São Paulo, quarta-feira, 25 de junho de 2008

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Infra-estrutura avança pouco, diz indústria

Mesmo com o PAC, aplicações ficam abaixo do necessário para que não se comprometa o crescimento, afirma estudo

Levantamento estima em R$ 108,4 bilhões por ano investimento necessário; neste ano, devem ser aplicados R$ 86,6 bilhões


AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), principal projeto do segundo mandato do governo Lula, foi insuficiente até agora para elevar os investimentos em infra-estrutura ao patamar exigido pelo país. Levantamento da Abdib (Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base) revela que o país precisa receber R$ 108,4 bilhões por ano. Só assim, os sistemas de transporte, energia, saneamento e telecomunicações não se tornarão obstáculos ao crescimento econômico. O país não tem conseguido cumprir a meta.
O estudo "Necessidade e Realidade de Investimentos em Infra-Estrutura" divulgado ontem pela direção da Abdib, em São Paulo, mostra que em 2007 a alocação de capital para financiar projetos de infra-estrutura alcançou 77,6%, ou R$ 84,1 bilhões. A previsão para 2008, segundo estimativas da associação, é que seja possível elevar um pouco esse porcentual: a 79,8% -R$ 86,6 bilhões. Os números são ainda piores caso sejam excluídos os setores de petróleo e gás (dominados por investimentos da Petrobrás -92,4% do total para o segmento) e o de telecomunicações (o único a ser integralmente financiado por recursos privados). As indústrias do petróleo e de telecom são as únicas a se aproximar dos volumes de investimentos considerados adequados pela Abdib.
A associação fez as contas e descobriu que, excluídos os dois setores, o investimento em 2007 foi de apenas R$ 33,2 bilhões, ou 64,2% da necessidade em setores como o de transporte, energia elétrica e saneamento -esse, o pior de todos, com cobertura de apenas 42,8% da necessidade anual de investimento, estimada em R$ 10,5 bilhões. Para 2008, a situação não é melhor, avalia a associação.
Os três setores da infra-estrutura devem, calcula a Abdib, receber R$ 34,4 bilhões, aporte que contempla apenas 64,2% da necessidade do país. A associação lembra que, tomado o atual ritmo de crescimento da economia, essa é uma conta cumulativa. O investimento não realizado no ano se soma à necessidade do ano seguinte, situação que amplia o esforço para alocar capital em infra-estrutura. A Abdib diz que, ao não atender à necessidade de investimento, o Brasil mantém gargalos que seguram o país.

Vácuos
Vácuos de regulação em alguns setores como saneamento, gás natural, portos e aeroportos ainda contribuem para inibir investimentos, principalmente do setor privado. Além disso, a burocracia do Estado brasileiro ainda torna a execução do PAC mais lenta e mantém o descompasso entre a necessidade de investimentos em infra-estrutura e o ritmo com que os projetos saem do papel.
"É menor a velocidade da gestão do orçamento público e esse é o grande entrave para a implantação do Programa de Aceleração do Crescimento. É fundamental revisitar o sistema burocrático do Estado e criar um novo modelo de gestão", afirma Paulo Godoy, presidente da Abdib. Embora o PAC organize as prioridades de investimento em todo o país, a execução enfrenta um rito lento no setor público.
Acelerar o PAC é uma das medidas mais importantes para fazer com que o Brasil cumpra a cifra de R$ 1,08 trilhão de investimentos em dez anos.
Embora o setor público possa ter performance melhor na execução de projetos de infra-estrutura, os governos foram responsáveis pela maior parte do investimento em infra-estrutura no período de 2003 a 2007. Entre recursos orçamentários e de estatais, a Abdib aponta que a esfera pública bancou 56,5% do investimento nos últimos cinco anos.
O setor privado atendeu a demanda brasileira por infra-estrutura com participação de 43,5% do total de R$ 338,3 bilhões, de acordo com os cálculos da associação.


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