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OCDE teme excesso de gastos no Brasil
Organização de países ricos diz que esforços para controlar o aumento do gasto público no país permanecem tímidos
Entidade eleva estimativa de crescimento do Brasil deste ano para
4,4% e vê efeito "suave" de desaceleração dos EUA
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
Em meio a três páginas de
um relatório bastante otimista
sobre a economia brasileira, o
clube dos países ricos (a OCDE,
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) adverte, no entanto,
que o "mix" de política econômica "pode se tornar excessivamente expansivo". Traduzindo
do economês: relaxar no gasto
público "pode despertar a preocupação sobre a sustentabilidade no longo prazo".
A OCDE reúne os 30 países
mais ricos do mundo, mas o
Brasil, embora esteja entre
eles, não quis aderir até agora,
em parte porque os estatutos
do clube exigem obediência a
certos quesitos de política econômica, evidentemente os
mais ortodoxos.
Explica-se por aí a preocupação da OCDE, na medida em
que seu receituário -e não só
para o Brasil- pede o controle
do gasto público. No caso específico do Brasil, o "Panorama
Econômico 2007", ontem divulgado, diz que "os esforços
para controlar o aumento do
gasto permanecem tímidos".
O relatório, na parte relativa
ao Brasil, é basicamente uma
colagem dos dados oficiais já
divulgados. Aumenta, por
exemplo, a previsão de crescimento deste ano dos 3,8% imaginados em outubro para 4,4%,
em linha com os novos números do PIB (Produto Interno
Bruto) divulgados pelo IBGE.
Para 2008, a previsão é de 2,8%
(era 4% em outubro).
Mas as páginas sobre Brasil
não contêm nem uma linha sobre câmbio, exatamente o tema
que gera hoje as maiores polêmicas no país (e também na
França, em que o novo presidente, Nicolas Sarkozy, cobrou
do Banco Central Europeu o fato de o euro excessivamente
forte prejudicar a competitividade da economia francesa).
A Folha perguntou sobre a
omissão do câmbio, no conjunto do relatório e no capítulo sobre o Brasil, ao economista-chefe da instituição, Jean-Philippe Cotis. Ele preferiu não falar de Brasil, sob a alegação de
falta de dados detalhados, mas
sobre o euro e a perda de competitividade lembrou sutilmente que esta não é generalizada: "A Alemanha está exportando muitas manufaturas e,
portanto, não parece perturbada pela taxa de câmbio". Cotis
diz que o vigor da moeda se deve "à força da área econômica
do euro" [em relação aos EUA].
Hoje, 13 dos 27 países da União
Européia adotam a moeda.
Não dá, como é óbvio, para
aplicar idêntica explicação à
comparação Brasil x EUA.
Os EUA, aliás, são o único
dos 30 membros da OCDE sobre o qual pesam sombras.
Tantas que o relatório teme até
"suave estagflação", a temível
combinação entre inflação elevada e crescimento baixo.
O texto diz que "a desaceleração da economia norte-americana poderia se tornar mais
ampla", indo além do setor
imobiliário, em evidente queda. Mas a palavra estagflação,
que, em momentos econômicos anteriores, teve conotações
quase apocalípticas, agora parece exagerada: a previsão da
OCDE para os EUA é de crescimento de 2,1% neste ano, bem
abaixo dos 3,3% de 2006, mas
longe de uma brecada violenta.
Em 2008, a previsão é de
2,5%, perto da média geral dos
30 da OCDE (2,7%, igual à deste ano). Ainda que haja a "suave
estagflação", o efeito dela sobre
o resto do planeta também será
"suave", porque está havendo o
que eles chamam de "reequilíbrio" da economia global, assim descrito: "Um pouso suave
nos EUA, uma recuperação forte e sustentada na Europa, uma
sólida trajetória no Japão e a
permanência do crescimento
na China e na Índia".
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