São Paulo, sexta-feira, 25 de maio de 2007

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OCDE teme excesso de gastos no Brasil

Organização de países ricos diz que esforços para controlar o aumento do gasto público no país permanecem tímidos

Entidade eleva estimativa de crescimento do Brasil deste ano para 4,4% e vê efeito "suave" de desaceleração dos EUA


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Em meio a três páginas de um relatório bastante otimista sobre a economia brasileira, o clube dos países ricos (a OCDE, Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) adverte, no entanto, que o "mix" de política econômica "pode se tornar excessivamente expansivo". Traduzindo do economês: relaxar no gasto público "pode despertar a preocupação sobre a sustentabilidade no longo prazo".
A OCDE reúne os 30 países mais ricos do mundo, mas o Brasil, embora esteja entre eles, não quis aderir até agora, em parte porque os estatutos do clube exigem obediência a certos quesitos de política econômica, evidentemente os mais ortodoxos.
Explica-se por aí a preocupação da OCDE, na medida em que seu receituário -e não só para o Brasil- pede o controle do gasto público. No caso específico do Brasil, o "Panorama Econômico 2007", ontem divulgado, diz que "os esforços para controlar o aumento do gasto permanecem tímidos".
O relatório, na parte relativa ao Brasil, é basicamente uma colagem dos dados oficiais já divulgados. Aumenta, por exemplo, a previsão de crescimento deste ano dos 3,8% imaginados em outubro para 4,4%, em linha com os novos números do PIB (Produto Interno Bruto) divulgados pelo IBGE. Para 2008, a previsão é de 2,8% (era 4% em outubro).
Mas as páginas sobre Brasil não contêm nem uma linha sobre câmbio, exatamente o tema que gera hoje as maiores polêmicas no país (e também na França, em que o novo presidente, Nicolas Sarkozy, cobrou do Banco Central Europeu o fato de o euro excessivamente forte prejudicar a competitividade da economia francesa).
A Folha perguntou sobre a omissão do câmbio, no conjunto do relatório e no capítulo sobre o Brasil, ao economista-chefe da instituição, Jean-Philippe Cotis. Ele preferiu não falar de Brasil, sob a alegação de falta de dados detalhados, mas sobre o euro e a perda de competitividade lembrou sutilmente que esta não é generalizada: "A Alemanha está exportando muitas manufaturas e, portanto, não parece perturbada pela taxa de câmbio". Cotis diz que o vigor da moeda se deve "à força da área econômica do euro" [em relação aos EUA]. Hoje, 13 dos 27 países da União Européia adotam a moeda.
Não dá, como é óbvio, para aplicar idêntica explicação à comparação Brasil x EUA.
Os EUA, aliás, são o único dos 30 membros da OCDE sobre o qual pesam sombras. Tantas que o relatório teme até "suave estagflação", a temível combinação entre inflação elevada e crescimento baixo.
O texto diz que "a desaceleração da economia norte-americana poderia se tornar mais ampla", indo além do setor imobiliário, em evidente queda. Mas a palavra estagflação, que, em momentos econômicos anteriores, teve conotações quase apocalípticas, agora parece exagerada: a previsão da OCDE para os EUA é de crescimento de 2,1% neste ano, bem abaixo dos 3,3% de 2006, mas longe de uma brecada violenta.
Em 2008, a previsão é de 2,5%, perto da média geral dos 30 da OCDE (2,7%, igual à deste ano). Ainda que haja a "suave estagflação", o efeito dela sobre o resto do planeta também será "suave", porque está havendo o que eles chamam de "reequilíbrio" da economia global, assim descrito: "Um pouso suave nos EUA, uma recuperação forte e sustentada na Europa, uma sólida trajetória no Japão e a permanência do crescimento na China e na Índia".


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