercado internacional oscilaram
devido aos dados sobre moradia e bens duráveis divulgados
nos EUA, que não deram sinais
claros aos investidores sobre o
futuro dos juros no país.
Como a próxima reunião do
Fed só acontecerá daqui a um
mês, as próximas semanas tendem ainda a ser de grande volatilidade no mercado.
Os investidores estrangeiros
nos últimos dias estão se desfazendo de ativos -ações, moeda
e títulos da dívida- de emergentes para comprar papéis do
Tesouro dos EUA, que têm passado a pagar taxas mais elevadas, como reflexo da expectativa de alta dos juros básicos
americanos.
"O dólar a R$ 2,40 mostra desespero, um está indo atrás do
outro, correndo para comprar
moeda", afirma João Medeiros,
diretor de câmbio da corretora
Pionner.
A equipe econômica do governo previa que um processo
prolongado de alta dos juros
americanos poderia levar o dólar a uma cotação entre R$ 2,30
e R$ 2,40 -mas o teto dessa
projeção já foi atingido nos negócios de ontem.
Com o dólar nesse patamar,
analistas começaram a discutir
a hipótese de o Copom (Comitê
de Política Monetária do Banco
Central) decidir manter a taxa
básica inalterada, nos atuais
15,75%, em sua reunião na próxima semana. O dólar mais alto
encarece as importações, elevando preços no Brasil.
"O dólar nesse nível diminuiu o grau de liberdade do
Banco Central para definir a taxa básica", diz Lima.
"Os exportadores estão segurando seus dólares, atentos à
evolução do câmbio. Mas ainda
é cedo para afirmar se a moeda
vai seguir nesse nível", diz Mário Battistel, diretor de câmbio
da corretora Novação.
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