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Empresários querem mais transparência na verba do Sistema S
Representantes de diversos setores da indústria afirmam que gestão de recursos não deve ser repassada ao governo
Ministério da Educação quer
que entidades que oferecem
mais cursos gratuitos e têm
mais alunos matriculados
recebam mais dinheiro
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Representantes dos setores
automobilístico, eletroeletrônico, plástico, brinquedos e de
máquinas afirmam que falta
transparência na prestação de
contas do Sistema S, mas não
querem que o governo tenha o
controle do dinheiro arrecadado nem determine como os recursos devem ser usados.
O governo federal quer discutir mudanças no Sistema S, o
que causou polêmica no setor
empresarial. Uma das propostas é que os recursos destinados à educação profissional só
sejam repassados às entidades
do Sistema S -como Senai (ligado à indústria), Senac (comércio) e Senar (agricultura)-
que oferecem cursos gratuitos.
O dinheiro descontado de
forma compulsória da folha de
pagamento das empresas -arrecadado pela Receita Federal
e repassado para a Previdência- segue integralmente às
entidades que formam o Sistema S independentemente da
oferta de cursos gratuitos.
Desde a criação do Sistema S,
na década de 1940, o Estado
que arrecada mais de empresas
instaladas em seu território recebe mais recursos.
A proposta do Ministério da
Educação é que a distribuição
do dinheiro leve em conta o desempenho de cada entidade:
quem oferece mais cursos gratuitos e tem mais alunos matriculados deve receber mais.
Carlos Pastoriza, secretário-geral da Abimaq (indústrias de
máquinas), diz que a gestão do
Sistema S tem de ser feita pelos
empresários. "O governo querer administrar os recursos é
uma proposta risível. Basta
olhar para o caos, a desorganização e a qualidade do ensino
público oferecido", afirma.
Para ele, a falta de transparência deixa o sistema vulnerável. "É preciso, por exemplo, rediscutir taxas de administração
que algumas federações e confederações recebem para gerir
as entidades que formam o sistema. Em alguns casos, chegam
a centenas de milhões [de reais]
por ano. Como a receita é garantida, as entidades se acomodam porque sabem que esse dinheiro vai entrar no caixa."
Humberto Barbato, presidente da Abinee e conselheiro
do Senai São Paulo, é contrário
à mudança proposta pelo governo. "Quem sabe o tipo de
formação profissional que a indústria precisa é a indústria,
não o governo. Quem deve gerir
o sistema são os empresários.
Se há dúvidas sobre o uso dos
recursos, vamos discutir e melhorar a transparência, o que
não significa transferir para o
governo a sua gestão."
A proposta do governo "faz
sentido", diz Synésio Batista da
Costa, presidente da Abrinq,
associação dos fabricantes de
brinquedos. "As entidades empresariais que não usam o dinheiro do Sistema S para se
sustentar estão dispostas a discutir [mudanças]. Mas o quanto vai sair do sistema [para a
educação] é um debate que terá
de ser feito politicamente."
Para Jackson Schneider, presidente da Anfavea (veículos), o
sistema pode ser aprimorado, e
seus pontos positivos, preservados. "O melhor seria a construção de um diálogo que aprimorasse o que há de positivo no
sistema no campo educacional.
A indústria automobilística usa
o Sesi e o Senai para treinar e
qualificar mão-de-obra."
Joseph Couri, presidente do
Simpi (sindicato das micro e
pequenas indústrias), diz que o
assunto é polêmico. "O Sistema
S presta bons serviços, mas peca pela falta de transparência.
Quantos recursos vão para onde e para quê? O Tribunal de
Contas da União tem feito ressalvas quanto à prestação de
contas das entidades e por que
tudo isso não vem a público?"
Merheg Cachum, presidente
da Abiplast (indústria plástica),
diz que o Sistema S tem um modelo bem-sucedido e não deve
ser modificado. "Por que mexer
em algo que oferece um resultado maravilhoso? O nível de
ensino das escolas do Senai é
referência mundial, enquanto
as escolas do governo têm péssima qualidade. O Sistema S
aplica bem o dinheiro, com
transparência. Provavelmente,
quem quer mexer no sistema
tem interesse político."
De acordo com a Confederação Nacional da Indústria, o
Sistema S é bem-sucedido porque os cursos oferecidos atendem às demandas do setor produtivo, e não a políticas públicas de educação.
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