São Paulo, quarta-feira, 25 de junho de 2008

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Inadimplência avança e tem o maior nível em 15 meses

BC diz que dado não preocupa, mas economistas projetam aumento maior no 2º semestre

Apesar de recuo em maio, taxas de juros médias cobradas das pessoas físicas já voltaram a subir neste mês, aponta o Banco Central


JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A taxa de inadimplência do crédito das pessoas físicas subiu ligeiramente em maio, para 7,3%, o maior nível desde fevereiro do ano passado. Foi o segundo mês seguido de alta. Em abril, a inadimplência -dívidas vencidas há mais de 90 dias- foi de 7,1% e, em março, de 6,9%. As dívidas vencidas há menos de 90 dias são classificadas pelo BC como "atrasos".
O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, classificou como "muito pequena" a alta da inadimplência nos últimos dois meses. Ele disse que esse resultado não preocupa o BC. "Houve uma pequena elevação da inadimplência nos últimos dois meses. Temos que observar um pouco mais para ver se é uma tendência", disse Lopes.
Philip Wagner, economista do Unibanco, acredita que a inadimplência vai crescer mais no segundo semestre. Ele calcula aumento para 7,6% até o final do ano. Ele faz a projeção comparando a taxa de crescimento do crédito de pessoas físicas com o aumento do rendimento da população, calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
"Quando o crédito se acelera muito mais rápido que a renda da população, é sinal de que a inadimplência vai subir alguns meses à frente. Leva até nove meses para isso surgir nas estatísticas do BC", diz Wagner.
Nos 12 meses encerrados em maio, o crescimento do volume de crédito da pessoa física foi de 32,1%. A renda nominal da população cresceu 8,4% nos 12 meses encerrados em abril. O IBGE ainda não divulgou os dados de maio. "A diferença é muito grande entre o aumento do crédito e da renda. Mas não é de todo uma má notícia. Quando a inadimplência dá sinais de alta, os bancos restringem um pouco a oferta. É uma forma de controlar o crescimento."

Juros médios
Apesar do aumento dos juros básicos, a taxa média cobrada nos financiamentos cresceu apenas 0,1 ponto, para 37,6%. A taxa para pessoas físicas caiu de 47,7% para 47,4% ao ano. Os juros cobrados de empresas subiram de 26,3% para 26,9% ao ano. Essa alta reflete, principalmente, o aumento da Selic.
Altamir Lopes, do BC, acredita que o aumento da Selic não se reflete na média dos juros para pessoa física porque em maio foi extinta a TAC (Tarifa de Abertura de Crédito), o que reduziu os custos do financiamento e o "spread" bancário, que é a diferença entre a taxa de captação dos bancos no mercado financeiro e os juros cobrados do consumidor.
De acordo com Lopes, a TAC representava um custo médio de dois pontos percentuais nos financiamentos. Com o fim da cobrança, o custo do crédito diminuiu, reduzindo o "spread" bancário das pessoas físicas para 33,5% em maio, contra 34,6% em abril.
Em junho, os juros médios para pessoas físicas voltaram a subir, segundo Lopes. Os números apurados até o dia 12 mostram aumento de 0,9% na taxa média de juros para pessoas físicas. O "spread" para o segmento registra alta de 0,6% neste período.

Cheque especial
Em maio, houve alta das taxas cobradas pelo uso do cheque especial, de 4,4%. As pessoas que entraram no vermelho no mês passado pagaram juros médios de 157,1% ao ano, contra 152,7% no mês anterior. O "spread" do cheque especial também subiu no período, de 141,8% para 145,8%.
"As taxas do cheque especial são muito elevadas, são proibitivas. As pessoas só devem recorrer em última instância", sugere Lopes.
Os juros cobrados pelo financiamento de veículo e aquisição de outros bens, como eletrodomésticos, também subiram no mês passado, em 0,8 ponto e 1,7 ponto, respectivamente. A queda da taxa de pessoas físicas apareceu no crédito pessoal, de 67,7% para 63%, excluindo-se o crédito consignado.


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