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São Paulo, quarta-feira, 25 de junho de 2003

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VIZINHO EM CRISE

Diretor do FMI, em visita ao país, afirma que será fechado um acordo de médio prazo, mas cobra reformas

Köhler confirma dinheiro novo à Argentina

Eduardo Di Baia/Associated Press
Protesto em Buenos Aires contra a visita do diretor do Fundo


ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES

O FMI (Fundo Monetário Internacional) vai fechar um acordo de médio prazo -três anos, nos cálculos da instituição- com a Argentina. A notícia foi confirmada ontem pelo diretor-gerente do Fundo, Horst Köhler, após uma visita de dois dias a Buenos Aires, e significa liberação de dinheiro novo ao país.
Os detalhes da negociação -como meta de superávit primário, que hoje é de 2,5% do PIB (Produto Interno Bruto)- só serão discutidos na próxima semana, quando chega à Argentina uma missão do Fundo para fazer a terceira revisão do acordo provisória assinado em janeiro. "A parte técnica fica com os técnicos", disse um assessor do FMI.
A carta de intenções firmada em janeiro vence em agosto e permitiu prorrogar o pagamento de uma dívida de US$ 3,1 bilhões da Argentina com o Fundo. A segunda revisão desse acordo foi concluída na última sexta-feira, com um mês de atraso, e permitiu a liberação de US$ 320 milhões em recursos que serão utilizados para a rolagem da dívida argentina com organizações multilaterais de crédito, como o Bird (Banco Mundial), o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e o próprio FMI.
O anúncio do novo financiamento mostra que o Fundo e o governo argentino tiveram de chegar a um consenso. A intenção do ministro da Economia, Roberto Lavagna, era renovar a atual carta de intenções e fechar um acordo de longo prazo, como pleiteava inicialmente o FMI, só em 2004. "Pensamos em um programa de três anos. Não queremos um programa de curto prazo nem renovar o programa de transição", afirmou Köhler.
O diretor do Fundo elogiou a agenda de governo Kirchner, mas não deixou de cobrar reformas consideradas essenciais, como a tributária.

Regra do jogo
Segundo ele, há três pontos fundamentais em que a Argentina precisa avançar para entrar na "regra do jogo" do FMI: 1) recuperar a confiança; 2) definir estratégias para melhorar a relação com investidores; e 3) promover uma reforma jurídica que dê segurança aos investidores estrangeiros. A falta de segurança jurídica, inclusive, tem sido alvo de críticas de empresários brasileiros que atuam no país.
Köhler disse ainda que o FMI irá apoiar a Argentina "em tudo o que for possível", mas não interferirá na reestruturação da dívida que está em moratória e nas mãos de investidores privados.
"Esse é um problema que o governo argentino terá de resolver diretamente com os credores." O ministro Lavagna voltou a confirmar que a proposta de renegociação da dívida será lançada no final de setembro.

Mea-culpa
Köhler também disse que não pode ser colocado no mesmo "patamar" de funcionários do Fundo que sempre foram excessivamente exigentes com o país, referência indireta à vice-diretora, Anne Krueger. A resposta foi ao questionamento sobre por que o FMI negou ajuda quando a Argentina mais precisava.
"Não vou fazer mea-culpa. O que posso dizer é que o FMI teve razões concretas para tomar as decisões que tomou. Não podemos negar que existem problemas medulares na Argentina. Agora, temos que analisar e ajudar a resolver esses problemas", afirmou.


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