São Paulo, quarta-feira, 25 de junho de 2008

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Aumento no preço da carne bovina preocupa o governo

Reinhold Stephanes, da Agricultura, diz que o país precisa ter cuidado com a alta

Preço baixo nos últimos anos levou a grande abate de fêmeas e à redução na oferta de bezerros; agora, faltam bois para o abate


MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

A forte alta nos preços da carne bovina já começa a preocupar o governo. Essa elevação, além de ter impacto interno, afeta o mercado de países importadores, "que já estão perguntando por que a carne sobe tanto". A afirmação é do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes.
Entre os países que já começam a sentir os efeitos dessa alta, estão Irã e Argélia, que podem reduzir o consumo interno. "Temos de ter um certo cuidado [com essa evolução dos preços]", afirmou o ministro.
Os preços baixos da arroba de boi nos últimos anos provocaram o abate de fêmeas em ritmo acima do normal. Com isso, houve redução na oferta de bezerros e, conseqüentemente, de bois prontos para o abate. A redução da oferta de animais prontos para o abate vem pressionando os preços, que já chegaram a R$ 96 por arroba, conforme mostrou ontem a Folha.
Ontem, o mercado fechou em baixa. A arroba recuou para R$ 94. Essa queda já se deve às dificuldades de repasse, ao varejo, das recentes altas de preços, diz o Instituto FNP.
Diante da demanda mundial forte pela carne e o constante aumento interno de preços, Stephanes diz que o país deve ir devagar, inclusive com a retomada das vendas para a União Européia. "Se nós efetivamente voltarmos a exportar no mesmo volume anterior para a União Européia, não vamos ter bois suficientes e o preço vai ainda mais para cima."
As manifestações do ministro ocorreram ontem, em São Paulo, no seminário Perspectivas para o Agribusiness em 2008 e 2009, patrocinado pelo Ministério da Agricultura e pela BM&F Bovespa.

Preço bom, custo alto
O encontro mostrou, ainda, que o setor agrícola pode ter um novo calcanhar-de-aquiles daqui para a frente. Enquanto os ministros anteriores -Roberto Rodrigues e Luís Carlos Guedes Pinto- administraram uma agricultura endividada e sob os efeitos de preços baixos e de câmbio desencontrado entre plantio e colheita, Stephanes terá à frente uma agricultura dominada por preços bons para o produtor, mas com custos bastante elevados.
Esses custos podem fazer com que os produtores percam rentabilidade, apesar dos preços altos. "Isso ainda não está ocorrendo, mas estamos atentos aos custos", diz o ministro.
E o principal custo neste momento é o dos adubos e fertilizantes, "setor que parou de ser apenas preocupação do ministério, mas também do governo", diz ele. O ministro diz que está sendo feito um convite para empresas nacionais e cooperativas entrarem na produção de fertilizantes para diminuir a dependência nacional das importações.
Com o novo plano de safra, a ser divulgado no início de julho, o governo espera que as medidas favoreçam o aumento da área cultivada de 3 milhões a 5 milhões de hectares.
Entre as medidas, está a redução dos juros para apenas 5,75% nos investimentos em áreas degradadas. Essa contribuição virá do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), "que vai colocar, inicialmente, R$ 1 bilhão para recuperação de áreas degradadas a juros que possivelmente serão negativos", afirmou Stephanes. Os pequenos produtores também terão juros diferenciados, de 2%, segundo o ministro.


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